segunda-feira, 25 de julho de 2016

A LUZ DOS XAMÃS

“Estar em paz, sabendo 'quem você é', certamente é uma grande conquista. Entretanto, busque também outro tesouro: estar em paz, reconhecendo 'quem você não é'...” 
(Xamã Sherotáia Kê Takoshemí )



Imagine a sua vida como um rio de sedutoras margens. Ambas são formadas por um terreno fértil para a criação da realidade com que você sonha. Em uma das margens, a resposta às suas expectativas depende, em grande parte, das suas próprias escolhas e movimentos.

Na outra, entretanto, a resposta depende, principalmente, das escolhas e movimentos de outras pessoas. Em que margem você construiria a sua realidade, cultivaria as suas inevitáveis e quase sempre perigosas expectativas? Talvez eu saiba a sua resposta, mas gostaria que você soubesse a minha: penso que você deva colocar as suas perspectivas em circunstâncias que dependam, predominantemente, de você e de suas próprias iniciativas.

Se você não fizer isso, possivelmente frustrará as suas expectativas porque os movimentos fugirão ao seu controle e ainda subordinará a concepção da sua realidade, portanto, a qualidade da sua experiência, a pessoas que não pensam como você pensa, não sentem as coisas como você sente e não agem como você age. Exerça o irrenunciável poder sobre a sua vida.

Não prive o seu sonho da liberdade da realização. Não se baste com a imaginação. A experiência de viver acontece quando o seu sonho transborda para a realidade factual, para a vivência compartilhada. Liberte o seu sonho dos limites e dos ímpetos da fantasia, para que ele possa moldar circunstâncias, conhecer outros sonhos e sonhadores. Ele será parte da realidade de todos. É nessa teia de interdependentes e complementares sonhos e realidades, que você e todos vivem as experiências individuais e coletivas, vivem as íntimas e explícitas jornadas dos sonhos imaginados e despertos. O sonho nasce dentro de você, mas precisa viver fora de você, na vida. A vida ama o seu sonho...

A medida que eu me aproximava, incomuns sensações me cercavam. Desta vez, eu teria que enfrentar o fato de que a realidade de um acalentado sonho finalmente se plasmava à minha frente. Isso me inquietava. Preservar o sonho era manter uma carinhosa companhia que me permitia criar e desfrutar de desejáveis circunstâncias. Eram mágicas abstrações e na sua confortável irrealidade eu flutuava. Viver com os fatos que o sonho projetava me parecia abrir uma cena desconhecida, embora ensaiada. Ainda tenho a chance de dar as costas para o sonho prestes a acordar, dele desistir e retornar ao início do caminho, para longe da sua realização; mas isso seria admitir o medo do vazio que sucede o fim de uma ilusão. Lá estava eu então diante daquela iminente realidade. Ainda que ela se mostrasse bela e acolhedora, parecia ignorar as minhas fantasias e a minha ousada imaginação, sugeria não ter o original sabor que eu inventei. Isso era inevitável, eu sabia... Sonhos transformados em realidade têm o acridoce sabor da verdade...

A vida me acenava sorrindo e eu fingia não perceber. Não correspondia ao sorriso. Eu a percebia como uma subjetiva realidade, dentro da qual as coisas simplesmente aconteciam. Tinha uma resignada visão. Insistia na noção de que a vida era uma estática realidade na qual eu não podia intervir. Só os deuses... Cresci... Hoje, consigo perceber a vida como um mágico e dinâmico ambiente que me anima a imaginar, projetar circunstâncias e a chamá-las de sonhos, que me estimula a acessar, moldar essas circunstâncias e a chamá-las de realidades. Hoje, sinto-me um daqueles deuses que eu acreditava serem os verdadeiros artesãos da vida. Reconheço um deus a pulsar em mim, a criar realidades, a criar um ilimitado universo em meu peito, um universo que me inspira na maior de todas as jornadas: viver...

Dei alguns passos. Olhei para trás. Queria a certeza de que em seu rosto ainda permanecia aquele sereno semblante. Não desejava que ele desse lugar à tristeza. Despedidas fazem isso. Tranquilizei-me. Nada havia mudado em seu rosto. Retomei o meu caminho. Sabia das dificuldades para atravessar aquele desafiador lugar, inclusive interno, que escolhi. Pensei no sereno semblante que deixei. Eu amei? Talvez não o suficiente para fazer sorrir aquele rosto. Talvez até eu não compreendesse o amor. Não, isso não, o amor não é algo compreensível. Por que eu ainda olhava para trás? Talvez porque essa fosse a minha maneira sem jeito de ser. 

Pela última vez me virei. Queria a certeza de que naquele rosto ainda permanecia o sereno semblante. Não o vi mais. Emocionei-me. Senti sede, solidão. Esta poderia esperar. Dei atenção à sede. Debrucei-me sobre as águas do lago, marco do início do meu novo lugar. Refletido no espelho d’água, o meu rosto. Nele eu não via um sereno semblante. Ele tinha dado lugar ao vazio da renúncia, típico das difíceis, mas necessárias e inadiáveis escolhas. Em breve, tudo passaria. Retomei o meu caminho... Não olhei mais para trás...

Estou no topo da mais arrojada de todas as montanhas. Bem próximo das estrelas. Aqui, sou acolhido pelo útero cósmico e revivo o instante da concepção de todas as naturezas. Quem eu sou? A resposta me vem com murmúrios de provocação em meio ao silêncio da mansidão em que me encontro: “Do universo, você é essência; da essência, uma bela animação; a animação o transforma em realidade; mas, também daquela, uma arrojada imaginação; da imaginação, você ganha ilimitadas formas; destas, você é uma bela expressão; você é, portanto, pura magia; semente e fruto da Criação...”. Aprendi, então, que não me cabe perguntar quem eu sou, mas me responsabilizar por quem eu sou...

Lá, no alto daquela montanha que parecia querer tocar o céu, a respiração do universo podia ser sentida. E lá estava a jovem índia. Ela sentia o sopro da respiração do universo. Cânticos entoados por um doce coral vinham de algum recanto invisível. Pareciam musicar o renascimento das estrelas no céu. A brisa da respiração do universo prosseguia. Quando aquele sopro cósmico pela jovem guerreira passava, dela carregava belezas da sua alma e as lançava muito além dos horizontes já sombreados pela noite. A jovem índia sorria por estar vivendo aquela revelação. Alguns animais dela se aproximavam. Acomodavam-se para receber a noite que se insinuava acolhedora. A jovem guerreira se recostou em uma pedra e, por fim, adormeceu... Foi despertada pelos raios de sol! Não mais no topo da montanha, mas em sua tenda. Assustada, levantou-se, penetrou na ensolarada manhã e contemplou a distante montanha. Confusa, perguntou-se: Afinal, o que eu vivi? Sonho ou realidade? Escutou então uma conhecida voz: Os fenômenos da vida e você manifestam a mágica convivência de sonhos e realidades. Se essa visão não lhe for suficiente, eu proponho: Sonho e realidade... Qual deles faria você se sentir melhor?

“Você está apreensiva porque a temporada de caça não foi das melhores. É compreensível o que sente. Entretanto, não deixe que essa memória cristalize uma expectativa que negue uma realidade melhor do que impõe o seu medo, a sua ansiedade. Expectativas comumente se formam a partir de experiências anteriores. Entretanto, elas não têm necessária conexão com a realidade possível, embora possam impedi-la. Acredite: a vida não é linear. Quase sempre, ela se revela pelo impensado, inesperado... Assim, desapegue-se das memórias tóxicas e esteja receptiva ao melhor, ao novo e ao criativo... Dê as boas vindas à nova temporada de caça que se aproxima e à surpreendente linguagem da vida!”

Corria em direção à aldeia porque precisava contar as novidades! Havia experimentado uma revelação! A de que pulsavam em mim dois guerreiros: o verdadeiro que eu trouxe para essa existência e o falso que o mundo tem forjado em mim. Posso chamá-lo de falso porque, em muito, ele contraria o meu ser. Ele é resultado das expectativas que me cercam, impregnadas de padrões moldados pela realidade do nosso mundo. Não desejo destruir aquele que chamo de falso porque ele se relaciona com o mundo em que vivo. Quero fortalecer o verdadeiro porque esse guerreiro eu trouxe para a minha jornada humana, é a minha essência, esse sou eu, tal como fui concebido nas aldeias do cosmo. Quero reequilibrar as forças desses dois guerreiros em mim. Saber dos dois guerreiros me faz feliz porque me permite melhor compreensão da vida e melhor percepção de mim.

Por que eu desisto de mim? Que força é essa que me finca no chão, que me torna inerte e que me traz agonia ao ver a vida fluir ao meu redor? Por que eu não grito o meu mais íntimo grito e me lanço em direção à liberdade que contemplo? Por que eu me apego a essa tola inação? Medos? Por que eu não me convenço que meus medos são invenções minhas e que eles serão tão mais perversos quanto menos amoroso eu for comigo? Mas... Por que ninguém me ajuda? Será porque eu jamais pedi para ser ajudado? Então, agora eu peço e faço um pacto de empenho. Pronto! Olhe o que eu estou fazendo. Liberto-me dos grilhões que forjei em mim!  Dou assim o primeiro passo! Agora me desapego dos medos! Assim, dou um segundo passo em minha direção! Estou dois passos mais próximo de um lugar melhor! Alguém me ajuda? Claro! Eu me ajudo! Ninguém mais poderia fazer esse papel. Admitir isso me faz bem. Que sensação boa... Eu a reconheço... É a liberdade... Tenho vontade de sorrir... 

Em suas caminhadas pela vida, você tem tido a oportunidade de conhecer muitas pessoas. É possível que em algum momento você tenha passado por elas e tenha carregado uma incômoda sensação de ter deixado algo ou alguém para trás, um pedaço de sua vida, talvez. Logo se recupera porque vem a noção de que é uma ilusão pensar que você possa ter uma ligação especial com algo ou alguém e não ter percebido esse fenômeno no momento em que ele tenha acontecido... Engano seu! A verdadeira ilusão é imaginar que isso não seja possível e que o que você tenha experimentado seja uma mera fantasia. Quando você tiver aquela incômoda sensação de que deixou um pedaço de sua vida para trás, pare e volte! Você perceberá que o caminho de volta pode ser o caminho da revelação, o único caminho de ida até você...

Você ama ou tem necessidade daquela pessoa? Você ama aquela pessoa porque tem necessidade dela ou tem necessidade dela porque a ama? Acho útil a compreensão do seu sentimento e, assim, da sua experiência. A necessidade é a manifestada dependência de alguém e, como tal, para muitas pessoas transcende ao amor. Cessa o amor, persiste a necessidade... O amor é o encontro de corpos e almas. O instigante no amor, ao meu olhar, é que a necessidade da presença do outro igualmente se manifesta. Nele, entretanto, ela não me parece visceral. Sinto-a branda e com um caráter romântico. Cessa o amor, cessa a necessidade... Assim, admito que a harmoniosa convivência do amor com uma dose de instigante necessidade seja algo bem-vindo, talvez seja até uma visão do que seja o romance. Você consegue responder às perguntas que fiz?

Com um semblante reflexivo, quase tristonho, a bela guerreira contemplava o imenso campo à sua frente. Sentei-me ao seu lado. Fiquei em silêncio. Dela recebi um breve olhar e um discreto sorriso. Escolhi interpretar aquele gesto como um sinal de aceitação da minha presença. Sem desviar o olhar do horizonte, disse ela quase sussurrando: “Meu coração me alerta que quanto maior a minha entrega, maior será a dor da perda... Isso me amedronta... Essa danosa vinculação da entrega à perda me imobiliza...”. Ela calou. À nossa volta, um incômodo vazio. Eu desejava dizer algo, mas estava inseguro. Subitamente, escutei a minha própria voz: “A perda é um acidente e não uma necessária consequência da entrega. A energia predominante na entrega é a da experiência plena, irrestrita. Nesta circunstância e contrariando o que você disse, se o acidente da perda acontecer, a sua dor será tão menor quanto maiores tiverem sido a entrega e a experiência vivida. Muitas vezes, o medo da dor é maior do que a própria dor...”. Silenciei... Novamente, aconteceu um inquietante vazio à nossa volta. Dela recebi um novo olhar e um novo sorriso. Desta vez, nada breve o olhar, nem discreto o sorriso...

Acordei sobressaltado. Pus-me de pé e deixei a tenda. Na aldeia, apenas silêncio e escuridão. Instintivamente, caminhei em direção a um local que me oferecia total visão da pradaria. Dela, porém, só podia perceber a presença da noite. Para espanto meu, uma envolvente voz ressoou à minha volta. Parecia vir de todas as direções! O Universo se dirigia a mim! Não acreditava no que acontecia. Mesmo aturdido, pude escutar: “Você sempre apreciou essas terras sob a luz do sol. Dessa forma, você sempre teve uma completa, clara e revelada visão da sua beleza; mas paisagens visíveis como essa, ainda que inspiradoras, têm mantido sua percepção restrita aos limites delas mesmas. Experimente admirá-las agora sob a luz do luar. Delas, você terá uma incompleta, imprecisa, até mesmo restritiva visão, mas não desanime. Sob o véu da noite, contemple essas e outras desconhecidas terras usando o poder, a poesia e a liberdade da sua imaginação... Assim, todas as paisagens da vida que, doravante, brotarem da sua imaginação serão tão expansíveis, infinitas e ilimitadas como eu... o Universo... Afinal, também eu e você somos criação de uma bela imaginação... de um belo Coração...”

Enfeitei-me como há algum tempo não fazia. Esperava ansiosa por aquele momento. Apressei-me para chegar ao alto da montanha, porque a madrugada já se despedia. De lá eu teria a melhor visão. Queria vê-lo despontar no horizonte, viver cada instante de sua chegada. Estava radiante, mas consciente da importância daquele encontro. O universo parecia entoar uma silenciosa canção para aquele momento. Enfim, ele surgiu. Lá estava ele, o sol. Uma nova manhã, um novo dia, um novo recomeço. Novos sonhos acolhendo ilimitadas possibilidades. Sorria ao sentir que o calor do sol aquecia o meu corpo. Expandi o meu sorriso quando percebi que ele também serenava o meu coração. Pouco a pouco eu me refazia da transtornada madrugada existencial, porque o sol me acariciava com novas e mágicas oportunidades... Finalmente, estava pronta para prosseguir...

Como você imagina Deus? Não busque um rosto ou uma forma. Sinta-O. Veja Deus na exuberância das montanhas que desenham caprichosos relevos às terras por onde você caminha; na generosidade das águas que fluem pelos rios em direção aos mares, descansam como lagos e se precipitam do céu em forma de lágrimas de alegria; na riqueza dos presentes que brotam do solo para encantar e saciar você; na beleza das cores que inspiram o seu coração pela fresta dos seus olhos; nos naturais aromas e sabores que tornam a sua vida ainda mais fascinante; na desconcertante graça dos animais; nos bravos guerreiros que, como você, vivem as suas próprias e invioláveis histórias; na sonoridade do nada e no silêncio de tudo; em cada manifestação material e imaterial que faz o seu instante valer a pena. Deus, enfim, está além da mais ousada e criativa imaginação. Ele é a grande experiência a ser vivida em sua jornada, no recanto mais íntimo do seu coração...

Eu me sentia só... Já estava em minha tenda, deitada sobre uma acolhedora manta. Lá fora, apenas o silêncio da noite e o bailar da chama saltitando sobre a fogueira. Todos dormiam na aldeia. Durante as últimas horas havíamos celebrado o final da temporada de caça, entretanto, estranhamente, eu me sentia só. Felizmente, aos poucos, o cansaço me vencia. Quase adormecia quando algo me fez despertar. Percorri os olhos pela tenda. Nada e ninguém... Apenas o véu da noite e uma doce voz vindo não sei de onde: “Você não está só. A todos e a todas as coisas você está unida pela energia primordial. Você, todos e todas as coisas são um só organismo; são frutos da essência que a tudo anima em qualquer tempo, lugar, forma e vibração... Assim, lá fora não estão apenas a noite e a chama saltitando sobre a fogueira, mas algumas das mágicas, belas e incontáveis expressões de você...”

Por vezes, você busca o entendimento da liberdade. Ao invés de procurar uma visão intelectualmente admissível, empenhe-se em criar as condições para exercê-la! Como? Conquiste a sua ordem interna! Sim, a experiência da liberdade depende de sua organização íntima. A liberdade só será possível quando você for tomada pela prazerosa sensação de suficiência, provocada pelo preenchimento do espaço vazio que é reservado ao que lhe é essencial. Esse confortante estado de ordem interna, de independência, é que possibilita o exercício da liberdade. E para estimulá-la ainda mais, vou contar um segredo: esse estado de completude também é uma tela em branco sobre a qual se insinuam os traços e cores da felicidade...

A cada instante, pela INSPIRAÇÃO e EXPIRAÇÃO e em dinâmico processo, você se conecta com a energia primordial. Você a INSPIRA e com ela se ALIMENTA de VIDA. Você a EXPIRA e com ela ALIMENTA a VIDA. O pulsar prossegue: você se ANIMA pela INSPIRAÇÃO e a tudo ANIMA pela EXPIRAÇÃO. Ao INSPIRAR, você experimenta o agigantar vital, a força. É uma íntima forma de VIDA na qual você traz, à luz, o ego; reconecta a forma; desempenha o seu papel. Ao EXPIRAR, experimenta o vácuo vital, o vazio, o silêncio das mentes racional e emocional. É uma íntima forma de MORTE na qual você se reconhece, porque nela está o adormecer do ego. O milagre do PULSAR: INSPIRAR e EXPIRAR, VIDA e MORTE. Nesse dual e constante movimento, a presença da superior energia do AMOR. Ela visita a sua essência e se lança de volta à vida, enriquecida com muito de você...

Fechei os olhos. Estávamos frente a frente. Mãos dadas. A desconhecida guerreira e eu. Parecia haver algo a ser dito. Estava apreensivo, mas não queria me esquivar daquele momento. Senti minhas mãos sendo acariciadas, antes de escutar a bela índia dizer: “você é o resultado das suas escolhas, portanto, o idealizador de você mesmo. As escolhas que faz não anulam as escolhas que fez; moldam uma nova expressão de você, assim como cada novo amanhecer molda uma nova visão da vida. A despeito da doce apreensão que sentia, você escolheu me escutar. Confiou no amor sentido por alguém que você não conhecia. Admitiu, assim, que todos os amores vêm da mesma fonte. Sua escolha o transforma de tal forma que você, agora, já não cabe mais no guerreiro a quem, há pouco, estendi minhas mãos...”. Suas palavras estavam cada vez mais distantes. Com os primeiros raios de sol invadindo a minha tenda, abri os olhos. Despertei. Lá fora e em mim, um novo amanhecer...

Você me faz duas revelações: não entende se é feliz ou não... e muda de ideia a cada instante sobre isso. Sugiro que você não procure entender, mas sentir. E sentir o tanto que você é feliz. Sentir os efeitos do seu doce empenho. A propósito, reflita: se a sua vida flui como as águas de um sereno córrego! Agradeça! Comemore! Quando, ao contrário, em outros momentos a sua vida se agita como as turbulentas águas das corredeiras, da mesma forma agradeça! Cresça! Sim, Cresça! Mesmo nas mais graves turbulências, você identificará a Luz... Ah!... Procure não entender também a Luz... Simplesmente, sinta-a como o mágico sinal do seu relacionamento com a dimensão divina. Com relação às recorrentes mudanças de ideia sobre relevantes questões, não valorize em demasia isso. Uma guerreira que não seja sensível para rever as suas posições, talvez revele muito mais uma fresta de sua fragilidade do que afirme a sua coerência e o valor do que pensa. Assim, valorize o seu sentimento: dedique um carinho a você...



Anoitecia na aldeia. As montanhas ao redor estavam cobertas por graciosas mantas de neve. Próximo à fogueira, reflexivo, eu me aquecia. Sentia-me só. Tentava encontrar uma explicação para aquela e outras situações que se repetiam indefinidamente. Naquele momento, certamente esquecia-me de que a vida é a mestra do inusitado, do impensado, da constante renovação. A suave aproximação daquela guerreira me despertou para essa verdade. Com um delicado movimento, ela sentou-se ao meu lado, recostou-se em meu peito e me serenou com uma revelação: “Trago até você o amor que sinto. Não me pergunte a razão, estou falando de amor...”. Compreendi, comovido, que ela não expressava apenas o que sentia, mas me lembrava de que a vida não se manifesta para ser explicada, mas para ser vivida, para ser inadiavelmente sentida... Afinal, estamos falando de amor...

Como você se define? Uma pessoa racional? Emocional? Espiritualizada? Não perca tempo com isso! Aceitar uma imagem é afastar-se do contato com o seu verdadeiro ser. Ele ultrapassa qualquer limitativa definição. Você é o que é! Com suas virtudes e imperfeições. Mas não perceba a imperfeição como uma falha. Ela revela um constante e ascendente movimento em direção à perfeição.  Uma rosa em botão ainda não é uma flor em sua plenitude. Ela é imperfeita a partir da visão do perfeito, vinculado a algo finalizado. Mas nem por isso a rosa em botão é mais ou menos virtuosa do que a desabrochada. Você poderia então questionar se não lhe bastaria aceitar, como definitiva, uma condição mais modesta na escala da perfeição. Seria uma escolha sua. Considere, entretanto, que tal como o botão de rosa, o seu papel no plano maior é o de expressar a sua plenitude. Se a sua escolha for prosseguir expandindo, renuncie então a uma restritiva definição ou uma efêmera imagem. 

Celebre que você é como uma rosa em botão: uma imperfeita perfeição...
Por sentir que a vida era maior do que os limites da aldeia me faziam supor, parti em direção ao desconhecido. A cada passo que dei desde então, vivi o novo: pessoas, sensações, emoções e sentimentos. Conheci as terras do surpreendente, do jamais vivido. Um dia, inevitavelmente, decidi rever o meu antigo lugar. Durante o caminho de volta até ele, lembrei-me do quanto me era acolhedor e significativo o calor da grande fogueira. Por isso, a cada passo eu sorria. Ao avistar a minha velha aldeia, entretanto, uma visão me angustiou: a chama da grande fogueira não mais ardia. Senti meu corpo fraquejar. Desacelerei o passo até parar. Aquele não era mais o meu lugar. Fiquei em silêncio, sentindo o efeito do tempo na aldeia que naquele momento, pensativamente, eu observava. Suspirei e pus-me a caminhar. Não mais em direção à minha velha aldeia, mas em direção às desconhecidas terras de onde vim. Talvez meus novos lugares. A angústia se dissolveu... Sentia paz... Desejava viver novas realidades para sentir novas saudades. Não é possível viver no presente aquilo que já foi vivido no passado. Resta admirar! Afinal, não contemplamos nas estrelas que hoje enfeitam o céu, brilhos brotados em um remoto passado?

Tenho respostas para encontrar. Encontrá-las não é o desafio, mas sim descobrir que perguntas me levam até elas. Não sei se tenho medo do amor; se tenho medo da entrega porque tenho medo da perda; se tenho apego a esse medo; se tenho apego ou amor quando dependo da presença de alguém; se tenho medo do apego que se disfarça de amor; se, por isso, abraço ou rechaço; se sigo ou retorno; se insisto ou desisto. Arrisco um gesto ou outro e prossigo com o meu padrão de tentativas e erros, se é que existem erros. Nessa ambígua atmosfera, entretanto, eu evoluo. Não me importo em ser alguém que pouco sabe de tudo. Tenho a ousadia de buscar o meu caminho assim mesmo. Mas, caminho para onde? Para o lugar perfeito? Lá, onde a provocativa dualidade evoluiu para a harmoniosa unicidade em que convivem todos os contrastes? Se houvesse um caminho para o lugar perfeito, eu o seguiria. Não existe esse lugar, senão em mim. Então, que lugar é esse dentro de mim? É a minha essência! É quem eu sou. Mas, quem eu sou? Não quero saber... me basta ser... e do jeito que eu sou...

Nunca a tinha visto na aldeia. Curiosamente, ela se mantinha afastada do grupo que rodeava a fogueira. Caminhei até ela. À medida que eu me aproximava, era envolvido por sua delicadeza. Acomodei-me à sua frente. Sugeri que ela se juntasse a nós. Ternamente, a bela guerreira respondeu: "Sou grata, mas não posso ficar. Desejo apenas dizer que o sinto apreensivo. Em alguns momentos, você tem a convicção de que todos os seus obstáculos serão superados e isso o entusiasma, o faz viver. Em outros, a sua convicção é a de que as suas barreiras são intransponíveis e isso o oprime, o faz abdicar da vida. Quero lhe dizer que as suas duas convicções, a da superação de seus obstáculos e a do fracasso diante deles, estão corretas!". Meu coração acelerou. Ela colocava à minha frente contraditórias crenças com as quais há muito tempo eu me confrontava. Sabê-las ambas verdadeiras era inquietante, embora fosse consciente do caráter evolutivo que a experimentação das dualidades sugeria. Precisava dar um basta, mas me faltavam forças para enfrentar essa íntima incoerência, que se insinuava perene em minha vida. E as forças surgiram com o que da bela índia ouvi em seguida: "Liberte-se desse imobilizador conflito: escolha uma das convicções! A que você sabe ser a melhor para viver ou a que você sabe o faz desistir de prosseguir!". Fechei os olhos e mergulhei no silêncio. Era uma orientação simples, como a vida. Abri os olhos a tempo de receber o sorriso da bela guerreira e seu aceno de despedida. Ela desaparecia na mata ao mesmo tempo em que fazia brotar em mim a consciência da melhor maneira de viver... ou, quem sabe, a única...

Os flocos de neve sugerem mansidão. Suavemente, eles caem dos céus. De muito além dos céus, eles trazem memórias que provocam, em você, sensações singulares de outros tempos e lugares. Sim, é no instigante útero cósmico, nascente e ambiente de todas as essências, que estão as histórias de cada um e de todos, os vestígios existenciais. Hoje, aqui, agora, você prossegue na criação de suas futuras memórias e na modelagem do renovável universo, o infinito caleidoscópio das experiências coletivas. Ele é o colossal espelho das expressões vitais, o reflexo do que você foi, é e será. O universo se revela tão próspero quanto você escolhe ser; tão vibrante quanto você deseja viver; entretanto, tão contraído, quanto à indiferença você se permite ceder. Os flocos de neve sugerem mansidão sim, mas induzem e conduzem o seu olhar para o alto, para o grande espelho que desnuda a sua história; lá, onde está refletido o merecido gozo dos sonhos realizados, mas, também, a realidade dos sonhos abandonados. O que você quer ver nesse colossal espelho?

“Você conhece o seu desejo, mas tem medo de atendê-lo. Sabe que seu desejo não é algo circunstancial e que ele jamais será satisfeito a partir de fantasiosas expectativas ou de episódicas alegrias. Você admite que seu desejo seja realmente um sonho, um grito da sua essência, e que esse grito não será silenciado com experiências compensatórias. Isso é bom. Você sabe que não quer viver a vida como uma observadora, mas como uma pessoa que aceita que, em nome do amor, todos os riscos possam valer a pena. Isso também é bom. Mas, mesmo assim, você finge não escutar o grito de sua essência, finge não saber que muitas vezes o medo da dor é maior do que a própria dor e, a despeito disso, mantem-se apegada a ele. Desapegue-se do medo e, de uma vez por todas, dê boas vindas a você...” 

Escolhi não mais contemplar o tempo que passou e não mais permitir doer em mim a memória das experiências não vividas, circunstâncias e tempos irrecuperáveis. Não há nada a fazer além daquilo que eu pude fazer quando o “antes” era o “agora”. Estou certo de que o “agora” é a única oportunidade real que eu tenho para viver. Portanto, vivo o “agora”. Sei que isso é tudo que eu tenho. Sei também que para eu extrair do “agora“ o melhor para mim, nele eu devo colocar o melhor de mim...
Não sabia de onde vinha o sussurro que me invadiu o sono. Em vão, olhei em torno para descobrir algo. Meu pequeno lugar nada conseguiria esconder. Desejava encontrar a fonte daquela doce voz. Saí... Nada achei. Lá fora, apenas a fria noite e a saltitante chama da fogueira. Retornei então para o interior da tenda e deitei sobre a colorida manta que cobria a sagrada terra. Novamente escutei o sussurro. Não... 

Não escutei. Senti o sussurro. Não conseguia distinguir palavras, mas naquela voz vibrava uma ternura jamais por mim saboreada. Apenas sentia... Enquanto me deixava envolver por aquela atmosfera, adormeci. Pela manhã, despertei animado. A algazarra das crianças e o movimento da primeira refeição já animavam o colorido e ensolarado dia. A todo instante, entretanto, a lembrança do sussurro afagava meu coração. Procurei então o velho e sábio índio. A ele relatei o que havia se passado e, por fim, expressei a minha instigante dúvida: “Sonho ou realidade?”. Ele sorriu e me ofereceu como resposta a mais sábia das perguntas: “O que faria você se sentir melhor?”.

Quando dei por mim, estava diante daquela bela índia. Precisava dizer algo que justificasse tantos desafios por nós superados. Seu olhar revelava interesse pelo que eu diria. Isso me animava, mas agravava a minha aflição. Não sabia como começar. Enquanto procurava algo para dizer, fervilhava em minha mente a lembrança dos difíceis obstáculos que precisamos ultrapassar, especialmente os interiores. Mas, enfim, lá estávamos eu e ela. E precisaria dizer algo logo ou eu perderia o que considerava ser a melhor oportunidade de ser feliz. Ela me sorriu o mais amoroso sorriso que jamais conheci e me estendeu a mão. Isso me comoveu e mais uma vez me encorajou. Quando dei por mim, escutava a minha própria voz. Hoje, não saberia repetir minhas palavras, mas jamais me esqueci do que, a ela abraçado e como um amedrontado adolescente, disse ao final: Posso parecer tolo, mas não importa qual seja a sua pergunta em relação a tudo que falei, o amor será a melhor e, talvez, a minha única resposta...

Tinha medo de mudar, embora não mais duvidasse de que precisava destruir um pernicioso quadro desenhado pelo tempo, emoldurado por fantasiosas expectativas e colorido por questionáveis percepções. A cada amanhecer, aumentava o incômodo da minha inação. No silêncio de meu peito, um grito: “BASTA! Acredite na sua força para se libertar de quem você está sendo para ser quem você é...”. Sim, precisava me conectar com a verdade. Assim, fiz o que meu coração clamava: gritei “BASTA!”. Meu grito, ressoado pelo universo, e a persistente torrente de minhas ações demoliram as muralhas que me distanciavam de mim. Finalmente, libertei-me do apego às tóxicas circunstâncias que me aprisionavam. Bastou-me acreditar na minha força e gritar um grito de amor: BASTA! Você já experimentou esse grito?

“Você está segura daquilo que tanto deseja neste momento? Reflita se essa expectativa é arquitetada pela sua ousada imaginação e, por isso, possa estar projetada para além da realidade. Pondere como você reagiria diante de um futuro inundado pela fantasia. Acredite, seria doloroso descobrir que a sempre surpreendente e ampliadora realidade pudesse se revelar tão severa e redutora com você. Isso a machucaria. Talvez seja utópica a ideia de viver sem expectativa, mas talvez seja possível limitar as suas danosas consequências. Como? Tendo vontades, necessidades, desejos, adequados a uma realidade inteligente e receptiva. Fazendo com que a astuciosa expectativa dê lugar a uma vibrante aspiração... e esta não seja maior nem menor do que a sua única chance de vivenciá-la...”

“A bela índia despertou mais cedo do que de costume. Todos ainda descansavam. Deixou a tenda e caminhou em direção ao riacho que cortava a aldeia. Ajoelhou-se à sua margem. Com um terno olhar, contemplou o movimento das águas. Perguntou-se por quantas paisagens aquelas águas teriam passado; quantas pessoas naquelas límpidas águas teriam também tocado; que íntimos sentimentos e pensamentos teriam sido a elas revelados em seu sinuoso percurso pela pradaria e pelas aldeias. Ali, a bela índia sentiu que a vida se resumia a ela e ao riacho. Instintivamente, penetrou em suas mornas e rasas águas. Começou a caminhar, fluindo pelo leito do córrego. A cada passo, mais se confundia com as águas, mais se sentia igual expressão vital. Diferente na forma, mas filha da mesma nascente. Continuou caminhando. Naquele momento, era o que a ela bastava. Emocionada, sorriu de contentamento. Com as águas tinha descoberto um dos mistérios da vida: fluir... prosseguir...”

"As definições do amor entre duas pessoas têm habitado o terreno das formulações insuficientes. Desde remotamente, ele nos desafia a explicá-lo de forma intelectualmente aceitável. É uma tarefa difícil porque outros sentimentos que nele se fundem e a ele confundem, igualmente não admitem óbvios entendimentos. O amor entre duas pessoas é de difícil compreensão também porque se manifesta nos campos concreto, abstrato e etéreo, já que ele mobiliza corpo, mente e espírito. Assim, percebo esse amor como um encontro de corpos, mentes e almas. Um encontro eterno porque, uma vez sentido, ele é inesquecível e irremovível da energia cósmica. Entretanto, entre duas pessoas o amor só vive, e não apenas existe, se ele for manifestado! Se ele transpuser os limites do sentir e se mostrar pelo agir. Entre duas pessoas não basta sentir o amor. Ele precisa estar em ação: é preciso amar! Prossigo sem definir o amor entre duas pessoas, mas reafirmo que amar é o amor em ação... é o gesto do sentimento... é o agir do sentir...”

Jamais esquecerei a manifestação de doçura e sabedoria de uma criança da minha aldeia, a respeito do Criador. Ensinou ela: Acho que a maior coisa da vida é o espaço. Acho isso porque nele cabe tudo que o Grande Espírito criou. Mas... se o Grande Espírito vive neste espaço, então Ele é menor do que o espaço que Ele próprio inventou! Então, Ele não deve estar neste, mas em outro lugar ainda maior... Mas, se Ele vive em um lugar ainda maior do que este, quem terá criado aquele lugar? Estou ficando confusa... É melhor eu parar por aqui. Prefiro assim: o Grande Espírito é o espaço que eu conheço, este lindo lugar em que eu vivo. Essa ideia é boa! O Grande Espírito é tudo que está à minha volta! Ele é o que eu hoje posso ver e tudo aquilo mais que, por ser criança, eu ainda não consigo alcançar... Para mim, está ótimo assim! Eu me sinto envolvida por Ele, eu me sinto Ele... Uau! Então eu devo ser Ele! Só que ainda pequenininha...

Cheguei a uma desconhecida aldeia. Fui acolhido com alegria e convidado a me acomodar ao redor da fogueira que ardia sob o céu estrelado. Inúmeros irmãos formavam um círculo em torno das chamas que aqueciam a fria noite. Pus-me entre um menino e uma bela índia. Não a havia notado, senão naquele momento. Para minha surpresa, cada membro do grupo expressava seus sentimentos para os demais. Estava encantado com aquele exemplo de liberdade. De olhos fechados, absorvia cada palavra. Não notei o tempo passar, senão quando um profundo silêncio se fez. Olhei em volta e percebi que todos me aguardavam. Desconcertado, voltei-me para onde estava a bela índia. Ela me sorriu em sinal de concordância. Encorajado e emocionado, pus-me de pé e confessei: “De longe eu vim para aqui aprender o que é estar junto e não apenas próximo. Descobri aqui, no que me é desconhecido, mais do que encontrei em tudo de conhecido que vivi. Sinto gratidão e amor. Sempre acreditei que o Universo escutaria meu grito pela liberdade de Ser. Eu a conheci aqui; e só porque jamais desisti da busca. Prosseguir, sempre foi a minha conduta. Por isso, aqui cheguei. Deixem-me ficar. Pelo menos enquanto existirem fogueiras ardendo, estrelas no céu e a liberdade de Ser...”. Todos sorriam para mim. Ouvi então a bela índia dizer: “Fique...”

“Por vezes a trilha exigia muito esforço, mas a bela índia avançava. Há muito tempo e de muito longe ela vinha fazendo aquele caminho. Imaginava que ao chegar, iria encontrar a boa sorte com que sonhava. Por isso, persistia. Uma noite, exausta e desesperançosa, deixou-se recostar em uma confortável árvore. Logo, um delicado pássaro dela se aproximou. Pousou na relva à sua frente e saltitou em sua direção. Ela sorriu e o aninhou em seu colo. Imóveis por algum tempo, ambos saborearam aquele momento de inexprimível amor, até que o pássaro se inquietou. Ela compreendeu seu ânimo e o ergueu em direção à escuridão da noite. Lá foi ele voar o voo de seus sonhos. Sentindo-se agora revigorada como o pássaro, também ela se lançou em direção à escuridão da noite. Precisava ir em frente! Ainda dava os primeiros passos, quando sussurrou: “Estou certa de que meus sonhos só não se realizarão se deles eu desistir. Que caminho eu devo tomar eu não sei, mas caminharei confiante de que, dos meus sonhos, receberei amáveis e mágicos sinais. Basta eu querer percebê-los...”. Sorrindo, ela prosseguiu...
A bela índia foi surpreendida logo ao despertar. A aldeia estava deserta. As fogueiras não mais ardiam. Nem a algazarra dos animais na floresta era ouvida. Nenhum movimento. O tempo parecia parado em um instante de ficção. Diria ela depois que o único sinal sensível era o do pulsar do Universo. A guerreira estava serena. Não queria elucidações. Percebia que era protagonista daquele mágico momento. Postou-se ao lado da tenda e a tudo acolheu. O Universo a presenteou com a abstração da forma. Seus pensamentos foram inibidos. Os olhos se fecharam. Aos poucos, ela penetrava em seu espaço interior, queda livre em direção à essência. Enquanto imergia naquele lugar sagrado do “ser”, ouviu ecos de sua mente: “Por que não me entreguei à vida como agora faço? Por que não admiti a presença do amor, em vez de buscar entendê-lo? Por que festejei brisas de felicidade vindas de fontes ao meu redor e não percebi que a verdadeira felicidade sempre emanou de mim?”. Em seu recanto interior, ela encontraria essas e todas as respostas. Logo a mente formuladora retornaria, voltaria à vida. Quem sabe renascida...

“Procure hoje não associar sua identidade, suas características intrínsecas como pessoa, (I) à sua boa ou má aparência, (II) à sua saúde ou enfermidade e (III) às suas aptidões ou inaptidões, porque com o tempo, esses ‘favoráveis’ ou ‘desfavoráveis’ atributos a magoarão. Pelo lado dos ‘favoráveis’ predicados, isso ocorrerá pelas naturais transformações impostas pela passagem do tempo, que exigirão de você a aceitação dos novos padrões de aparência, saúde e talentos, propriedades novas que podem antagonizar a identidade por você originalmente organizada. Pelo lado das “desfavoráveis” qualidades, por conta do agravamento das desvirtudes, acentuadas pelo tempo. Para prevenir essa intrincada cilada mental, procure compreender a existência e desenvolver a consciência do seu corpo essencial (energia vital). Isso requer (I) a afirmação do desapego e, a partir dele, (II) a visão do florescer da sua identidade pessoal a partir do cultivo de seu perene conteúdo (o ser) e não das efêmeras e múltiplas expressões da forma (o ego)...”

"Nesta existência, você pode ter uma conduta de efeitos reparadores e evolutivos mesmo não tendo nenhuma memória das 'disfunções' em que haja incorrido em vidas anteriores. Isso é possível porque você dispõe de três valiosos e acessíveis canais de orientação: (I) a INTUIÇÃO, que equivale a um acalentador sussurro do ambiente cósmico, do sublime, que merece ser atentamente escutado e disciplinadamente seguido; (II) uma transcendental organização de INSTINTOS, com uma configuração aperfeiçoada pelas sucessivas encarnações, pronta para agir e reagir diante das esperadas, inesperadas e incontáveis circunstâncias da vida atual; e (III) a CONSCIÊNCIA, que é a essência de tudo, é o seu coração, a alma universal, onde se encontram as respostas para todas as perguntas que você precisar fazer. Por si só ou com auxílio inquestionavelmente qualificado, busque beber dessas três fontes e tenha uma vida assinalada pela funcionalidade e pelo encantamento, presentes e futuros...”

"Seja mãe na essência, indiferente à biologia. Mãe no gesto, no toque e nas palavras. Seja mãe simples e simplesmente mãe. Não importa se você tem filhos, se você os teve ou se virá a tê-los. Recorde e ressinta, neste momento, o amor da sua mãe impresso em seu coração. Deixe que esse sentimento se expanda, preencha seu corpo, toque sua alma e transborde para a vida. Não importa quem você seja. Seja por alguns instantes ou para sempre, plenamente mãe. Mãe aqui na Terra ou mãe já no céu, reverenciada ou inominada, mãe na posição de amiga ou amigo, mãe na condição de irmã ou irmão, mãe através do homem ou da mulher... Seja, essencialmente, mãe..."
Disse a jovem guerreira: "Vou tentar me transformar... Tenho que crescer como pessoa para ver se eu consigo prosperar...". Respondeu o experiente xamã: "Jovem índia, troque expressões como “vou tentar...”, “tenho que...”, “se...”, dentre outras que podem modelar vínculos com o insucesso, com a obsessão, com a insegurança, por aquelas que emanam a positividade, a força e a sabedoria dos nossos ancestrais. Substitua a atmosfera de mera tentativa, de pueril obrigação e inquietante dúvida, pela nobre e construtiva atitude de êxito perante a vida e pela irrenunciável conduta da escolha... Assim, em vez de vibrar o que acabou de expressar, vibre com o Universo: Escolho prosperar!"

“Enquanto admirava os jovens guerreiros cruzando o rio em direção à pradaria, fui invadido pela lembrança de uma linda e jovem mulher. Tal como os guerreiros que eu observava, em uma ensolarada manhã aquela jovem guerreira também atravessou o rio e deixou a aldeia. Dela recebi um simples aceno e um breve sorriso. Naquele dia, senti a sua partida, mas não a sua perda, porque jamais fui enredado pelos tentáculos do apego. Compreendi seu anseio por novas experiências e por conhecer os concretos e subjetivos desafios à sua expressão como mulher. Isso, com simplicidade e empenho, ela fez acontecer. Com ela e com sua partida, aprendi duas lições: (I) O amor não admite domínio sobre ninguém e sobre nada. Por isso, serenamente, eu a contemplei partir, sem me deixar. (II) Nem todas as partidas significam uma despedida, mas um “até breve” que lhe diz “Irei para onde preciso estar, mas para aqui voltarei, pois aqui é onde desejo estar”. Sempre acreditei nisso. Aprendidas essas lições, jamais desisti do sonho de com ela novos sonhos sonhar. Aquela jovem guerreira tornou-se companheira e mulher. Juntos, percebemos que o amor só prospera nas relações em que você pode exercer, irrestritamente, a liberdade para amar...”
Acabo de concretizar um belo sonho, mas uma danosa sensação oprime a minha conquista. Não é tristeza. É como se eu tivesse sido invadido por um ‘nada’! É isso! Sinto um ‘nada’, um coração vazio! Um sabor de perda, de ‘quase morte’, decorrente da realização do meu sonho. O curioso é que apesar disso não tenho necessidade de nenhum alívio imediato para essa aflição existencial, tal como um novo e belo sonho a ser alcançado. Necessito fortalecer a noção de que viver é prevenir esses vácuos existenciais de um único grande sonho satisfeito, com o entusiasmo da existência de múltiplos e simultâneos sonhos por realizar. Substituir as nefastas percepções de ‘quase morte’ após a ‘perda da conquista’, pelas estimulantes vibrações da vida... É isso... Viver é prosseguir realizando, inventando e sonhando, não um, mas todos os sonhos que me animarem a prosseguir...



“Atualmente, já é motivo de ponderação pelas mentes humanas, a questão de que não há um conjunto de valores morais que seja universal. O pensamento de Sócrates ensina que basta ‘saber o que é o Bem para praticá-lo’ e o de Platão proclama o conhecimento da ‘ideia geral do Bem’. 


“Para uns, as flores representam manifestações da complexidade da vida. Para outros, delicadas expressões da sua simplicidade. Por vezes, eu transportava essa ambígua visão para a minha vida. A complexidade existencial, que para mim significava a dificuldade de satisfação dos meus íntimos anseios, me reprimia a vontade de definir meus objetivos de vida. Eu ainda não compreendia que a satisfação de meus anseios era efeito de minhas ações e não condição para eu agir. Esse desconhecimento era então um cômodo argumento para eu, literalmente, não viver! Quando realizei que tanto para determinar meus objetivos de vida quanto para me mover em sua direção me bastava rejeitar minha impotência diante das ditas complexidades, eu me vi diante do poder da simplicidade... Descobri então que para eu sair da condição de uma semente encravada em terras secas e mesmo do estado de uma adormecida semente em terras férteis, eu precisava dizer “não” à noção de complexidade como sedativo existencial. Dizendo “sim” a simplicidade, lembrei que eu estava na vida para viver, para me fazer brotar, tal como fazem, com rara simplicidade, as expressivas e encantadoras flores...”
Disse a jovem: "Irmão querido, falta-me uma brisa de Luz e de Sabedoria... Busco uma palavra que me assegure que, em algum momento, meu amor poderá ser percebido e sentido por outras mentes e corações; que me faça crer possível e real uma inquestionável conexão com as expressões de vida não materiais, das quais necessito para melhor compreensão da vida; que me torne capaz de repudiar a solidão da ignorância consciente e o cinismo da indiferença disfarçada; que me mantenha estimulada a conquistar e preservar minha plenitude, grandiosidade e humildade, a despeito de qualquer circunstância opositora. Busco uma palavra, portanto, que, a todo momento, me fará buscar a minha realização como mulher e me encorajará a me movimentar nessa direção... Que palavra é essa, irmão querido?". Respondeu o xamã: "Bela e sábia guerreira, a palavra que busca é a que melhor expressa o seu papel nesta vida, é a única que possibilita que os seus pactos superiores sejam cumpridos, é a que permite que todas as suas experiências sejam vividas e sentidas tal como você, livremente, escolheu e escolhe a cada instante: a palavra que você busca é também um gesto: prosseguir...".

“Estava me distanciando dos meus sonhos. Fazia isso porque questionava as chances de alcançá-los. Imaginava que eu necessitaria de algo além da persistência. Percebia meus sonhos como conquistas compatíveis com o tamanho de minha imaginação, porém maiores que o meu coração. Assim, preferia permitir um “sonho alternativo”, mais adequado à minha suposta possibilidade de concretização... Aceitava essa lógica meramente compensatória e frágil, mas me doía admitir que esse gesto de desistência, me mutilaria essencialmente... e esta parte arrancada de mim, por mim, cedo ou tarde gritaria no meu peito. Decidi então retomar a trilha de meus sonhos originais. Por mais longo e sinuoso que fosse o caminho até eles, convencia-me de que, a partir daquela corajosa e amorosa decisão, contaria com a compreensão do Universo. Certamente, pensava, o Universo me recompensaria com a ressonância daquele gesto de amor que dediquei a mim. Hoje, tenho consciência da magia que vivi naquele impasse existencial. Quase abdiquei de meus sonhos, mas eles próprios jamais abdicaram de mim. E estou certa de que nos encontramos, eu e meus sonhos, no preciso momento em que desisti de desistir deles...”

“Sonhava muitos sonhos quando jovem. Eram belos, mas não poderiam sequer se aproximar de minha atrevida imaginação. Inventava sensações, emoções, sentimentos e a tudo decorava com cores e formas que eu mesma criava. Parecia uma artista brincalhona diante de uma tela imaculada e receptiva. Nela lançava a minha ousada imaginação. Decidi, por isso, fazer de minha vida uma tela. Nela venho desenhando cada movimento meu. Tenho procurado fazer com que eles tenham o efeito de pincéis encharcados por cores que talvez só mesmo o meu coração possa apreciar e compreender. Hoje contemplo a pintura inacabada. Nela reservei um espaço essencial a ser preenchido. Isso acontecerá com delicados traços, mas sei que não brotará de mim essa inspiração. Para esse preenchimento, basta-me estar receptiva, aceitar as novas cores e formas que nela tocarão, porque serão desenhadas e pintadas por outras histórias, outro coração. Estou pronta para esses novos e desconhecidos traços! Certamente eles revelarão que meus sonhos podem até transpor a minha atrevida imaginação...”

“Ao chegar a noite, o jovem índio aproximou-se das refrescantes águas do lago para descansar dos bem-vindos, mas causticantes raios do sol que o haviam acompanhado durante todo o dia, na longa caminhada pela pradaria. Enquanto se recuperava do extenuante calor, à beira do lago, ele observava o caminho ainda por percorrer até chegar ao seu destino. Dele, percebia apenas as coloridas tendas da aldeia. Em uma delas, sua companheira deveria estar tecendo a manta que os esquentaria nas noites geladas. Ao pensar na quente manta e no abrasante sol que havia enfrentado, sorriu imaginando quantos eventos simultâneos e aparentemente incoerentes como aquele se revelam a todo instante na vida. Mesmo a sua evolução pessoal poderia sugerir incoerência, uma vez que ela representava, em essência, modificar-se, tornar-se diferente; e isso, em alguma dimensão, seria negar seu estado anterior. Reflexivo, retomou o caminho em direção à aldeia... Não conseguia afastar a instigante sensação de que a busca pela evolução sempre lhe pareceu um processo coerente, mas que, pensava agora, implicava uma aparente contradição: a incoerência essencial... Sofisma? Fato?”

“Linda e sorridente guerreira, hoje você conhecerá a única pessoa que foi capaz de fazer brotar a mulher em que você se tornou. Do seu otimismo diante da vida, a que sempre foi uma incansável incentivadora. De cada movimento seu em direção aos sonhos, uma paciente e inspirada orientadora. Sem a subjetiva reflexão e o objetivo entusiasmo dessa pessoa, talvez você não conhecesse o verdadeiro significado do amor e do amar, da vida e do viver. Cubra-se com a sua melhor veste e com ela adorne a percepção que aflorou em você. Respire profunda e lentamente. Deixe escapar seu sempre genuíno sorriso e abandone a tenda. Penetre no lindo dia que ainda nasce no brilhante horizonte e vá ao encontro de quem a transformou nessa admirável mulher. Caminhe sem pressa em direção ao lago de águas serenas, ajoelhe-se à sua beira, lance seu olhar para a superfície espelhada das suas águas e nela veja o reflexo da única pessoa que seria capaz de fazer brotar a mulher em que você se tornou: você... e seu sempre genuíno sorriso...”

“Você não enxerga um futuro acolhedor e isso a inquieta. Sente-se na escuridão à luz do dia, sem referências do melhor caminho. O chão que hoje pisa não tem vestígios de amorosidade. Tudo parece ameaçador em você e à sua volta. Então, você paralisa. Tudo isso é resultante do medo! Algo para mim imaginário porque, comumente, ele não vai além de uma mera e ardilosa projeção de circunstâncias adversas, que você mesma faz. Busque o sentimento alternativo! O amor! Por que inventar e concretamente precipitar situações indesejáveis, se com o desapego à imaginação do medo, você pode projetar a prosperidade, a abundância? Não aceite que o medo comande a sua vida, porque ele não a levará a lugar algum, mas a aprisionará no território da inação e do desânimo. Cuide para que seus sentimentos, pensamentos e ações, enfim, as vibrações que arquitetam a atmosfera existencial que a envolve e que determinam o seu padrão de contentamento, nasçam do amor que vigorosamente pulsa em você e quer transbordar para a vida. Perceba isso como um inadiável, essencial e encantador exercício humano e espiritual... Descubra o que é viver!”

“Sinto o perfume de outros tempos e lugares. Isso me traz de volta a imagem de minha aldeia. O som dos tambores ressoa em meu peito em igual compasso do pulsar do meu coração. Tudo isso me desperta o prazer do sabor das frutas que enfeitavam as árvores da mata em que tantas vezes me embrenhei. Deixei tudo para trás... Renunciei à minha aldeia em busca de experimentações. Será que as vivi? Não sei... Só sei dizer que ao deixar tudo que deixei, fiz uma escolha tão importante quanto a dimensão de minha renúncia. Foi difícil, mas eu precisava conhecer mais da vida, prosseguir com minha experiência. Foi o que fiz. É o que faço... Hoje sinto novos perfumes, tenho novas visões, ouço novos tambores, piso em novas terras, provo novos sabores... Era o que eu esperava? Mais uma vez, não sei... Entretanto, procuro fazer dessas, as melhores sensações... Talvez seja essa a melhor maneira de viver... ou talvez seja essa a única maneira de viver...”

“Quando o inverno alcançava a aldeia, ela parecia inabitada. Todos se recolhiam às suas tendas, onde pequeninas fogueiras eram acesas. Muitos envolviam seus corpos com coloridas mantas e mergulhavam em seu silêncio. Pareciam procurar fazer de seus sentimentos a melhor companhia. Nem sempre conseguiam. Por isso, o inverno costumava trazer uma atmosfera de reclusão e tristeza à aldeia. Até que escolhemos agir! Decidimos deixar nossas tendas! Decidimos nos reunir em torno da grande fogueira da aldeia e ficar próximos uns do outros, por vezes até nos tocando. Éramos um imenso e diversificado grupo de guerreiros e guerreiras, conectados e estimulados pelo desejo coletivo. Todos sentiam gratidão pelo calor que o outro oferecia e alegria pelo conforto que ao outro era possível proporcionar. O amor passou a pulsar ainda mais forte em cada coração, pois em torno da grande fogueira da aldeia renascia a união, a solidariedade e o comprometimento, gestos característicos de nossas tradições. Descobrimos então que o inverno passou a nos trazer a oportunidade e o contentamento de estarmos juntos como jamais estivemos, aquecidos pelo confortante fogo da grande fogueira e pela poderosa chama da percepção da nossa interdependência e complementaridade. Hoje me pergunto: o que falta para que a grande fogueira da aldeia humana seja acesa e ao redor dela todos se unam para evitar o “severo inverno do desequilíbrio” da nossa amada Mãe Terra?”

“Olhe nos olhos de quem está à sua frente. Os olhares revelam verdades indizíveis. Foi isso que aprendi ainda jovem, quando presenciei uma luta entre dois guerreiros no campo de batalha. Eles eram movidos por sonhos que, cada um, em lado supostamente contrário, precisava fazer prevalecer. Por isso, lutavam. Percebi que em nenhum momento eles se olharam nos olhos. Isso parecia autorizar o combate, pois fazia prevalecer a noção da distância, do anonimato. Já os via extenuados, quando um deles paralisou seus movimentos e procurou, com seu olhar, o olhar do oponente. Finalmente, eles se notaram como homens, não mais como inimigos. 

Surgia, então, uma nova atmosfera: a da conciliação dos sonhos que motivaram aquela luta, sonhos esses revelados pela incontestável verdade do olhar. Surpreendentemente, eles deixaram seus braços penderem, em sinal de renúncia ao combate. Descobriram que em cada um vibrava um sonho e que sonhos não se opõem. Sonhos são realidades antecipadas e realidades não podem ser destruídas. Os dois guerreiros confessaram lágrimas em seus olhares e se abraçaram. Naquele dia, presenciei algo de que jamais me esqueci: graças ao olhar daqueles guerreiros, duas realidades distintas venceram para que um sonho não fosse subjugado...”

“Julgava que minha vida havia começado cedo demais; que havia amado e sido mãe cedo demais; que havia conhecido os desafios dos convívios e me deixado iludir pelas minhas expectativas, cedo demais. Assim, pensava que tarde demais havia compreendido que aos relacionamentos eu precisaria ter dedicado o que de melhor eu pudesse ser. Imaginava que tarde demais havia percebido o quanto minhas alegrias tinham sido frustradas e subjugadas pelas minhas equivocadas expectativas, porque estas, muitas vezes, significavam eu me enxergar em alguém e não descobrir em alguém uma oportunidade para eu me expandir. Em minha aldeia, entretanto, aprendi que cedo demais ou tarde demais nada significam porque quanto mais tarde se faz o dia, mais cedo está o novo amanhecer. Assim, hoje, posso dizer que não há tempo para eu amar, ser mãe, conviver, aprender a viver e à vida me entregar. Nada é cedo ou tarde demais... A vida para mim se revela quando ela deseja se revelar. Nem cedo demais, nem tarde demais, mas no preciso e precioso tempo em que o universo desejar me acariciar...”

“A bela índia sentou-se para descansar. Havia andado muito e ainda assim não sabia se estava na trilha pela qual tantas vezes havia passado. Naquele momento de pausa e sorrindo intimamente, ela se perguntava aonde a levaria o caminho que havia tomado e se ele mais uma vez a surpreenderia. Ela gostava dessa instigante dúvida, pois isso lhe dava o conforto de compartilhar o destino com o Universo. De fato, ela não planejava chegar a nenhum lugar em especial. O que sempre a atraía era a experiência do movimento em direção ao novo, ao inesperado. O que a estimulava era a confirmação de sua íntima e generosa certeza de que viveria o melhor. Por isso, havia decidido visitar sua aldeia, sem pretender lá chegar. Simplesmente seguia em sua direção, receptiva à vida, pronta para viver as surpresas do caminho. Aquela bela índia sempre foi assim: onde ela chegaria não importava desde que estivesse caminhando o melhor e mais belo caminho... Talvez a ela bastasse caminhar... Menos importava chegar...”

Mais uma vez havia sonhado com a índia guerreira e o seu fiel lobo. A sensação ao despertar era admirável. Não compreendia como isso podia acontecer, pois jamais a tinha visto. De qualquer forma, a cada noite desejava sonhar aquele sonho, porque pressentia algo mágico, iminente. Animado, deixei a tenda. O frio persistia apesar dos primeiros raios de sol. Aproximei-me da fogueira que ainda ardia e ao lado dela me acomodei. Só então notei que a aldeia ainda dormia. Os únicos sons vinham do crepitar da fogueira e dos animais que habitavam a densa mata que nos cercava. Percebi movimento às minhas costas. Voltei-me e, imediatamente, meu corpo estremeceu: lá estavam a índia guerreira e o lobo, a poucos passos de mim. Antes mesmo que pudesse me refazer da emoção, disse ela: "Minha trilha até aqui foi traçada pela vibração dos seus sonhos. Os sonhos que vivenciou quando adormecido e em direção aos quais caminhou quando desperto. Como jamais desistiu deles, não me foi difícil chegar... Vim ao encontro dos seus sonhos para torná-los tão verdadeiros quanto escolheu sonhar e na direção deles, persistentemente, decidiu caminhar..."

“Mergulhei nas mornas e transparentes águas do rio. Ótima sensação... Senti meu corpo imerso. Flutuava... Leve... O silêncio das águas me acolhia... As incontáveis expressões de vida submersas me encantavam: diversidade e beleza. Sentia-me em um novo mundo. Nele, eu me portava como um apressado e extasiado visitante. Subi à superfície. Ao encher meus pulmões de ar, parecia ter voltado à vida, mas não conseguia negar o quanto ela também vibrava naquelas águas. Pensei: que complexidade é a Criação. Deixei o rio e pus-me a caminho da aldeia. Por um instante parei e voltei meu olhar para onde tinha estado. Contemplando o rio me dei conta do quanto desconhecia a vida... e ela, em sua silenciosa sabedoria, havia me animado a penetrar naquelas águas e a amar o novo... Sorri de contentamento... Voltei para a aldeia com a compreensão de que amar todas as possibilidades da vida está muito além de existir... É viver! Pensei melhor: que simplicidade é a Criação...”

”Chovia forte. Sentei-me à beira do raso riacho. Contemplei o suave curso das águas salpicadas pelos pingos da densa chuva. Fazia frio. A baixa temperatura me mantinha vibrante e a chuva parecia me transformar em límpido cristal. Ouvi gritos me chamando de volta à aldeia. Atraíam minha atenção para o acolhedor calor da tenda, produzido pela pequena fogueira em seu interior. Sorri para aqueles atenciosos guerreiros, mas permaneci onde estava. Sentia-me bem. Jamais havia percebido, com tamanho prazer, o frio, a chuva, o aroma da mata, o cheiro de relva molhada, o colorido da aldeia, as serenas e sempre renovadas águas do riacho, o incessante movimento dos animais, o céu nublado, as audaciosas frestas azuis que no céu deixavam vazar a luz do sol. Era a vida! Simples... em sua instigante complexidade! Com um grito de alegria, lancei meu corpo para trás e fui envolvida pela relva encharcada. Não dependia de nada para ser feliz. Bastava-me reconhecer a vida e suas possibilidades! Fiquei ali saboreando aquela revelação. Sorri de felicidade ao perceber que pingos de chuva ainda acarinhavam meu corpo quando insinuantes raios de sol já invadiam aquele momento...”

A noite estava fria, mas isso não incomodava o experiente índio. Ele estava sentado sobre a relva, em profundo silêncio, em meio à escuridão. As carregadas copas das árvores não permitiam que o luar invadisse a floresta. Um jovem índio que por ali passava aproximou-se daquele Xamã e, a alguns passos dele, perguntou:
- Por que está só na floresta, tão tarde da noite?
- Jovem guerreiro, por que veio até aqui tão tarde da noite? Responda por nós...
- Você não se sente ameaçado pelos animais que certamente o espreitam?
- Você imagina a ameaça que está à minha volta e, entretanto, não percebeu que não estou só... O medo reprime a receptividade... A ainda insuficiente luz não permite que você sinta e veja a força dos guardiões em torno de nós.
O jovem olhou em volta, aproximou-se ainda mais e disse:
- Ainda não consigo ver ninguém... Quem sabe, com a luz do sol isso seria possível?
Concluiu então o Xamã:
- A luz que ainda lhe é necessária não é a oferecida pelo sol. É a que em breve se expandirá dentro de você. Ela aplacará o apego ao medo e o tornará receptivo às melhores possibilidades, dentre elas a de nunca estar só... Então, naturalmente, você me compreenderá... Tudo que eu lhe peço é que se sente ao meu lado e se sinta verdadeiramente ao meu lado, ainda que, daqui para frente, também eu, aos seus olhos, não seja mais visível... Por isso, estamos aqui...

“O chão de terra, transformado em um irregular palco, acolhe uma colossal e sublime representação. Em vários pontos, esse acolhedor tablado evolui em surpreendentes formas: florestas, rios, planícies ou montanhas, estas querendo tocar o azul lá em cima. Os animais cumprem as suas nem sempre compreensíveis rotinas. As águas dos rios fluem enriquecidas pela diversidade das margens do caminho percorrido. Por vezes, elas se precipitam em cascatas, revelando o harmonioso e longo convívio com as rochas. Por todo esse belo cenário, flores exibem a sua graça, sem esperar admiração. Elas não precisam disso. Basta-lhes encantar o ambiente. Nada é estático... e tantos simultâneos e complementares eventos me revelam a singularidade de cada momento. Um caleidoscópio divino. Cada novo instante parece ampliar as possibilidades... em todas as dimensões. Tudo parece expandir em nome da perfeição. Eu sinto isso e preciso ser isso. Sou parte dessa complexidade de expressões. Sou protagonista dessa permanente representação. Portanto, meu próximo instante também será ampliado em possibilidades... Isso não á apenas um compromisso comigo... É o meu papel nesse prodigioso palco!”
- Sinto-me abatida por um erro que cometi...
- Não se abata com isso! Afinal, de que maneira você reconheceria, agora, de forma tão clara, uma conduta melhor a seguir?
- Não deveria então estar desapontada por ter errado?
- Eu diria que não se desapontar seria um construtivo modo de compreender a vida! O erro que você cometeu trouxe à tona um comportamento não funcional. Com ele identificado, o que eu considero um objetivo e subjetivo benefício existencial, você desenvolverá novas possibilidades de crescer... Lembre-se da lição de nossos ancestrais: O acerto está na consciência de que o erro a faz crescer e isso é, inquestionavelmente, viver. O erro está na busca obstinada do acerto e isso é, tão somente, existir. Prefira então o colorido erro da vivência ao pálido acerto da existência...

“Jovem guerreira, sonhe ao adormecer, sonhe ao despertar... Já lhe ocorreu que não sonhar é não ter o que alcançar? É existir e não viver? Já lhe ocorreu que mesmo que não seja possível realizar um sonho, sempre será possível ter um sonho para realizar, sempre será possível sonhar? Repito o que um dia lhe disse no alto da montanha, de onde contemplávamos a misteriosa beleza da pradaria: você e a vida revelam uma encantadora verdade: a mágica e instigante convivência do sonho com a realidade...”

“Do alto da montanha, lanço a minha flecha. Meu alvo é impreciso. Desejo apenas fazê-la cruzar o espaço e em qualquer ponto da imensa planície vê-la baixar. Quero que ela penetre na relva com suavidade, pois não pretendo magoar o chão em que piso. Quero que a minha flecha se junte aos recantos, aromas, cores, sons, texturas e sabores que, abundantemente, a terra faz vibrar. Minha flecha é a minha genuína linguagem, é a ponte que liga meu coração a tudo que ele acolhe. Minha flecha sabe que uma vez atirada, jamais voltará. Ela desconhece onde chegará e, ainda assim, de mim aceita qualquer direção. A minha flecha confia em mim e se deixa lançar... Para ela e para mim, qualquer lugar é o melhor lugar...”
- Velho índio... Escutei algo que me alertou para o fato de que a aproximação entre as pessoas não se limita às objetivas e subjetivas circunstâncias humanas... Isso me sensibilizou...
- Sem conhecer o que você ouviu, antecipo minha concordância. Acredito na transcendência das afinidades, das atrações... Mas, diga-me: o que escutou que tanto a mobilizou?
- Presenciei uma jovem índia dizer para um comovido guerreiro, estar segura de que o conhecia de outros tempos, que com ele havia compartilhado outros lugares e acrescentou que talvez nada mais quisesse ou mesmo precisasse dizer, bastava-lhe, como ela acrescentou, sentir a singular experiência daquele instante... Sorrindo, o jovem guerreiro respondeu perceber aquele encontro como a chegada de um delicado córrego em um lago de águas calmas e finalizou admitindo compreender que, mais do que duas pessoas se encontrando, eles experimentavam um reencontro de almas... Velho índio... Eles experimentaram e expressaram o minimamente necessário e o plenamente suficiente...

“A noite chega... Além de uma fresta de luz sobre as águas, nada é por mim perceptível na penumbra que se forma. Nela eu me abrigo dos olhares do mundo. Um oportuno momento para eu observar os recantos mais íntimos de meu coração. Com alegria descubro e desperto, em mim, virtudes escondidas e adormecidas pela pouca brandura com que tenho tratado meu coração. Invade-me o contentamento da revelação, mas sei que essas virtudes não são minhas. Jamais as possuí. Foram a mim emprestadas e em mim moldadas pelo Universo. Preciso permitir que elas despertem da clausura a que as submeti. É inadiável que elas se expressem. É essencial fazer com que elas toquem as vibrações de vida que me cercam porque o Cosmo espera se fazer ainda melhor por meu intermédio... A noite chega... Além de uma fresta de luz sobre as águas, nada é por mim perceptível na penumbra que se forma. Apenas o que acabo de aprender: o desapego às minhas virtudes...”

Já anoitecia quando a jovem guerreira chegou à aldeia. Parecia ignorar tudo à sua volta. Em meio ao estalar da lenha que projetava saltitantes chamas para o ar, ela ouviu alguém perguntar a causa da expressão de contentamento em seu rosto. Ela se voltou para o pequeno grupo que estava próximo à fogueira e, sorrindo, disse: Em meu passeio pela pradaria, fiz duas descobertas: Posso viver a vida sem precisar ser percebida como alguém admirável... Esse prêmio já não me faz falta. Descobri também que não sou escrava de mim mesma, porque renunciei à necessidade de lutar para fazer prevalecer a minha razão, quando me basta estar em paz. Então, na pradaria, finalmente conheci o valor da instigante e confortante sensação da íntima suficiência...

“O sol nascia severo. A alguma distância da aldeia, notei uma bela guerreira. Com um olhar tranquilo, ela apreciava nossos movimentos. Jamais a tinha visto. Dela me aproximei. Com um sorriso, ela acenou para que eu me sentasse ao seu lado. Foi o que fiz. Pouco a pouco, senti meu corpo entorpecer e a consciência me abandonar. O tão familiar ambiente à minha volta parecia dar lugar a outra atmosfera, a uma desconhecida aldeia. Uma extraordinária sensação me invadiu ao nela descobrir novas cores, sons, texturas, aromas, sabores, paisagens... Sentia-me sereno e feliz... até que, subitamente, uma voz me arrancou aquela sensação. Era um jovem guerreiro, da minha aldeia, que me dizia ser noite alta e que eu ali estava, sozinho, desde quando o sol ainda nascia. Confuso, olhei em volta e, aliviado, vi que a bela guerreira ainda estava ao meu lado. Mas não por muito mais tempo, porque, suavemente, sua imagem se dissipou... Revelando estar alheio a tudo que se passava, o jovem guerreiro insistia para que regressássemos à aldeia. Em silêncio, aturdido e emocionado, levantei-me e iniciei com ele o caminho de volta. De minha experiência, concluí que minha realidade não podia se restringir à objetividade, ao conhecido. Aquela nova, ostensiva, transgressora e acolhedora visão da subjetividade, do desconhecido, havia sugerido que talvez a minha vida ainda fosse atrofiada pelo palpável, pelo objetivo... fosse, portanto, uma incompleta realidade... uma completa irrealidade...”

“Despertei hoje com uma instigante sensação em meu coração. Ele parece estar contraindo e expandindo, em ritmo constante e perfeito, mas impulsionado por uma força jamais experimentada. Esse ostensivo pulsar me alegra e estimula, pois me recorda a respiração de meus ancestrais. Realizo, então, que todos à minha volta parecem experimentar a mesma sensação. O pulsar coletivo é a respiração de todos os ancestrais! É a sabedoria! É uma força que anima a todos os guerreiros de minha aldeia, de todas as aldeias do Universo! É a respiração do Grande Silêncio! O pulsar vem afirmar o desconhecimento de nossa força, de nossa interdependência e de nossa complementaridade. O pulsar rompe, em cada um de nós, o silêncio de uma inadiável pergunta: o que tenho feito por minha vida, pela vida de todos e para o Todo? Cabe a cada um de nós a coragem de também romper o silêncio de uma honesta resposta...”

“Sentia-me dominada. Imaginava que nunca me libertaria das circunstâncias que me oprimiam, porque isso implicaria o enfrentamento de um penoso desdobramento. Dessa forma, a minha libertação estava cerceada por uma perspectiva de dor, por mim mesma projetada e sustentada. Demorei a perceber aquela dor como um forçoso episódio para prevenir o estruturado sofrimento que já experimentava. Então, aceitava que o medo me entorpecesse e me fizesse acreditar nas tramas que eu mesmo tecia para não fazer o que me era essencial fazer. Finalmente, realizei que os temidos efeitos de minha libertação não precisavam ser opressores e sim circunstâncias por mim domináveis. Bastava-me uma decisão interna e, a partir dela, atribuir a todas as repercussões imediatas, objetivas e subjetivas, uma posição subordinada às minhas possibilidades e oportunidades; portanto, sob meu comando. Sim, esse seria o primeiro passo para consolidar a minha libertação: a solitária, íntima e prazerosa decisão de ter a minha vida, enfim, sob meu controle...“

“Ainda jovem, eu imaginava que um convívio seria harmonioso quando a outra pessoa se amoldasse às minhas ideias e, da mesma forma, quando às dela eu me ajustasse. Hoje, não aceito que essa mútua acomodação, quem sabe até abdicação, possa forjar um saudável relacionamento. Percebo o êxito de uma convivência quando cada um preserva as suas ideias, sem mutilação, com entusiasmo pelos benefícios das possíveis diferenças e até mesmo pelos novos conceitos que a relação faz aproximar. Jovem, imaginava ainda que para eu experimentar uma recompensadora convivência seria necessário dela extrair o melhor proveito. Embora inconscientemente, eu me empenhava obstinadamente para isso. O tempo, por fim, me ensinou que para eu tirar da relação o melhor para mim, nela eu devo colocar o melhor de mim... Coisas simples como essa desfizeram, em mim, a noção da complexidade das relações...”

“Em momentos de aflição, procure não somente jogar fora os pensamentos. Isso não significa a solução. Não existe o conceito de jogar fora, porque jogar para fora de você é deixar ficar dentro do mundo, é deixar vibrar na vida e, inevitavelmente, é aceitar voltar, de alguma forma, para você. Isso é verdadeiro para o cotidiano lixo da vida material, assim como para as inquietações da sua mente e de seu coração. Não jogue fora, simplesmente, o que não deseja ou necessita... Isso não funciona... Reflita sobre como prevenir o desenvolvimento de tais objetivos e subjetivos resíduos, aja para dar a eles uma inteligente e sensível solução e transforme a experiência em um estímulo para novas e necessárias condutas...”

“Eu me pergunto por que insisto em buscar uma visão intelectualmente compreensível para a liberdade... Não me bastaria exercê-la?...”
“Seja uma delicada folha. Deixe-se flutuar nas águas dos rios... e deslizar. Contemple as margens e delas as sempre renovadas paisagens. Veja como os rios, seduzidos por aquela beleza, renunciam a um pouco das suas águas, para umedecer a terra. Nela fazem brotar ainda mais encanto. Note como as águas se poupam de desnecessários embates. Elas não precisam destruir as pedras que encontram pelos caminhos. Apenas as contornam delicadamente e prosseguem o seu curso. Vivencie a turbulência das águas serpenteando pelas planícies. Surpreenda-se com o vertiginoso espetáculo das cascatas. Aprenda com os rios, a determinação de se fundir com os oceanos e a alegria ao encontrá-los. Deixe-se agora flutuar nas águas dos grandes mares... Você poderia imaginar que uma delicada folha poderia chegar tão longe?”

“Recostei-me na acolhedora árvore para olhar a planície. Nela, nada parecia ter mudado. Sei, entretanto, que de onde eu a contemplava, essa era uma percepção possível. Se dela eu me aproximasse, talvez conseguisse notar as admiráveis transformações que a cada instante aconteciam... Pensei então: E se, da mesma forma, eu não me observasse de tão longe? E se eu me aproximasse de mim, das mudanças essenciais por que passo? Essas questões me inquietaram e, por isso, me pus de pé e caminhei em direção à planície. Queria dela apreciar, na aparente imobilidade de sua forma, a dinâmica de suas expressões. Afinal, de tão longe não podia conhecer a planície. Já nos primeiros passos em sua direção, surpreendi-me sorrindo. Descobri que ao me dirigir a ela, caminhava também em direção a mim! Afinal, não podia me conhecer de tão longe... Precisava me ver bem de perto... Foi indescritível a experiência de me sentir cada vez mais próximo de mim... Apressei o passo... Quase corri... Por que sempre me observei de tão longe?...”

“A bela índia levantou cedo e correu para onde esperava encontrar toda a aldeia reunida. Lá estavam todos. A conversa fluía durante a primeira refeição. Tudo acontecia como sempre. Era confortante aquele e outros hábitos coletivos. O convívio se afirmava a cada dia e isso a satisfazia. Em uma determinada manhã, ela não levantou cedo. Foi para o local da refeição matinal e ninguém mais lá estava. Tudo aconteceu sem que ela estivesse presente. Talvez tenham notado a sua falta, mas disso ela nunca soube. Olhou à sua volta e percebeu que, na aldeia e fora dela, mesmo com a sua ausência, tudo seguia sua rotina... Naquele momento, decidiu romper com o conforto do previsível, porque seu silêncio gritou: o que você sente é o medo! Na manhã seguinte, despertou bem cedo. Não viu ninguém. Nada ainda acontecia na aldeia. Só a fogueira ardendo, os lobos pressentindo a saudade e a sua calada despedida. A bela índia optou por prosseguir. O desapego ao medo de viver sua própria vida foi doloroso. O solitário passo em direção do amor foi... Bem, este costuma ser o melhor movimento...”

“Era alta noite. Minha dificuldade para dormir persistia. Ondas geladas me instigavam intimamente. Levantei-me, deixei a tenda e me coloquei bem próximo do lobo que, desperto e como leal guardião, sempre me acompanhava. Pretendia que o calor do seu corpo aquecesse o inverno em meu coração. Surpreendi-me abraçado a ele. Não sabia por que eu fazia aquilo, mas o impulso era mais forte do que a compreensão. Passado algum tempo, voltei para o interior da tenda. Sentia-me bem. Adormeci. Junto com os primeiros raios de sol, despertei. Estava animado. A aldeia também já acordara, mas o lobo continuava profundamente adormecido. Percebi então que ele havia necessitado do inverno que acontecia em mim, tanto quanto eu desejava o confortante calor que dele emanava. Admito ser possível que minha percepção seja improvável, mas para mim é improvável que ela não seja possível... Assim, desde então aceito que o meu impulso, por vezes, precisa ser maior do que a compreensão... Trata-se de experimentar os meus instintos... a eles respeitar... neles confiar... como um verdadeiro lobo...”

“A cada instante você busca melhorar. Isso significa mudar. Mudar quer dizer, necessariamente, ser diferente do que você é. Ser diferente não representa então uma contradição essencial? Talvez sim... Por isso, posso admitir que a verdadeira evolução esteja na contradição existencial. Ela nega a placidez diante de si mesma, das pessoas, das circunstâncias... e da vida. Ela incita você a se mobilizar, a rearranjar e dar novas cores ao seu cotidiano. A contradição celebra o movimento, estimula a benigna transgressão, contesta a mera aceitação e a quieta contemplação de antigas paisagens. Ela sugere novas perguntas em novos caminhos... para descobrir novas respostas em novos lugares...”

“Você me pergunta onde encontrar a pessoa que signifique a sua ‘admirável paisagem’. Talvez nas montanhas exista alguém que não se contente em ouvir as suas palavras, mas deseje compreender os seus silêncios... Quem sabe nas matas exista alguém que perceba o toque não apenas como um encontro de superfícies sensíveis, mas como a fusão de essências... É possível que na pradaria exista alguém que estimule os seus sonhos, mesmo que deles jamais faça parte... Ou mesmo nos rios exista alguém ao lado de quem você realmente não precise ‘estar’, mas possa genuinamente ‘ser’... Escolha qualquer lugar! Ninguém que tenha qualquer um desses valores deixará de ter os demais! Assim nos ensinam as águias: um único e belo recanto pode constituir uma ‘admirável paisagem’...”
“Parei para descansar. Voltei-me para o caminho percorrido e contemplei, uma vez mais, a já distante aldeia. Senti meu coração apertado pela renúncia que fazia. Era realmente um belo lugar. Tudo lá acontecia como esperado, sem sustos, o que tornava ainda mais difícil a minha decisão. Mas isso era inadiável. Precisava ir além da serenidade do previsível. Desejava o sobressalto do inesperado, do acidental; almejava a inquietação da dúvida, que me incitaria a coragem do movimento, o exercício da escolha; necessitava experimentar novas paisagens, pessoas, sensações e emoções, que me fariam descobrir novas respostas para as velhas e insistentes perguntas. Não podia fraquejar. Portanto, prossegui. Continuei caminhando em direção à trilha que serpentava pela planície. Ela me levaria para bem longe de minha aldeia mãe... Sentia-me deixando o acolhedor ambiente de seu útero... Descobri que não nascia novamente... nascia finalmente...”
A linda guerreira aproximou-se de onde eu estava, sentou-se à minha frente, tomou-me as mãos e, de forma carinhosa, confessou:
- Rompi com a incessante e plácida reflexão sobre o passado e o que ele fez do meu presente. Desejo viver alegremente novos momentos e deles fazer um estimulante esboço do futuro... Enquanto refleti sobre como tenho vivido, a vida passou... Quero aproveitar os tempos que ainda passarão...
Prosseguiu ela:
- Por querer me aproximar de possíveis repostas para os meus muitos desencontros, tenho a sensação de que me distanciei de possíveis encontros... Decidi (re)agir! Aceitei que o grito do desejo de conhecer desejadas e exuberantes cachoeiras se sobrepõe ao silêncio das águas calmas... Estou pronta para acolher minha inquietação...
A bela índia se pôs de pé e caminhou na direção do horizonte. Alguns passos adiante, parou...  Contemplando os bem conhecidos movimentos da aldeia, me disse sorrindo:
- Sinto falta do espetáculo das cachoeiras, embora jamais o tenha visto...

“Deixo a aldeia para descobrir novas possibilidades, mesmo com a incerteza do êxito. Mas, quais são as minhas irrefutáveis certezas? Estou disposta a enfrentar os vendavais e as tempestades que devastam os campos, asfixiam as colheitas... e que podem oprimir meu coração; estou disposta a me embrenhar nos labirintos das florestas... e lá descobrir, a cada passo, os melhores caminhos; estou disposta a me expor aos búfalos que, em disparada, fazem estremecer a chão... e o conforto das escolhas fáceis; estou disposta a me abater com a fadiga, a fome e a sede na travessia das áridas colinas... na travessia de uma efêmera reclusão... Faço isso porque não consigo mais negar a devastadora verdade de que, por mim e pela minha alegria, necessito prosseguir...”

“Você afirma que não deve tentar ser melhor do que nenhuma outra guerreira e sim buscar ser melhor do que você mesma já foi... Não quero desestimular tal conduta, mas parte dela me inquieta... Penso que a ideia de você procurar ser ‘melhor’ do que já foi, aprova a noção de que você foi ‘pior’ do que pode ser... Isso parece desmerecer seu esforço para ser o tanto que foi, em dado momento, em condições típicas de uma atmosfera que jamais se repetirá... Por isso, não consigo renunciar a algumas perguntas: O que é ser ‘melhor’? Que referência você teria para tornar absoluta essa avaliação? Quem sabe a visão alternativa a de se comparar a outra guerreira não seria a de você hoje estar pronta para admitir diferentes visões para diferentes circunstâncias? Por que buscar ser ‘melhor’, se a vida não ‘melhora’ as suas próprias provocações. Ela tão somente as transforma... Por essa razão e por coerência com o seu empenho, penso que você não saberia, hoje, ser ‘melhor’ do que foi... Não é isso que a vida espera de você... Ela quer suscitar, em você, novas respostas... para novas provocações...”

“De onde eu estava, podia perceber transformações nos campos. Entretanto, um caprichoso movimento na paisagem me chamou a atenção: muitas flores cresceram, desabrocharam, tornaram-se maduras... Outras tantas nasceram... tornaram-se botões... Constatei que o tempo estava passando e isso me fez refletir sobre o que ainda não tinha conseguido viver. Senti angústia... Para inspirar um novo sentimento, recostei-me em uma acolhedora árvore. Em seus galhos, percebi ninhos de pequenos pássaros dourados. Com seus bicos apontados para o alto, reclamavam sua refeição. Me dei conta de que eles estavam apenas dando os primeiros passos pela vida. Perguntei-me então para que lamentar o tempo que passava... Por que não me sentir como os pássaros dourados? Posso ser como eles, dando os primeiros passos, se finalmente aceitar que, em qualquer tempo e a todo tempo, novos tempos sempre virão...”

“No horizonte, o sol se reerguia para iluminar mais um dia. Contemplei a criação: a relva mais uma vez despertava enfeitada pelo orvalho; os pássaros anunciavam freneticamente seu despertar; os animais na floresta provocavam um divertido alvoroço; as águas deslizavam pelos acolhedores leitos dos riachos, obedecendo as sempre orientadoras margens; a inebriante mistura de aromas de flores, frutas, terra e mata tomava conta da atmosfera. Enfim, admirei a malha de prosperidade. Realizei que, diariamente, um colossal e complexo sistema de possibilidades se renovava e que eu era uma ativa parte dele. Percebi o meu papel nesse grande milagre. Constatei que dele eu era mais do que simples observador, era também artesão. Essa revelação me comoveu, comprometeu e responsabilizou profundamente com o prodígio do universo. Hoje, eu me sinto intrínseca parcela desse extraordinário e sincronizado sistema de possibilidades e, a cada instante, ajo como tal...”

“Quando os intensos ventos soprarem, crie imediatamente bons pensamentos... Lance-os aos ares... Conduzidos pelos ventos, os bons pensamentos cruzarão virgens planícies, escalarão desafiadoras montanhas, agitarão caudalosos rios, até encontrarem o seu destino... Os ventos nos ensinam que mesmo as suas mais vigorosas manifestações revelam confortantes brisas... Assim, quando os rudes ventos chegarem, lembre-se dos suaves ares... Eles trarão os bons pensamentos... de outros tempos e lugares...”

“Ao se sentir abatida, é possível que você queira conhecer outras aldeias, longínquos campos e montanhas, novos rios e lagos... É possível que você deseje, enfim, mudar as paisagens da sua vida! Modifique-as quando quiser, mas mude igualmente o seu olhar... Faça isso para que as suas mais belas e íntimas paisagens, as que enfeitam os recantos de seu coração, possam também se transformar...”

“Às vezes nos perguntamos como as árvores resistem às rigorosas tempestades... As folhas se agitam desordenadamente e os troncos balançam como vigorosos e desorientados pêndulos. As árvores não desistem... Permanecem firmemente enraizadas... Será esse fenômeno um ensejo para aprendermos sobre não sermos tolos para tentar transformar o que é irreversível e sermos sensíveis para recuar? Sobre não sermos frágeis para ceder ao que nos parece forte, mas sim resistentes para enfrentar? Sobre não sermos alvos imóveis de vibrações excessivas e sim almas sábias para delas nos esquivar? Não é isso que as tempestades da vida tentam nos ensinar?”
Sabia que devia prosseguir e ali estava eu diante de três caminhos: À minha esquerda a trilha que beirava o rio. Por ela, eu caminharia refrescado pelas claras águas que fluíam em direção ao mar, teria minha sede saciada a qualquer momento e abreviaria meu caminho se pelo fluxo das águas me deixasse puxar. À minha direita, o caminho cortava a enorme selva. Árvores ofereceriam acolhedoras sombras e saborosos frutos se pelo verde das matas me deixasse levar. À minha frente, as desafiadoras e mágicas montanhas. O caminho mais próximo do céu. Se em frente então seguisse, do topo das montanhas tudo eu contemplaria. Se para a esquerda me voltasse, admiraria o rio serpenteando pela pradaria e, em forma de cachoeiras, sua incontida alegria. Se para a direita me virasse, contemplaria o manto verde das florestas e sua instigante sabedoria. O caminho das águas, das matas ou das montanhas? Qual deles? Não importa. Tudo é vida. O que vale é fazer da alegria das águas, da sabedoria das matas ou da visão das montanhas, a melhor razão para sorrir, a melhor razão para prosseguir.

“Ter medo do futuro é imaginar e projetar o indesejável. Ter amor pelo futuro é reconhecer e construir os sonhos. Ter medo do passado é admitir a ressonância dos desapontamentos vividos. Ter amor pelo passado é confortar-se com os ecos dos encantamentos sentidos. Ter medo do presente é refugiar-se no passado ou no futuro. É opção sofrida. Ter amor pelo presente é exaltar passado e futuro. É opção pela vida.”

“Subitamente, não ouvia mais a algazarra das crianças, o som dos tambores e as vozes dos guerreiros lastimando a fraca jornada de caça... Tudo estava tão silencioso, que eu imaginei ouvir o murmurar das águias sobre a aldeia... Intrigado, saí da tenda. Deparei-me com uma curiosa cena. Todos na aldeia imitavam o gesto de uma jovem índia que, em silêncio, dirigia seu olhar para as estrelas... Não me contive e dela me aproximei. Perguntei o que fazia. Ela me olhou, sorriu, voltou seu olhar para o alto e disse que estava a sonhar com uma melhor temporada de caça... Perguntei por que todos a rodeavam em silêncio... Ela respondeu que todos nada faziam além de sonhar o mesmo sonho... Ao me notar desconcertado, disse que a melhor maneira de se alcançar a prosperidade da aldeia é transformá-la em um sonho coletivo... Comovido, imediatamente juntei-me a todos... Aprendi, com aquela jovem guerreira, que há um sonho impossível de fracassar: o sonho de todos...”
Era um frio e colorido final de tarde. Do alto da montanha, eu contemplava a pradaria que se avermelhava com o pôr-do-sol.  Uma jovem guerreira se aproximou e, em voz alta, revelou ter a certeza de que tudo em sua vida se daria tal como por ela desejado... Perguntei o que tanto a inspirava para expressar tamanha convicção. Respondeu ela que a força de suas palavras vinha da fé que tinha no Grande Espírito... Delicadamente, disse que entendia ser preciosa a fé no Grande Espírito, mas que não a aceitava como suficiente... Surpresa com minha ousadia, ela perguntou o que mais seria preciso além daquilo que ela entendia ser a máxima demonstração da positiva atitude humana. Calmamente, respondi: “A fé em você mesma... No que você é capaz de fazer...”
Disse ela: Estou certa de que sinto o verdadeiro amor! Não me canso de gritar para o universo o quanto estou invadida pelo inexplicável, feliz e prazerosamente dependente da convivência e confiante na suficiência que me protege do mundo. Somos duas aves voando o mesmo voo, lado a lado, com asas entrelaçadas... Respondeu o xamã: Estou convencido de que você acredita sentir o verdadeiro amor. Minha apreensão é a de que você talvez expresse esse amor por críticos caminhos. Encanto-me com a imagem de vocês se sentirem como duas aves, mas não acho admirável a dependência. Ela é progressiva, opressora, restritiva e a ilude a ponto de você acreditar no positivo valor da suficiência do que vive, que antes de protegê-la do mundo, dele a isola. Eu recomendaria o exercício da essencial individualidade, dos livres voos em busca dos sonhos. Sonhos de cada um, ainda que os mesmos. Sonhos reciprocamente estimulados. Acho bela a ideia do voo lado a lado, desde que por escolha. Asas entrelaçadas jamais permitiriam a escolha e, em pouco tempo, fariam os dois irem ao chão...

“Muitas pessoas se comovem ao contemplarem os pássaros cruzando o céu. Seria função deles nos encantar com a beleza das suas cores ou nos instigar com o significado dos seus livres movimentos? Qualquer resposta pode ser perfeita, ainda que jamais seja a única. Assim, ofereço mais uma possibilidade: os pássaros cruzam o céu para que ergamos nosso olhar para o alto, para além deles, para além de nossa visão, para muito além de todos os céus, para onde caminham todas as perguntas, para onde se encontram todas as respostas: o universo dentro de nós...”
“De volta à aldeia, eu e Nirawá caminhávamos com alguma dificuldade. Nada tínhamos senão algumas sementes de frutos e a vontade de chegar. Sentíamo-nos cansados e famintos, depois de dois dias cruzando a imensa pradaria. À beira de um lago e em um acolhedor recanto desenhado pela sombra de frondosas árvores, ela sugeriu que por alguns instantes parássemos. Desejava deixar plantadas, naquela fecunda terra que margeava a trilha que percorríamos, as poucas sementes que carregávamos. Concordei, ao mesmo tempo em que perguntei a razão de plantar sementes em terras tão distantes da aldeia. Ela sorriu e me ofereceu inesquecíveis palavras: Você conhecerá um dos significados da vida quando plantar sementes de deliciosos frutos, sem deles pretender provar... Para você, será suficiente saber que um dia alguém por esse caminho passará... e deles, prazerosa e sofregamente, se alimentará...”

“Perguntei à jovem índia de onde vinha a expressão de contentamento em seu rosto. Sorrindo, ela me respondeu que vinha da sua consciência de ainda não ter alcançado a felicidade. Intrigado, devolvi o sorriso e permaneci em silêncio. Ela prosseguiu dizendo que chegar à felicidade poderia significar o fim do seu caminho, o que ela não desejava, mesmo que esse fim significasse viver a experiência do tão fantasiosamente cobiçado êxtase humano. Disse ainda que a chegada aos campos da felicidade e o consequente êxtase poderiam anteceder a uma sensação que ela definiu como vácuo existencial... Sua alegria vinha, enfim, de uma atitude receptiva e uma conduta ativa à ideia do bem-estar e que, através delas, havia descoberto o que ela chamou de veio da felicidade: o caminho para a alegria. Mais uma vez, ela sorriu e me perguntou se existia algo mais saboroso do que estar e se sentir no caminho dos campos da felicidade e dela ir provando, pouco a pouco... passo a passo... Admiti que ela era feliz... Ainda me pergunto se além de me oferecer uma bela visão da felicidade, ela não teria me ensinado a viver...”

“Cansada, a bela índia Okrawá se recostou na pedra. Sorria de satisfação pelo trabalho do dia, ao mesmo tempo em que sentia um aperto no peito ao lembrar de que ainda muito pequena havia deixado a sua aldeia... Permitiu algumas lágrimas... Sorrisos e lágrimas se encontraram, enquanto seu olhar percorria a aldeia. Percebeu então uma indiazinha que, de um jeito muito terno, a observava. A bela índia nunca tinha visto aquela criança. Ficou surpresa e desconcertada quando a menina caminhou em sua direção. Já ao seu lado, docemente, a pequena índia admitiu que as lágrimas e os sorrisos de Okrawá haviam chamado a sua atenção... Acrescentou que as lágrimas revelavam a consciência de que a real importância da escolha de deixar a aldeia, para buscar sua própria história, estava na dimensão da renúncia que ela precisou fazer... Quanto aos sorrisos, disse ela que eles anunciavam as construtivas ações que Okrawá tem sido capaz de empreender... Finalizou afirmando que, para ela, não havia encontro melhor do que o de lágrimas e sorrisos... A pequena índia sorriu, levantou-se e iniciou a sua caminhada de volta... A cada passo, sua imagem se dissipava, até desaparecer por completo... Aquele anjo tinha acabado de oferecer, a Okrawá e à vida, uma até então impensada e simples visão para nossas lágrimas e sorrisos: consciência e ação...”

“Era uma linda índia imersa em seus pensamentos. Seu rosto revelava um traço de dor. Aquilo me comoveu. Ainda que não me sentisse seguro em me aproximar, foi o que fiz. Hesitantemente, arrisquei algumas palavras. Absorvida que estava por suas emoções, ela sequer me olhou ou mesmo respondeu. Decidi voltar para a aldeia. Assim que dei os primeiros passos, escutei a sua voz. Pedia para eu ficar. Vagarosamente, voltei e me pus ao seu lado. Ela ainda revelava tristeza. Tão próximo, percebi que ela chorava. Quase sussurrando, a ela assegurei que ao seu lado permaneceria em silêncio... Concluí dizendo: ‘deixe-me ficar... quero ajudá-la a chorar...’ Docemente e pela primeira vez, a linda índia me olhou. Por trás de uma delicada cortina de lágrimas, revelou um breve sorriso e disse: ‘fique... ajude-me a sorrir...’ É o que tenho feito desde então... Talvez essa seja uma das mais amorosas maneiras de ser companhia: ajudar a chorar e a sorrir...”

“Cavalgue por recantos desconhecidos... Quem sabe neles você encontrará alguém que ouça as perguntas que deseja fazer e ofereça as respostas que necessita escutar? Cruze os imensos campos cobertos por flores coloridas ou carentes do afago das chuvas, atravesse córregos delicados ou rios caudalosos, ultrapasse suaves montes verdejados ou montanhas desafiadoras... Descanse em relvados acolhedores... Refresque-se em lagos transparentes... Quem sabe, nessa jornada, você encontrará alguém que ouça as perguntas que deseja fazer e ofereça as respostas que necessita escutar? Quando você tiver certeza de que esse encontro não será possível, volte para a sua aldeia, para a sua tenda, para você mesma, para o silêncio do seu interior... No conforto e na sabedoria desses recantos íntimos, bem próximos de você, finalmente encontrará o que supôs conhecer em recantos desconhecidos, bem distantes de você...“

“Aproximei-me da bela índia sentada à beira do rio e a ela perguntei a razão de ali estar sozinha, desde o nascer do sol... Ela me sorriu e ofereceu um doce olhar... Disse que não se sentia só, porque ao seu redor e em seu coração ressoavam muitas das suas felizes experiências. Contou que fazia questão de manter acesa a fogueira das boas recordações, das boas vibrações, e apagar o fogo dos sobressaltos, deles guardando apenas o calor das lições que deixaram. Diante de minha expressão de perplexidade, ela mais uma vez sorriu e me convidou para sentar ao seu lado. Fiz isso, me perguntando como havia sido guiado até ela. Parecendo ler minha mente, ou meu coração, delicadamente ela disse que só a fogueira das boas vibrações permite os encontros... e que não tinha sido diferente daquela vez. Finalizou, recomendando que eu mantivesse aceso o fogo das alegrias vividas, porque enquanto esse fogo ardesse, meu coração estaria aquecido... e, assim, alguém nele procuraria abrigo, tal como eu, sem perceber, acabara de fazer... Jamais me esqueci da lição da fogueira... e daquela índia guerreira...”

“Em uma pequena elevação montanhosa, eu contemplava a imensidão e a beleza da pradaria. Sentia-me feliz por ser um índio guerreiro e poder observar a vida tão longe quanto meus olhos pudessem alcançar. Lembrava dos pequenos animais que não podiam contemplar aquela paisagem e, confesso, experimentava uma sensação de superioridade. Enquanto me regozijava com minhas fantasias, uma águia cruzava o céu em voo suave e soberano. Foi o suficiente para que eu percebesse o quanto estava enganado em relação à minha tola sensação de superioridade. Afinal, a águia podia enxergar ainda mais longe e melhor do que eu... Naquele momento, aprendi que são muitas as visões da vida, porque as percepções são individuais, e que cada um de nós enxerga o que, por natureza, é permitido enxergar. Finalmente, desci da pequena elevação montanhosa em que me encontrava, certo de que não mais precisaria dela para enxergar longe... ou enxergar melhor. Bastaria o que pudesse enxergar... Essa seria a minha permitida percepção da vida... Nela, eu precisaria alcançar a sabedoria da suficiência e, a partir dela, viver o melhor que pudesse... Afinal, não sou uma serpente que com rara precisão enxerga alguns metros à sua frente, nem uma águia que contempla o horizonte... Sou, tão somente, um índio guerreiro... Enxergo a vida a meu modo... e, dessa forma, preciso fazer o melhor...”

“Jovem guerreira, penso que o ciúme seja uma extravagância do zelo e que, se sentido além de seus prudentes limites, pode precipitar o apego. O apego reclama a posse, confessa a dependência, admite a incompletude e protesta pela necessidade de algo ou alguém para que você se sinta inteira. Imagino então que ciúme, zelo e apego sejam águas que fluam para o leito de um mesmo córrego que, em algum momento, se agiganta para se revelar um caudaloso rio: o rio do medo! Sim... medo! Não de você perder algo ou alguém, mas de perder o que, ilusoriamente, você julga ser uma parte inseparável, essencial, de você...”
Disse o guerreiro: Esta é a minha primeira caçada... Devo admitir que minha flecha ainda não é certeira... Por isso, não arriscarei abater nenhuma caça... respondeu o xamã: Jovem guerreiro, tal como a flecha lançada, a oportunidade perdida jamais volta! Aproveite a chance! Tenha como conforto a realidade de que nem o mais experiente guerreiro pode garantir que sua flecha abaterá a caça pretendida... Talvez em muitas tentativas que hoje fizer, pouco sucesso você terá... Mas, eu lhe asseguro: assim como na sua vida, em todas as tentativas que não fizer, nenhum sucesso você terá...

Disse a guerreira: Por instantes, eu gostaria de voltar a ser simplesmente espírito... Descansar o corpo que me abriga e flutuar pelo universo infinito e acolhedor. Em paz, tomar caminhos que me conduzam a destinos incertos e perfeitos; contemplar luzes cuidadosamente brilhantes; embalar-me ao som de cânticos entoados por um coral de anjos, que de algum recanto cósmico me assistem; deixar-me encantar por cores familiares, por matizes exóticos, por visões surpreendentes; ter sensações singulares ao tocar o que imaginava intangível; estar entorpecida por fragrâncias desconhecidas, desconcertantes; enfim, experimentar o que me parece humanamente inconcebível... Sou mesmo capaz de sonhar... Respondeu o xamã: Linda guerreira, ao manifestar seu desejo, você não se sente como se tivesse realmente vivido essa experiência? Você é capaz de sonhar... e sonhar é conceber e atrair realizações...

“Do alto da montanha, vários irmãos guerreiros me chamavam. Algo especial parecia acontecer. Decidi subir... e rapidamente. À medida que escalava a desafiadora montanha, o topo me parecia cada vez mais distante. Não desanimei. Aumentei o ritmo! Sabia que as oportunidades não costumam esperar. Como os ventos... elas vêm... e vão... O esforço era grande, mas o cansaço da subida em vez de arrefecer meu ânimo, fortalecia meu corpo e meu espírito. Próximo do topo, ainda podia ouvir os gritos que me estimulavam. Num último impulso, cheguei até lá! Finalmente, o topo da montanha! Curiosamente, não havia ninguém... e isso não me surpreendeu. À minha volta, o espetáculo da criação: cores, luzes, formas, perfumes, sons... compondo inesquecíveis paisagens. Sorri de contentamento pela escolha de não renunciar aos acenos da montanha. Lá no alto, percebi novos recantos e belezas em terras que eu supunha conhecer. Aprendi mais sobre como lidar com as pessoas com as quais convivemos: há sempre novos mirantes para contemplar conhecidas paisagens...”

“Linda guerreira, muitas são as vezes que subo a montanha para observar o horizonte e tentar adivinhar algum movimento que anuncie a sua chegada. Nada percebo senão o confortante vento que me toca, como uma consolação pela longa espera da qual me alimento. Por onde tem andado desde que decidiu buscar a si mesma? Dê algum sinal, pelo pássaro mais veloz, para que eu abandone a minha espera e possa estar com você. Para que eu, enfim, conheça suas múltiplas dimensões: aquela que busca e aquelas muitas que serão buscadas; todas elas, veios paralelos da mesma essência, que inevitavelmente se encontrarão para transformar a complexidade da busca e a simplicidade do encontro, em uma quase perfeita definição de felicidade...”

“Por vezes, contemplo a imensidão da pradaria e me sinto só. Nesses momentos, recorro ao passado porque preciso de companhia e ele me socorre. Vigorosamente, experiências vividas me reanimam o coração. No meu rosto, elas esboçam um sorriso. Mas logo tudo acaba, me impondo admitir que o tempo presente não é o lugar do passado. Como lidarei com isso no futuro? Também nele, me vejo admirando a vastidão de outras planícies. E se novamente eu me sentir só? Buscarei novos passados? Quais serão eles? Claro que existirão outros além dos que hoje abrandam minha inquietação! Os que a partir de agora, construirei! Exatamente! Com a percepção desse meu imenso poder, meu coração, enfim, transborda alegria! Realizo que não há razão para eu contemplar a pradaria, com alguma melancolia, se a minha vida está, definitivamente, em minhas mãos! Se, no futuro, porventura, eu me sentir só, ao meu lado estarão mais do que incolores passados. Estarão vibrantes recordações dos sorrisos que hoje, no tempo presente, eu me proporcionar. Estará a certeza de que a vida é assim... Farei isso por amor à vida... Farei isso por amor a mim!”
Disse o guerreiro: Há ocasiões em que minha vida se revela como uma noite escura... Não consigo perceber nada à minha frente... Respondeu o xamã: Mas é na noite escura que você vive o melhor momento para observar o céu! É nela que as estrelas transbordam seu brilho, revelam a infinitude, o poder e o encanto do universo. É na noite escura que as estrelas a estimulam fechar os olhos para o que a você tem sido imposto ver e dirigir o olhar para o que, amorosamente, sempre esteve à sua volta e que com o brilho das estrelas só naquele momento é possível perceber...

“Linda guerreira, procure viver suas experiências com uma atitude de consciente permissão e uma conduta de instintiva naturalidade... Todas as experiências que a vida possibilita são indispensáveis alicerces de sua estrutura psíquica, moral e espiritual. Vivencie-as... plenamente... Depois, se desejar, reflita sobre elas. Entretanto, quando assim o fizer, não busque o conforto das respostas perfeitas. Simplesmente, descubra perfeição nas respostas que puder encontrar. Faça ainda uma instigante descoberta: a perfeição não está necessariamente na certeza que a reflexão possa lhe ofertar, mas na dúvida que ela possa lhe suscitar... Não é assim a vida?”

“Jovem guerreira, manifeste as suas convicções: genuínas expressões de seus valores. Faça isso de forma clara, firme e amorosa. Como nos campos de batalha, afirme a sua posição! Evite ser uma frágil folha de outono soprada pelos fortes ventos das pradarias... A indefesa folha a eles não resiste, sucumbe à sua força, jamais expressa a sua própria essência... Com a irresistível força dos ventos, a delicada folha nunca sabe para onde será levada... Você se vê como uma indefesa folha de outono?”

"A lua se escondia atrás de carregadas nuvens, deixando a aldeia em meio à escuridão. Eu caminhava com cuidado, embora conhecesse cada pedaço daquele chão. As tendas já estavam silenciosas. Ao lado de uma delas, percebi uma jovem guerreira acendendo uma acanhada fogueira. Com ela, comentei: Como a lua está tímida em sua luz, a chama de sua fogueira destacará a beleza dos desenhos e das cores de sua tenda... Sorrindo, ela contestou: Alegro-me com suas palavras, mas com a fogueira que eu acendo não pretendo atrair a atenção para a beleza dos desenhos e das cores do meu lugar. Desejo, tão somente, aquecer quem do calor precisar... e iluminar o chão daqueles que, durante a escura noite, por aqui desejarem passar... Reflexivo, prossegui minha caminhada pela aldeia... Com menos dificuldade, pois agora havia luz na noite... Vinha da chama da pequena fogueira... e do enorme coração daquela bela guerreira..."
Disse a jovem: Você sempre me ofereceu respostas para as questões que eu precisava e não conseguia fazer, e me dirigiu perguntas que eu não enfrentava, mas precisava responder. Reconheço em você a sabedoria típica de uma vasta experiência, mas, ao mesmo tempo, vejo em você rara vitalidade, um corpo forte, um olhar vibrante. Por isso, farei hoje eu uma pergunta, ainda que impetuosa. Em que momento existencial você está? Respondeu o xamã: Para as uvas que brilham na videira ao seu lado, tenho muito tempo vivido. Então, posso estar no inverno de minha vida! Para as florestas que daqui do alto da montanha você observa, tenho pouca existência. Portanto, sou muito jovem... Vivo a primavera de minha existência humana! Não sei se respondo à sua pergunta caminhando em direção à extensa e intensa floresta ou descansando à sombra da acanhada e acolhedora videira. O que você sugere?

“Despertei pouco antes do amanhecer. Notei o céu ainda estrelado. Ao meu redor nada se movia senão as chamas das fogueiras que ampliavam a luz do amanhecer e aqueciam a aldeia. Caminhei até a beira do rio. Lá encontrei uma linda guerreira. Ela conversava com as estrelas; reverenciava o momento em que a vida troca as vestes da noite pelos transparentes véus da manhã. Sinalizou para que eu não fizesse nenhum ruído. Ela escutava algo. Segundos depois, ela se voltou. Disse ter sido presenteada com uma revelação das estrelas. Notando meu interessado silêncio, transmitiu-me cada palavra: nada será perfeito se você ainda perceber imperfeito o que lhe satisfaz... Comovido com o que ouvi, permaneci olhando para ela por alguns momentos. Ainda emocionado e agradecido por aquela mágica manhã, na beira do rio, voltei para a aldeia. Ressoava em meu coração a lição das estrelas: ...a perfeição da suficiência..."

“Por vezes é difícil perceber que o medo da dor é maior que a própria dor. Ele a antecipa e a eleva à condição de sofrimento. Pergunte-se: Tenho medo de que? A circunstância de que tenho medo é irreversível ou é uma mera projeção do que me é indesejável? Qual é a perda possível? A perda é um fracasso ou uma involuntária renúncia, uma decisão do caprichoso sincronismo? A perda não pode ser o necessário desvio para o novo, para o surpreendente, como nos ensinam os pássaros, em seus desconcertantes voos? Sempre que o medo a incomodar, lance mão do seu melhor antídoto: o DESAPEGO! Sim... DESAPEGO ao tido, ao sido, ao experimentado, ao esperado, ao definido... O DESAPEGO ao “não querer perder”... Como os pássaros, voe para o livre espaço do simples e não para o intrincado labirinto do complexo... Bata asas para o “querer conquistar”... sem medo!”

“Jovens guerreiros me procuraram porque souberam ser eu capaz de antever o meu futuro. Admiti ser verdade e que fazia isso com muita precisão. Quiseram saber se o meu poder era um dom divino. Respondi que poderia ser um dom divino mas era, necessariamente, resultado de meu empenho como guerreiro. Confessei então que consigo antever o meu futuro porque eu mesmo o construo a cada instante..."

“Jovem guerreiro, por vezes você não se expressa por palavras, mas pelo silêncio. Por ele, você consegue dizer mais do que as palavras admitem. Suas palavras quase sempre são compreendidas, mas para alguns corações é preciso mais. Seu silêncio é quase sempre incompreendido, mas a alguns corações ele satisfaz. Por estes, você é percebido além do meramente visível. Você é sentido no sem fim do incompreensível e a incompreensão, não raramente, plenitude traz. Alguns corações não escutarão apenas a sua voz, mas o silêncio em torno dela. No silêncio habita a necessária e desejada incompreensão. Nele se expressa tudo de que você é capaz..."

“A verdadeira guerreira não se perturba quando as circunstâncias da vida escapam do seu controle, porque ela não pretende controlar a vida... Ela precisa e deseja viver... A verdadeira guerreira tem consciência de que o pássaro que voa de suas mãos precisa e deseja voar, assim como a chuva que refresca seu coração precisa e deseja chegar... Pássaro e chuva são idas e vindas da vida, que a verdadeira guerreira alcançou compreender... Idas e vindas que hoje, naturalmente, ela deixa acontecer..."
- Penso que as despedidas são quase sempre tristes e inevitáveis... Algumas sugerem um fim nem sempre desejado, um fim evitável... Outras afirmam um fim há muito sendo passivamente forjado, portanto, inexorável...
- Índia guerreira, sua compreensão da despedida me comove... Observando de outro mirante a paisagem que você descreve, eu diria então que o aceno da despedida fica menos doloroso quando, por ser um fim evitável, não desejado, dele pode escapar um sussurro de ‘até breve’... Por sua vez, o aceno da despedida é mais sofrido quando ele é o gesto de um inadiável ‘adeus’ que, a cada dia, insistente e silenciosamente foi anunciado...

"O que nos torna poderosos nas batalhas que travamos não são apenas nossas indefensáveis armas porque nossos irmãos oponentes também as têm... Nem a nossa força, pois igualmente fortes são os bravos guerreiros contra quem somos forçados a lutar... Nem mesmo a astúcia nos faz especiais, já que nossos adversários também a desenvolveram... O que nos tornam poderosos são a atitude de coragem para sonhar e o entusiasmo para dos sonhos não desistir... Entretanto, nossos irmãos adversários têm igual bravura de sonhar e ânimo para seus sonhos não abandonar... Isso nos leva então a acreditar que nem todas as lutas são questionáveis, porque elas podem expressar um legítimo e inevitável confronto de sonhos...”

"Linda guerreira, ao lidar com os seus desafios, lembre-se das cinco lições do lobo: 1ª lição: O lobo sabe exatamente o que vai enfrentar. Por isso, ele renuncia à imaginação (o medo costuma ampliar o grau das suas dificuldades). 2ª lição: O lobo mobiliza todas as forças conhecidas; ativa todas as suas potencialidades, para enfrentar o desafio (muitas vezes, você vê o desafio como algo insuperável e fica imobilizada, coloca-se em estado de inerte perplexidade). 3ª lição: O lobo avança, instintivamente, em direção ao desafio. Ele não se impõe o compromisso de estar trilhando o caminho certo (você pensa que existe uma escolha e um caminho perfeitos e esquece de ver a perfeição nas escolhas e caminhos possíveis). 4ª lição: O lobo tem consciência de que precisa ser ágil e veloz, o que não significa ter pressa para chegar à conquista. O essencial é iniciar a caminhada na direção dela  (sua ansiedade, por vezes, faz você provar das frutas ainda verdes). 5ª lição: A cada conquista empreendida e alcançada, o lobo se prepara para enfrentar o inevitável... O maior de todos os desafios: lidar com a vitória... (como você lida com elas?)"

"Desejava ser imbatível, descobrir algo no qual seria o melhor! Queria esse reconhecimento! Por isso, empenhava-me nas batalhas, esforçava-me nas caçadas e zelava pelas tarefas diárias da aldeia. Desenfreadamente, perseguia algo que me oferecesse a chance de ser insuperável! Tentava, inutilmente, imitar meus irmãos naquilo que de melhor faziam e, pela persistência, a eles tentar superar. Realizei que isso não podia funcionar e me dei conta de que estava cansado da luta que travava comigo mesmo... Resolvi então recolher-me, escutar a minha própria voz. Com ela, aprendi uma simples, útil e bela lição: ser o melhor não deve ser o meu objetivo, basta-me fazer o melhor e o triunfo já me sorrirá... Entretanto, se em alguma dimensão desejo realmente ser imbatível, ser eu mesmo é algo em que ninguém me superará..."

"Recostado no tronco da antiga árvore plantada por meus ancestrais, eu observava, na aldeia, meus irmãos e irmãs concentrados em seus afazeres. Pensava no significado que teriam, para a VIDA, aquelas corriqueiras condutas. Alcançando minha silenciosa voz, a velha árvore fez ressoar a sabedoria dos meus ancestrais: A VIDA é a vibração da mais simples das condutas... e do conjunto de todas as condutas. Desde o acender da desejável fogueira que clareia as noites da aldeia, até o acender da essencial fogueira que ilumina o crepúsculo das consciências humanas. Assim como a aldeia, a VIDA pressupõe uma atitude responsável e amorosa de cada um e de todos, para que dela possa surgir um construtivo comportamento individual e, por decorrência, uma fecunda conduta coletiva... Assim é a aldeia... Assim poderia ser a VIDA..."

"Olho para o alto. Lá, percebo nuances de um novo amanhecer. A cada dia, esse fenômeno se reproduz. Colossal na perspectiva material e, certamente, da sua divindade. Ao mesmo tempo, toda essa aparente complexidade não passa de uma delicada folha no outono cósmico. Especulo sobre a importância do sol para o universo e me divirto com a importância que eu tenho, diante de intrincados sincronismos, interdependências e complementaridades de um incógnito sistema... Inquietante isso. Mas, por que penso nisso? Que espero eu encontrar senão a recorrente revelação de que a vida é o que é? Por vezes, resisto a me contentar com a simplicidade dessa resposta... Enquanto divago, o sol se ergue comovente e majestosamente à minha frente. Mais uma vez, me atraio pela imensidão da matéria... e da dúvida. Até que o toque mágico ocorre... Pouco a pouco, meu corpo se aquece com os raios do sol e uma confortante e inebriante sensação me invade. Com ela, ouço o sussurro de meus ancestrais: “diferencie urgência de essencialidade... Pode não ser urgente compreender... Pode ser essencial sentir”. Talvez essa não seja a resposta perfeita, mas nela encontro inquestionável perfeição... Isso me basta e me faz bem...

“Da margem do rio, percebo que a cada instante ele se renova, porque sempre novas são as águas. Elas surgem de uma delicada nascente, como tímidas crianças, e se expandem até se tornarem aguerridos homens e mulheres, na forma de oceanos. Enquanto deslizam pelo leito que as conduz pela vida, as águas aceitam que jovens riachos delas se desprendam e se lancem pelas planícies em busca de seus próprios leitos, como filhos crescidos. As águas avançam... Não param mesmo diante das grandes pedras que apontam na superfície, como intransponíveis barreiras. Elas contornam os obstáculos, porque o incessante fluxo deve prosseguir. Da margem do rio, admiro as águas que em alguns lugares caem em cachoeiras para ganharem mais força e entusiasmo... e em outros descansam como plácidas lagoas. Talvez o rio e suas águas desejem mostrar que viver significa simplesmente fluir... prosseguir...”

“Linda guerreira, muitas vezes, quando alguma aflição se manifesta lentamente em sua vida, você não age. Por ser algo percebido como não contundente, você admite que aquela aflição não vá além de um passageiro desconforto e que, quando desejar, aí sim você intervirá e resolverá o que preciso for... Muitas vezes, agir pelo desejo encerra uma perspectiva egocêntrica e inócua. Agir, pela necessidade, sugere uma visão funcional... Deixe-me dizer algo que aprendi nos campos de batalha: As lutas são legítimas quando necessárias. As lutas são inconsequentes quando desejadas... ”

"Linda guerreira, você afirma que a grande experiência de que necessitava foi alcançada pela batalha que precisou lutar e pela vitória conquistada. Teria surgido, então, a guerreira que hoje você percebe ser. Sugiro que por alguns instantes escute seu silêncio. É possível que você descubra que a verdadeira experiência de que necessitava não tenha sido oferecida pela vitória conquistada, mas pelo que você tem feito a partir dela..."
Disse ela: Responda-me: assim como eu, você tem medo de chegar a hora de reencontrar a renovadora realidade do plano espiritual... a que, severamente, chamamos de morte? Responde o xamã: Jovem guerreira, sinta hoje a sua chegada e não a sua partida... Não por temer a morte... mas por amar a vida...
Disse a guerreira: Hoje me perguntei onde estariam meus sonhos... Sinto que eles se perderam na distância do medo e no tempo da desesperança... Respondeu o xamã: Linda guerreira, seus sonhos estão precisamente onde você está... Eles são você, na enérgica forma da necessidade e na doce silhueta do desejo... Eles não se perdem... Você é que desiste deles, partes essenciais de você...

"Testemunhei uma terrível luta entre nações irmãs. Não escondo minhas lágrimas por essa fresta aberta à insensibilidade e à irracionalidade. Daquela guerra, uma visão ainda me oprime: alegres e prósperas aldeias de supostos inimigos, ardendo em chamas. Passado, presente e futuro em chamas. Fogo ateado por guerreiros ofuscados por causas em que talvez nem acreditassem, espíritos entorpecidos pelo ópio da desorientação manejada. Em minha aldeia, tida como vitoriosa daquela insensata guerra, alguns irmãos ainda hoje censuram minhas lágrimas, tentando me fazer crer, terem sido as chamas, uma celebração da vitória. Insistem em saber o que daquelas abundantes aldeias eu trouxe como símbolo da conquista. A eles ofereço a verdade: das aldeias vencidas eu trouxe as chamas que consumiram sua história... as mesmas chamas que podem aquecer os frios corações dos vitoriosos..."

"Em nossa aldeia, sempre acolhemos com alegria o vento que tremulava as tendas, atiçava as fogueiras... trocava tudo de lugar. Aprendemos que quando ele soprava em nossa direção, não precisávamos procurar abrigo... Não havia do que se proteger... Em sua aldeia, receba o vento de coração aberto e sentidos apurados... Revelando sua inegável força, ele deseja, simplesmente, enriquecer sua vida com renovados ares... O vento sempre lhe trará sabores, perfumes, sons, cenários e texturas... de outros tempos... de outros lugares..."

"O que mais comove você? O sorriso de uma criança ou a sua discreta lágrima? A ousadia do jovem ou a sua disfarçada fragilidade? A exuberância do adulto ou a sua inconfessável carência? A ternura do idoso ou o seu velado apelo? O fogo que acende as sensações humanas ou a impassível frigidez? O conforto e a placidez da certeza ou o incômodo e a inquietação da dúvida? A transparência e a diversidade dos imaculados mares ou a densidade e a redundância das águas da solidão? As ostensivas e as dissimuladas agressões à vida ou o silêncio do consentimento? As majestosas e atraentes paisagens do horizonte ou as sombrias circunstâncias à sua volta? Afinal, o que mais comove você? Não se apresse em responder... Quanto mais tempo você refletir, maior será o tamanho da sua alma..."

"Seus ancestrais desenvolveram sabedoria para admitir que o grande silêncio do universo os orientasse. Especialmente, sobre como acalentar os sonhos e caminhar, confiantemente, na direção deles. Seus ancestrais escutaram e agiram sobre cada palavra. Por isso, conheceram o milagre! Reflita sobre fazer o mesmo! Você não precisa ser, tão somente, um vestígio de seus ancestrais, mas sim, deles, um nítido reflexo. Ser, como eles, um infatigável artífice do seu próprio milagre..."

“Linda guerreira, se você se sentir cansada e ainda tiver muito que caminhar até onde deseja chegar, descanse um pouco... Aí sim, retome seu caminho. Se dentro de você uma voz gritar: Você está cansada! Desista!... caminhe com passos ainda mais firmes, até mesmo corra quando sua energia exceder, mas persista... prossiga... Aquela voz logo silenciará. Se durante a caminhada, você vir guerreiras revelando maior entusiasmo, lembre-se da lição dos caminhos: Não há nada de nobre em se sentir ou mesmo ser superior a alguém... mas sim em ser melhor do que você mesma era antes... Linda guerreira, persista... prossiga...”

"Quando se conhece o coração de uma pessoa, se conhece a pessoa... A imagem é, tão somente, o templo que o abriga...”

“Expresse seu amor nos gestos da vida, no toque físico... fale de seu amor. Não cheque ao fim do caminho desta existência com o lamento de não ter dito que amava ou o quanto amava... isso pode lhe dar a inquietante sensação de não ter amado, ou ter amado menos... Expresse de todas as formas o seu amor e você terá a confortante sensação de ter amado... e plenamente”

“Do topo de uma montanha, encravada em um lindo vale, onde o som gentilmente ecoa, você grita "SOMBRA!". Então, escutará: SOMBRA... SOMBRA... SOMBRA... Você grita "LUZ!". Então, escutará: LUZ... LUZ... LUZ... A escolha é sua: você ouve o que você gritar. Assim também é a vida... ela ecoa sua atitude, seus gestos, sua vibração... seu grito! Grite "LUZ!" para a vida e ela ressoará: LUZ...  LUZ... LUZ... para você... Sorria para a vida... e ela sorrirá... sorrirá... sorrirá... para você...”

“Cada circunstância que você vive, alegre ou triste, aqui nesta existência, foi uma decisão do espírito que habita em você, quando ainda no plano espiritual. Procure então, hoje, respeitá-la e buscar compreendê-la, como mais uma oportunidade para a sua evolução humana e espiritual... Aceite, então, com produtiva resignação e não com inerte conformismo, uma decisão de seu próprio espírito... em seu próprio favor”

“Busque a serenidade, porque assim como águas revoltas não refletem a beleza da lua, mentes transtornadas não refletem a Luz”.

“Ao percorrer seu caminho, você certamente pisará em uma ou outra pedra... Cada uma delas lhe oferecerá, naturalmente, dor... mas, igualmente, uma lição. Sinta e reaja a inevitável dor, mas não a perpetue. Ela tem seu tempo e intensidade certos. Não a transforme em sofrimento... Sofrimento é a dor intensificada, prolongada... até perpetuada. Vivencie com consciência e equilíbrio a dor de cada pedra em que vc pisar... e dela extraia uma lição. Recolha cada uma delas... e prossiga. Em algum lugar, em algum momento, com elas você construirá as muralhas do templo em que habitará a sua evolução... lugar onde você sempre viveu e de onde compartilhará o que a vida tem procurado lhe ensinar... passo a passo... pedra por pedra"

"Construa o seu futuro, realize os seus sonhos. Eles não são acasos. Estabeleça, hoje, o ambiente espiritual propício e, a partir dele, crie as circunstâncias objetivas necessárias à sua realização. Em determinado momento, tais são as condições espirituais e materiais por você criadas, que seus sonhos, serena e simplesmente acontecem...”

“O sorriso é o imediato reflexo da felicidade. Felicidade... quem não a deseja? Para que você se aproxime dessa sensação, aproxime-se dos “lugares” onde pode encontrá-la. Eles estão próximos de você. Não aqui ou acolá, a partir de seu ponto de vista material, mas sim, invisivelmente impregnados no amor com que você fundamenta sua atitude perante a vida, seus gestos nela e sua palavra para ela. Esses "lugares" estão, também, na resignação sem conformismo e na pura humildade com que você acolhe os ganhos e as perdas, pelo seu caminho.  Esses "lugares" estão na espiritualidade, em seu mais extenso e intenso sentido, que, felizmente, pouco a pouco, inexoravelmente, você experimenta... É, portanto, simples ser feliz... Simples sorrir... Basta ser homem ou mulher... Integralmente...”

"Não enxugue suas lágrimas... deixe-as deslizarem pela sua face, tocarem sua pele, conhecerem seu corpo, revelarem sua alma... Assim como a chuva rega a terra para oferecer, à vida, frutas e flores, expressões da criação, permita que as suas lágrimas reguem seu corpo e seu espírito. Aceite que elas lhe ofereçam, por vezes, o testemunho da dor, mas alegre-se quando elas lhe revelam evidências do amor... e do crescimento. Não enxugue suas lágrimas quando elas deslizarem pelo seu corpo; lembre-se que você é um mensageiro da Criação. Deixe-as expressarem sua beleza e, tal como a chuva,  oferecerem, à vida, o sorriso que nascerá em seu rosto, regado em seu coração..."

“Você é uma bela mulher... você é um belo homem. Veja o reflexo de seu rosto em um espelho...  Amorosamente, observe seus olhos e, neles, veja as impressões de como tem sido bom viver. Olhe agora em torno deles e surpreenda-se com seu rosto... Novos sinais, marcas até então não percebidas. São evidências de emoções vividas... indícios de lições aprendidas e sorrisos sorridos. Aprecie a imagem refletida no espelho e a ela pergunte: Tenho feito, para meu desenvolvimento como homem, mulher e ser espiritual, tudo que realmente tenho capacidade, necessidade e desejo de fazer? Você é uma bela mulher... você é um belo homem. Se bela ou belo não fosse, essas perguntas não lhe teriam saído do coração... porque essas respostas não lhe fariam falta..."

“Ninguém pode dizer “eu amei”... Tendo amado você já impregnou o universo com sua emoção, o que faz de seu amor um tempo presente, nunca passado. Não há como desfazer essa mágica intervenção na Criação. O universo já terá sido alterado e, agradecido, tal como uma usina de afeto, ele terá derramado mais amor sobre você. O amor não nasce em seu coração, ele é fruto da Criação, ele habita no universo. Pelo desejo de amar, você o canaliza e o compartilha... e quanto mais você o expressa, mais você aumenta sua capacidade de atraí-lo. O amor é um exercício humano. Ame. Encharque o universo com seu amor. Dê esse belo exemplo. O exemplo é sempre a melhor lição. Precisamos todos recordar essa lição”

“Sinta tudo à sua volta. Circunstâncias, pessoas, oportunidades. Vibrações de vida ao seu redor. Sempre de amor, as saudades. Sinta o mar, a areia umedecendo;  o vento, as folhas das árvores agitando. Sinta o calor do sol, seu corpo aquecendo; o frescor da lua, lhe acariciando. A sua pele, corpo e alma, sinta a chuva afagar. Ouça a sinfonia dos pássaros; sinta perfumes a lhe encantar. Perceba os olhares e sorrisos a você oferecidos, a ternura a você lançada. Ouça sussurros e vozes a você dirigidos; sinta o toque com que é tocada. Vibrações da vida, que sua afeição aprofundarão. Lide com tudo isso, com um sorriso no rosto, nascido no fundo de seu coração”

“A humildade é o seu maior tesouro... mas jamais se envaideça por possuí-lo.”

“Sucessivos e intensos são os momentos na sua vida... Eles despertam reflexão, sorrisos, lágrimas, sempre comoventes reações, nem sempre desejáveis situações... Tenha em sua mente e no seu coração que, além de tudo e a despeito de tudo, o que você tem a fazer é, tão somente, prosseguir...”
"Não sei... sinto falta de alguma coisa para me sentir realmente feliz... Pergunte-se: Sou verdadeira? Eu amo? Sou amada? Esse sentimento é expressado? Tenho consciência em relação à natureza e ao meu papel junto ao ser humano e à sociedade? Essa consciência me faz agir e me dá prazer? Tenho sonhos? Faço planos? Faço o que preciso fazer, hoje, para que, no tempo certo, eu possa concretizar sonhos e planos? Tenho consciência de que para tudo há o tempo certo? Vivo intensa, coerente e amorosamente cada instante? Percebo as vibrações de vida em mim e à minha volta? Noto os sorrisos, olhares, vozes e toques a mim dedicados? Permito que minha espiritualidade se expresse? Busque responder "sim" a todas essas questões... Quando disser "sim" você estará sentindo a vida vibrando por você, com você, em você e a seu redor... e assim você dirá: eu me sinto realmente feliz...“

"Tenha certeza de que cada momento de sua vida é único... Não há nada um instante antes, não há nada um instante depois. Na vida deste índio existe, tão somente, o exato momento em que lhe dirijo, de meu coração, essas palavras. Na sua vida, o exato instante em que você as recebe. Sinta cada um desses instantes. Viva com toda sua vitalidade, sua emoção, seu discernimento, sua espiritualidade, com todo seu amor. Seu passado e sua experiência trouxeram você até aqui. Seu futuro, faça-o existir a partir de instantes plena e intensamente vividos por você...”

"No grande silêncio você ouve a respiração de Deus. Você O sente inspirar e expirar. É o compasso da alternância entre a diversidade de existências que você experimenta e a sua condição como ser puramente espiritual... Em qualquer condição, entretanto, você é um ser divino. A vida eterna é uma interminável sequência desses ciclos pelos quais você passa e que você jamais desejará ver encerrado. Embalados pela inspiração e expiração de Deus, esses permanentes ciclos representam a vida em toda sua totalidade... e messe processo, acredite, você é Deus em formação"

"Muitos homens buscam soluções para a minoração do sofrimento imposto pelas doenças a seus corpos e mentes. Vencidos, deixam pender seus braços. Ainda ignoram o poder do amor. Ao sentirem as protetoras e revitalizantes vibrações do amor, as células enfermas se curvam à sua força... paralisando a extravagância e restaurando a organização e a harmonia do corpo e da mente. O amor cura..."
Durante uma cavalgada de volta à aldeia, um jovem índio desabafou: Acho que jamais conheci o amor... Por quê? Ele se esconde de nós? Onde o amor está? A ele respondi: Olhe e sinta tudo à sua volta... responda-me agora: Onde o amor não está?
Cavalgando pelas montanhas geladas, encontrei um jovem índio, oprimido pelo frio... trocamos algumas palavras: Ofereço-lhe minha manta... Agasalhe-se com ela. Disse ele: Nesse intenso frio, se me der a manta que o protege, em pouco tempo você terá se arrependido. Insisti: Aceite... O significado de meu gesto está em eu lhe dar algo que me fará falta e não em me desfazer de algo de que não mais necessito... Dando-lhe a manta que neste instante me agasalha, estarei aquecido pelo calor de minha consciência.

"Não dedique muito do seu tempo para reviver as coisas que já passaram... você não viverá integralmente o instante presente e, assim, terá pouco ou nada dele para se recordar no futuro”.

"Se você vir uma pessoa triste... e julgar que nada pode dizer para consolá-la, faça o que a tradição de nossa aldeia ensina: fique ao seu lado em silêncio, toque-a com amor e ajude-a a chorar”.

“Ao encontrar barreiras, supere-as. Se algumas delas se apresentarem como altas e indestrutíveis rochas, lembre-se da prece indígena, que diz: "Rio que flui sem parar, aceite e respeite a necessária presença de imensas rochas no seu leito e não interrompa seu caminho tentando removê-las; simplesmente envolva-as como só as águas sabem fazer e prossiga em direção ao oceano, onde você se sentirá ainda maior"

"Alguns jovens índios e índias me pedem para definir a ternura... Eu lhes digo não ser capaz, mas que me foi possível senti-la todas as vezes em que vivenciei incondicional afeto, em que ouvi uma branda voz carinhosamente antecipar um delicado toque, não tão próximo da sensualidade... não tão distante da espiritualidade..."

"Feche os olhos, imagine-se no mais lindo dos lugares, recanto de muita luz, cercada por pessoas que ama, acariciada por sensações de paz, escutando sons familiares, sentindo aromas confortantes, vendo crianças crescendo, crianças por chegar. Olhe em volta e sorria... esse lindo lugar é a sua aldeia, esse lindo lugar é o seu lar"
O experiente índio disse ao filho: "Venha comigo!" O filho não hesitou: "Vou sim, meu pai. Vou para onde desejar ir." Pai e filho caminharam então até o topo da montanha. Lá, apontando para o lindo cenário que aos dois se descortinava, o pai, carinhosamente, falou: "Agora vá em frente, meu filho. A vida é sua. Vá vivê-la." Mais uma vez, o filho não hesitou. Iniciando a descida da montanha, em direção ao horizonte, em direção à vida, parou por um instante, voltou-se para o pai e, sorrindo, disse: "Eu o amo, meu pai... tanto quanto tudo que você representa para mim... mas, especialmente, porque sei o quanto lhe é difícil me ver seguir para viver a minha vida e permitir que a única lágrima de despedida seja a minha..."
“Assegure-se de que seu esforço na busca das conquistas materiais não neutralize sua diligência em relação às conquistas espirituais. Estabeleça, de fato, o convívio dessas satisfações. É só a partir desse equilíbrio que sua realização humana será possível, terá algum significado no presente e a desejada consequência evolutiva no futuro”

"Você quer saber se é bela? Feche os olhos e sinta sua alma, a sua mente e o seu coração. Se isso lhe faz sorrir, então você é bela. Quanto ao seu corpo... ele é, tão somente, o lugar que abriga a sua beleza... é o caminho pelo qual ela transborda para o mundo físico”

“... Amorosamente, o pequenino índio segredou à xamã sua descoberta de que eles não eram uma família, eram só amigos... pois o sangue não tinham igual. A xamã o fez lembrar de que eram uma família em seu superior significado e amigos em seu incondicional vínculo, porque eram unidos pelo amor que não se explica, pelo amor que só se sente... pelo amor sem nome..."

"Agradeça por tudo que a vida lhe oferece... e ainda oferecerá. Com esse gesto, você celebra o seu passado, enobrece seu presente e lapida o seu futuro. Agradeça, hoje, de corpo e alma, o tom carinhoso com que a vida lhe tocará e, creia, exatamente assim você se sentirá..."

“Os laços com seus entes queridos são de puro amor. Amor transformado em vibração permanente, em você e no "todo". Creia, seus entes queridos, hoje no plano espiritual, e você, na atual experiência terrena, estarão sempre juntos na eternidade do "todo", na eternidade do tempo, na eternidade do amor..."

"Onde você estiver, nas montanhas, nos rios, nas matas ou no espaço, terá o Grande Espírito ao seu lado. Onde você estiver e a cada instante, transforme seus sonhos em seu futuro... Amorosamente... É a sua divindade operando. Compreenda e sinta que, como um ser espiritual, você é fruto da concepção divina e que, como homem ou mulher, você é a divindade responsável pela sua própria e constante criação... Você será o que você criar”

“Sinta-se feliz por você não ter realizado um de seus maiores sonhos... Ele precisa estar sempre por acontecer. O futuro é o lugar dele... Lá, é que ele se fará expressar. Como o futuro do futuro é ser o “agora”, seus sonhos serão sempre presentes realidades. Isso oferece significado e emoção à sua vida, hoje. Celebre então a sua capacidade de sonhar, como um de seus maiores sonhos”

“Você conhecerá um dos significados da vida quando plantar sementes de deliciosos frutos, sem deles pretender provar... Para você, será suficiente saber que um dia alguém por esse caminho passará... e deles, prazerosa e sofregamente, se alimentará... ”

"Ninguém precisa lutar por alimentos, água, terra, ar, fogo, amor e luz. Eles são suficientes. Há tudo para todos.  O medo de que os recursos sejam escassos é que faz surgir os dominadores  e, com eles, o domínio, o ódio, as dores. Contem aos falsos soberanos essa verdade, a um de cada vez, pacientemente, e todo o inquietante momento por que a terra de vocês transita, certamente passará..."
Dizia um velho índio a um jovem guerreiro que dele se despedia: "Vá, meu filho, prosseguiremos a conversa em outro momento. Leve, porém, em seu coração e mente, algo que talvez mereça sua reflexão: quase sempre nos preocupamos com o que é urgente e deixamos de fazer o que é essencial..."
Diz a jovem guerreira: "Prefiro olhar as planícies sob a luz do sol... Assim, tenho uma completa visão de sua beleza". Responde o velho índio: "Experimente olhar as planícies, também, sob a luz do luar... Assim, você terá uma incompleta visão de sua beleza, mas a oportunidade de ver, também, com a sua imaginação...”

“Por instantes, seja um pássaro, meu jovem guerreiro. Do alto de seu voo, celebre a envolvente e silenciosa natureza e, lá embaixo, veja todos aqueles pequeninos irmãos e irmãs, a quem por vezes censurou e, afoitamente, pretendeu modificar. Perceba que, tal como você tem imaginado, tudo e todos podem ser transformados... basta, para isso, meu jovem guerreiro, que essa transformação tenha início e lugar, em você”
Ao se despedir, o belo guerreiro disse: "Tenho a sensação de que não fui tão amado quanto amei". Sua companheira, jovem e igualmente bela índia, terna e sorridente lhe respondeu: "Fui inteira no meu amor. Amei tudo que consegui amar. Se esse tanto, muito não lhe pareceu, esse tanto foi tudo que antes jamais pude amar. Eu simples e inteiramente amei. Nada me faltou amar..."

"Minha bela guerreira, flores simples, lindas e perfumadas vivem longe da aldeia, na mata cerrada. Nenhum homem as vê, mas, assim mesmo, elas sempre viverão por lá, pois são parcelas do encanto da mata. Revele você toda a sua beleza, com igual humildade. Sua beleza é, igualmente, parcela do encanto da vida. Ela nos lembrará de quão majestosa pode ser a Criação, em oferecer flores como você... de corpo e alma... inteiramente belas...”

“Bravo guerreiro, não ambicione superar seus reais limites. Não há sabedoria em excedê-los. Com humildade, conheça-os. Com prudência, deles se aproxime. Eles, jamais ultrapasse. De qualquer ponto, além dos seus limites, não há como voltar. Para retomar o seu lugar, aqui, você terá que renascer... recomeçar... e lembrar que os verdadeiros limites devem ser por todos acolhidos... e tão somente pela Criação superados...”

"Pensamentos, sentimentos e palavras emitem ondas serenas ou conturbadas que criam, à sua volta, um campo de igual energia.  Você sempre será resultado de suas próprias vibrações. Diga palavras tranquilas; reconheça e exercite o valor do silêncio; acalente pensamentos férteis e sentimentos amorosos. Melhore você! Este é o seu papel para melhorar o TODO"

"É possível que majestosas pessoas a percebam somente como uma simples e sensível mulher... uma entre muitas... É certo que somente uma simples e sensível pessoa perceberá quão essencialmente bela você é... única entre todas"

"Empenhe-se em ser feliz. Empenho estimulado pela alegria. Alegria cultivada no equilíbrio. Equilíbrio alcançado pela espiritualização. Espiritualização inspirada pela sua divindade. O empenho é, portanto, uma iniciativa divina para você ser feliz. Hoje. Sempre..."

"As realizações da humanidade serão ainda maiores quando os homens valorizarem mais as suas igualdades do que as suas diferenças... Sempre é tempo de sentir e agir assim... Por que não neste exato instante?"

"Daqui do alto, a Terra não tem as fronteiras traçadas nos mapas dos homens. Não há nada dividindo o planeta em tribos. Só se vê uma grande aldeia. Só se sente uma grande pátria... A pátria humana..."

"Diz a jovem índia: A beleza que você diz ver em mim vem de seu coração... Seus olhos não veriam beleza mesmo na mais majestosa expressão da natureza, se seu coração não estivesse disposto a isso. A beleza que você diz ver em mim, na verdade, você a sente... e não apenas em mim, mas na plenitude da vida, porque assim quer seu coração"
"Entre no rio... deixe-se levar... ele o levará para o melhor lugar... o rio sempre caminha para onde ele se transforma... para o mar... deixe-se levar para outras águas... transforme-se... viva essa experiência"

"Quando uma pessoa se aproximar de você, faça o possível para que ela se torne uma pessoa mais feliz. Quando assim ela se sentir, você terá justificado sua experiência humana"
Nos derradeiros momentos de vida, disse o velho índio: Filho, preciso ir... Já lhe ensinei tudo que sabia. Responde o jovem guerreiro, emocionado: - Não vá, meu pai. Tenho ainda muito que aprender. Preciso escutar de você, ver em você, sentir de você, repetidamente, os exemplos da importância do amor na minha formação como homem, como guerreiro... Além disso, meu pai, você jamais pretendeu me ensinar, você simplesmente viveu...  e eu sempre aprendi. Conclui o velho índio: Filho, pelo que acabei de escutar de você, sinto que é cedo para eu ir... Tenho muito que aprender...

"Você quer ser feliz? Então, ame! Mas saiba que o amor não é, tão somente, um sentimento em relação a alguém... Ele é, antes disso, uma conduta a favor de você, a favor de todos, de tudo, do Todo..."
"Deitei-me para descansar... Ao iniciar o mergulho no sono, fui sacudido pela realidade de que só a veria algumas horas depois. Levantei-me apressado e vim até você. Quero lhe dizer que enquanto você estiver acordada, observando o mundo através de seu coração, desejo ser parte de todas as paisagens, estar ao alcance de sua visão; desejo a qualquer momento lhe dizer que sinto amor por você, mas que não me basta a mágica placidez desse sentimento. Estou além da beleza do sentir e de sua contemplação. Sou também capaz de amar, transformar o amor em ação..." (Xamã Sherotáia Kê Takoshemí - cotidiano da aldeia)

“Por mais que magoem você, mantenha o equilíbrio. Tenha sempre o corpo descontraído, a mente aquietada, a emoção serena e o espírito em paz. Não reaja a gestos exacerbados com o mesmo padrão físico, mental, emocional e energético. Eleve a vibração, respondendo com amor. Seja você... Dê esse exemplo. O exemplo é sempre a melhor lição”

"O sorriso é o imediato reflexo da felicidade... e quem não a deseja? Para que você viva essa experiência, tenha uma atitude amorosa perante a vida, faça gestos, diga palavras e anime pensamentos também amorosos; receba o que a vida lhe oferece com resignação, mas sem conformismo, tenha humildade, mas sem dela se envaidecer... É simples ser feliz... sorrir... basta ser homem, ser mulher... integralmente..."

"Quero estar no alto da montanha. De lá contemplarei toda a planície, o nascer e o pôr do sol, sentirei o universo pulsar, estarei ainda mais perto das estrelas, quase a tocá-las... Quero estar no alto da montanha, mas sei que a felicidade não está lá e sim em cada instante da subida..."

"Extraia do trabalho o necessário... Não persiga o excesso, porque ele fará com que você deixe de viver a vida e viva para ele. A complexidade do excesso impõe severo desgaste humano e espiritual e, comumente, seus insinuantes, sedutores e fortes tentáculos incitam o apego, aguçam o ego... Submersas pela complexidade do excesso, traga à tona a simplicidade e a sabedoria da suficiência..."

"O amor habita o universo. Você o canaliza. Ao se propagar pelo mundo, através de você, o amor fortalece cada célula do seu corpo, clareia a sua mente, enfeita a sua emoção e eleva o seu espírito. Essa propagação se dá através de sua conduta pessoal, do toque com que você toca alguém e da ternura das suas palavras. Quanto mais você, dessa forma, propagar o amor, mais o universo o derramará sobre você... O amor é um simples exercício humano... Não é?"

"Olho para a sua sombra, cuidadosamente desenhada pelos raios do sol da manhã na relva, e percebo o quanto você é bela... Não posso vê-la, pois a luz do sol a ilumina de tal forma, que a sua imagem resplandece e, caprichosamente, se revela como uma profusão de amor e energia. Lembro-me de seu cuidado para merecer essa confortante recompensa... Lembro-me do quanto você desenhou, traço a traço, a integral beleza que trouxe para o eterno presente... Lembro, enfim, comovido, minha bela índia, que tudo o que fez para conseguir essa plena beleza foi, simplesmente, sorrir..."

"No horizonte do tempo me vejo. Longos cabelos, tranças lançadas sobre o peito, rosto esculpido por muitos ventos. Lá, ao meu lado, bela índia, madura mulher, que me retribui cada palavra, cada silêncio, cada sorriso, cada olhar. Essa mulher existe. Hoje. Bela índia. Jovem mulher. Em algum lugar bem próximo de mim talvez. Como a quero ao meu lado, quando o horizonte do tempo chegar. Portanto, hoje é o inadiável instante de encontrá-la... de me fazer encontrar..."

"Jovem índia, se você está cansada de tanto caminhar e ainda precisa cruzar o rio para a aldeia avistar, não se abata... Pense no percurso até aqui... Comemore o caminho até então percorrido, celebre cada distância vencida, reviva cada emoção sentida... Descanse e prossiga... Sempre faltarão alguns passos para ao destino chegar, porque o caminho, este sim, é o seu verdadeiro lugar..."

"Ser bonita é diferente de ser bela. Ser bela é fazer com que seus dias sejam permanentes e boas lembranças para você, para alguém, para outros... Ser bela é ter consciência de que o que é eterno não se deixa seduzir pelo transitório... Ser bela é ser bonita ou não, mas inteiramente mulher..."

"Em breve, sua aldeia terá nove bilhões de pessoas. Um olhar para o horizonte de algumas décadas sugere isso. Ainda há recursos para todos, embora com inegável desequilíbrio na sua repartição, fruto de consciências movidas pela ambição do controle das fontes da vida, certamente mentes e corações insensíveis ao futuro. Vocês podem prevenir o agravamento deste colapso por meio da noção coletiva do que seja suficiência e simplicidade, pela prevenção do excesso que desencadeia o desperdício, pelo respeito a todos os bilhões de vibrações de vida no planeta, hoje classificadas, e, especialmente, pela celebração e exercício da ética em seu superior significado de responsabilidade ambiental, social, humana e espiritual... "

"Mãe, a cada dia eu me encanto com o nascer do dia, com a chegada da noite e com a imensidão das terras carinhosamente tocadas pelo sol e pela lua... Tudo é tão bonito..." Respondeu ela: "Filha, você é tão encantadora e bonita quanto o sol, a lua, as terras e o que consegue perceber... sentir... você é parte do todo... se assim não fosse, você não estaria aqui..."

"Se você sente a alma daquilo que olha, isso é expressão da sua divindade... Olhar, além do explícito, da forma, da matéria, imaginar, sentir, é buscar conhecer a alma de alguém, de algo... é buscar sentir o pulsar da vida. A alma daquilo que assim você olha... toca você, envolve você... e quer lhe propor um encontro... um singular, inexplicável, sensível e mágico encontro... um encontro de almas..."

“Irmão guerreiro, ao chegar a uma simples aldeia você se encantará, pois lá encontrará bem mais do que procurou... Assim, quando dela você se despedir, empenhe-se para que possa deixar um pouco mais do que para lá levou...”

"Linda guerreira, você sente solidão e desânimo. Sei como dói. Vim à sua aldeia lhe dizer que tudo passa, tudo se transforma. Digo palavras aquecidas por discernimento e sentimento. Se elas não forem suficientes, que pelo menos sejam necessárias. Se ainda assim, elas não a ajudarem, compreenderei. Eu a abraçarei e pedirei ao pai Céu e à mãe Terra, a graça de compartilhar seu silêncio e de dividir sua dor... Isso me será o bastante."

"Quando alguém disser olá!... responda com um sorriso. Ao tocar alguém... pela conduta, pelo contato, por pensamentos, emoções, palavras... você toca em si mesma, em todos, em tudo... você é parte de uma colossal unidade cósmica, formada por incontáveis expressões vitais, individualidades complementares, interdependentes para o equilíbrio do todo. Cada gesto seu tem claros efeitos sobre outras vibrações de vida... próximas, distantes, perceptíveis ou não aos seus sentidos. Quando alguém disser olá!... responda com um sorriso... e saiba que, naquele instante, ele transformará a vida..."

"Cultive a atitude de simplicidade para ser capaz de perceber o possível e o provável... em você, no outro, em todos, em tudo... no todo... e então verá como viver pode ser simples..."

"Sou como um rio. Sei que sou parte do universo. Leito sinuoso. Transformo as rochas à minha frente em paisagens, em lições. Sou rio caudaloso, porque fortaleço meu caráter. Sou rio largo, porque amplio meu discernimento... Transformo-me em oceano, porque apuro minha consciência. Sou água transparente, porque revelo minha igualdade. Agradeço pelas margens que conheço em meu trajeto, amo o que toco em minha passagem e expresso esse amor em forma de cachoeiras..." 
"Sinta as águas que vêm do céu e das rochas. Mergulhe nos rios, lagos e mares, em mágica purificação. Pés descalços. Sinta a terra sob seus pés. Poderosa pulsação. Tenha encontros ao redor da fogueira e ali sinta o calor do afeto, a força do fogo, crepitando renovação. Sinta a brisa soprando, suavemente, seu coração. Levando pra longe, o canto da tribo. Celebração. E do grande silêncio do universo, ouça a respiração..."

"O primeiro passo em direção à sabedoria é o autoconhecimento. Ele será resultado das perguntas que conseguir fazer e das respostas que desejar encontrar. Se esse momento você desejar enfrentar, terá dado o primeiro sinal de sabedoria..."
“Não se empenhe em ser a melhor; mas em ser cada vez melhor..."
Muitos dos irmãos e irmãs que conheceu, em sua caminhada pelas aldeias, poderão ter esquecido as histórias que contou,  ao redor da fogueira... Mas tenha certeza, meu jovem guerreiro,  todos ainda sentem as sensações que você os fez sentir... Sensações não são esquecidas, elas se acomodam num cantinho do coração... "

"Aja com a humildade típica de um verdadeiro mestre e com a sabedoria serena de um eterno aluno..."

"A beleza, em qualquer de suas expressões, pode estar à sua volta... tente percebê-la... e isso não significa vê-la, mas simplesmente senti-la..."
"No colo de minha mãe eu sentia o aroma de flores vindo da sua pele, sentia o doce e perfeito pulsar do seu coração. Entreguei-me à força daquela bela índia guerreira. Um dia, saí de seu colo, pulei para o chão da aldeia, saltei para a minha vida. Enquanto o tempo prosseguia seu rumo, eu cresci... Hoje, a beleza de minha mãe é, tão somente, ternas imagens em minha imaginação. Sinto sua ausência na minha aldeia como uma amorosa e indisfarçável forma de afirmar sua presença na minha vida e nas aldeias da Luz. Descobri que para a minha mãe, para o amor, para a vida, não há princípio, fim ou lugar. As distâncias e os tempos me revelaram outras possibilidades de amar, de sentir o seu colo..."

"Se o campo secar, choraremos juntos... Toda a aldeia... Não para lamentar a aridez da terra, mas para animá-la, regá-la com as nossas lágrimas, que serão uma amorosa chuva, nascida das prósperas nuvens em que se transformarão nossos corações... Se um dia, precisarmos chorar e nossas lágrimas já tiverem secado, abundantes nuvens, lá do céu, em reconhecido e amoroso gesto, chorarão por nós..."

“Eu ajudo você conciliando seu desejo com os interesses do universo. Essa amorosa conciliação é feita, também, à luz do seu plano de vida e do seu merecimento... não calcada no juízo do que é certo ou errado, mas na ‘funcionalidade’ de sua conduta...”

“Linda guerreira, o encantamento é um ‘sentir’ quase contemplativo, embora concreto; íntimo, embora desvendado; dedicado, embora receptivo; exprimível, embora inexplicável. Ele adoça, prazerosamente, seus sentidos; mas esteja atenta: para prosseguir vivo e sentido, o encantamento necessita se resguardar da asfixia da paixão e respirar a serena brisa do amor...”

"Noite alta e fria na aldeia... Próximos à fogueira, apenas alguns de nós. Celebramos a serenidade e a amorosidade de um casal, frutos da consciência que aqueles jovens guerreiros desenvolveram de que suas diferenças não os separam. As diferenças possibilitam que eles descubram, desvendem e acalentem mistérios, percebam e ampliem possibilidades, vivam desconhecidas e inesperadas experiências. Suas diferenças colorem, com tons irreverentes e infantis, um adulto gesto de amar. E assim, permitem que esse gesto se manifeste de forma alegre, espontânea, surpreendente e recompensadora... Para isso existem as diferenças..." 
"Índia guerreira, você olha para o horizonte e nele projeta a sua felicidade... Receia, entretanto, que não haja como tão longe chegar porque, a cada passo, sempre distante e inalcançável o horizonte estará. Essa não é a melhor imaginação. A vida não é assim. Prossiga. Aceite que, embora longínquo, o horizonte é o seu destino. No caminho até ele, você descobrirá lindas paisagens que por horizontes se fizeram passar e reconhecerá, em uma delas, o seu tão desejado lugar..."

"Índia guerreira, não se conhece o amor apenas por senti-lo. Sentir é necessário para amar, mas não é o bastante. Amar está além do sentir. Amar é atitude, disposição interna, postura; amar é conduta... É o agir do sentir. É a celebração dos encontros. O desafio dos desencontros.  Sinta o amor, mas não deixe de amar..."

“Índia guerreira, mulher guerreira, onde está a criança que ainda vive em você? Permita que ela corra pela aldeia, pinte o rosto, faça travessuras, ria à toa e aja como se o mundo em torno dela girasse. Festeje a possibilidade dessa vibrante, cândida e espontânea energia ter acompanhado o canto da sua maturidade! Essa criança sempre esteve presente... Deixe-a renascer para a vida! Não há nenhuma razão para negar ou dissimular essa poderosa força...”

"Bravos guerreiros, vocês pedem a seu deus uma trégua para as guerras entre as suas tribos, mas o poder de escolha, de prevenir e de corrigir sempre esteve e estará em suas mãos.  Vocês tomaram as decisões, até as de não escolher. O que fazer então, hoje, diante de tudo que veem? Minha orientação é que cada um plante sementes de frutos nestas terras pelas quais vocês tanto lutam e prossigam suas vidas. Se jovens índios, no futuro, passarem por aqui e dos frutos se alimentarem, então vocês terão certeza de que fizeram o que precisava ser feito...”
"Você tem liberdade, você faz escolhas. Mas se você tem uma percepção clara a respeito do que funciona para você, é de se esperar que você não precise fazê-las... Escolhas podem sugerir dúvida. Assim, se você estiver organizada interiormente, basta apontar para o que lhe será melhor. Nessa linha, liberdade pode não ser a possibilidade de fazer escolhas, mas sim a capacidade de não precisar fazê-las..."

“Empenhe-se em seu trabalho, mesmo que ele ainda não expresse a concretização de seu sonho. Ele pode lhe parecer uma frágil e desgovernada canoa a navegar em rios caudalosos, mas há outra visão a considerar: ele pode ter no remo o seu ânimo, assim como na estabilidade tem o olhar do Grande Espírito. Dessa forma, reconhecendo seu empenho e sua divindade, as águas o conduzirão até onde quiser chegar... até onde ousar sonhar...”
Disse o guerreiro: Vou cavalgar pelas planícies, ver novas aldeias, conhecer novos lugares... Finalmente, compreender a vida, as pessoas! Respondeu o xamã: É agradável escutar você dizer isso, jovem guerreiro. Compreender a vida e as pessoas é um imenso desafio para a sua mente, dificilmente superado por outro guerreiro, em razão de sua complexidade... Reflita, entretanto, que para  maior significado de sua cavalgada, talvez seja importante lançar mais um desafio: o de sentir a vida. Esse é um imenso desafio para seu coração, talvez também dificilmente superado por outro guerreiro, em razão de sua simplicidade...

“Estar em paz, sabendo quem você é, certamente é uma grande conquista.  Entretanto, busque também outro tesouro: estar em paz, reconhecendo quem você não é...”
Disse a guerreira: Volto cansada das matas, mas trago muitos alimentos para a aldeia. Sou uma boa caçadora e desejo ser a melhor! Respondeu o xamã: Reflita se o que funciona é ser a melhor, jovem guerreira. Considere outra visão: fazer o seu melhor... e isso já será o bastante.  Entretanto, se ainda assim, em algo você realmente desejar ser invencível, seja você mesma: ser você mesma, minha linda guerreira, eu asseguro, é algo em que ninguém a superará...

"Tudo acontece no 'tempo certo'... Mas, o que é o 'tempo certo'? Talvez o instante em que você aceite um pouco de água porque seu corpo dela necessite e seus sentidos a reclamem. Talvez o instante em que sua potência física, mental, emocional e espiritual esteja pronta para compreender e sentir uma determinada experiência, e a ela atribuir plena funcionalidade. Talvez o único instante que você não deva precipitar, nem protelar, mas entregar à sabedoria do Universo...”

"Jovem guerreira, busque a magia e a sabedoria dos rios: seja leito, margens e águas. Como os rios, deslize pelos leitos da vida e siga em direção ao oceano das celebrações. Nele, não somente se infiltre, mas acrescente o que aprendeu com as águas que por você passaram e com as margens pelas quais passou...”

"Empenhe-se em ajudar uma pessoa a encontrar o que ela mais procura. Dessa forma, expressando o seu amor, você encontrará aquilo de que mais necessita..."

"Transcendência da vida: comprovação tão buscada pelas mentes humanas. A fé é a visão divina dessa certeza"
"Nas sociedades humanas, os ‘códigos’ que norteiam a questão da conduta não têm sido eficazes, o que tem contribuído para uma atmosfera de degeneração ética. Seria funcional a conscientização, por todos, da repercussão cármica da conduta humana? A transgressão ética poderia ser assim prevenida? Não pela ameaça do 'castigo', porque isso, além de um equívoco filosófico, limitaria o livre arbítrio; mas pela perspectiva de responsabilidade. Talvez fosse útil lembrar a possibilidade de  extinção dos efeitos da transgressão, que o carma pressupõe, pela oportunidade de reconstrução do perfil psíquico e ético do espírito... mas isso ainda requer, de muitos homens e mulheres, hoje, a aceitação da evolução pelas vidas sucessivas..."

"A chama azul toca seu coração com a ternura da espiritualidade; a chama amarela clareia e afaga a sua mente; a chama rosa desperta o indizível amor; a chama branca lapida sua atitude com matizes de paz; a chama verde celebra a sua cura; a chama vermelha vibra a sua experiência humana; a chama violeta renova suas possibilidades; você é a síntese da beleza da criação, o sinal da eterna transformação, a prova da infinita expansão, você é o divino arco-íris, em forma de mulher."

"Jovem índia, você me pergunta o tamanho do universo. Digo que ele é bem maior do que o tamanho das respostas que você encontra e isso não significa dizer que ele é tão somente maior do que o acervo intelectual humano. O universo vai muito além disso. Ele vai além da soma de todas as imaginações. Ele é, precisamente, do tamanho das infinitas possibilidades da criação. Difícil conceber? Comece observando você..."

"Você é um peixinho em um aquário. Um dia, você decide experimentar outras possibilidades; ousa interromper suas insistentes voltas em círculo e se lança em direção à superfície da água. De tão forte seu impulso, você se projeta no ar. Descobre, finalmente, que vive em um aquário e percebe, olhando à sua volta, suas infinitas possibilidades. Percebe que sua experiência pode superar os limites conhecidos. Quando você se dá conta, já está de volta ao mundo de vidro. O salto para cima lhe ofereceu a percepção de que o aquário só existe se você nele estiver. Ofereceu a certeza de que você precisa estar além dele para viver, estar em seus lugares: nas águas dos rios, nas águas dos mares... Como você foi parar nesse aquário?"
Disse o guerreiro: Gostaria de ter a astúcia dos mais inteligentes, a sabedoria dos mais persistentes, a energia dos mais fortes, a afetuosidade dos mais sensíveis, a espiritualidade dos mais evoluídos. Gostaria de ser e me sentir grande! Respondeu o xamã: Jovem guerreiro, seja e sinta-se grande! Porém, aja como os mais persistentes, fortes, sensíveis e evoluídos. Esses percebem que mesmo a maior, a mais bela, frutífera e robusta árvore, começou da terra. Melhor dizendo, começou sob ela. Pelas ocultas raízes. Perseverante, paciente, amorosa e humildemente...

"Sou fruto de meus ancestrais. Sou o que as experiências me fizeram ser. Sou perpetuação, expansão. Não sou mais do que sou capaz de ser, não sou mais do que mereço ser ou do que pretendo ser. Busco ser, tão somente, o que é preciso ser, o que funciona. Sou filho dos filhos. Fruto de sementes plantadas em outros tempos e lugares. Eterno discípulo. Sou missão, evolução. Você também. Somos o que sempre fomos: expansão corporificada experimentando novas dimensões, além dos tempos e dos lugares. Sempre novas e infinitas possibilidades. O que importa é sermos o que precisamos ser. Todos juntos: eu, você, a humanidade...  os novos ancestrais..."

"Bela guerreira, o silêncio permite você escutar o doce canto da sua maturidade, se encantar com a graça e as travessuras da criança que ainda vive em você, descobrir e passear por novos e virgens lugares de sua essência, recantos onde se aprende sobre a eternidade da beleza. O silêncio permite você alcançar a atitude de humildade diante das conquistas e da sabedoria diante dos recuos, permite perceber que para reconhecer o divino, basta contemplar suas revelações, mas para conhecer o divino, é fundamental se impregnar com suas vibrações. Bela guerreira, busque no silêncio de seus pensamentos, compreender e sentir as possibilidades humanas, a maravilhosa experiência de ser mulher... “

"Com inocência e sabedoria, uma pequena índia me ensinou que quando ela retira um pouco da água do rio para saciar a sua sede, ela não reduz o tamanho das águas... Segundo ela, esse gesto traz um pouco dos mares para ela... faz com que ela se sinta parte deles... e experimente outra mágica sensação: o sabor da criação..."

"Seus olhos expandem a luz do sol. Não duvide disso. Você pode oferecer mais luz à criação. Jamais rejeite essa ideia. Todas as possibilidades que por sua consciência passarem são, igualmente, probabilidades. Que fantástica fonte instigadora as teria imaginado? E para quê? Pense nisso. Melhor, ouse sempre perguntar: por que não?" 

"Enquanto caminham, troque seu sorriso pela lágrima do irmão ao seu lado. Conheça um pouco da tristeza que ele confessa, enquanto ele se recompõe com a sua paz. Alguns passos adiante, a lágrima de seu irmão, em você, terá secado e seu sorriso, a ele, terá trazido serenidade... Vocês terão evoluído, porque ambos, reciprocamente, compartilharam genuínas emoções da experiência humana. Esse consciente ou inconsciente encontro de almas demonstra que vocês são individualidades interdependentes, elementos complementares do grande milagre universal. Deste modo, o grito do irmão guerreiro ao seu lado não só é igualmente seu, mas de todos, de tudo, do Todo. Também o seu grito, na forma de um sorriso, é um brado universal que a todos e a tudo envolve... Saboreie essa visão: você nunca está só..."  
Por todo o planeta, um incontável número de crianças sofre pela carência dos recursos gerados pela Criação e, a partir dela, manejados pelo homem e desenvolvidos pela ciência. Os recursos existem, mas expressiva parte deles está represada pela exacerbada ambição. A aflição de milhões de crianças está alimentada pela busca do controle das fontes de recursos vitais, em uma típica e triste confissão da transgressão humana e espiritual. Amplie você ainda mais o sentido da sua existência. Tanto quanto possível lhe for, transforme essa realidade, confirmando em você, e nos outros estimulando, o amor. Transforme o amor em ação: em amar. Amar está além do amor. Amar é o cerne de sua experiência humana e sua missão espiritual, é agir, é tocar e iluminar pessoas! É projetar Luz sobre inaceitáveis circunstâncias! Nos únicos lugar e tempo reais e possíveis: onde você estiver... e agora!

"Mulher guerreira, faça a sua escolha: (I) permissão para que o futuro se aproxime tal como um surpreendente e imprevisível caleidoscópio de acontecimentos e sensações. Portanto, o poder sobre você mesma, nas mãos da magia da CRIAÇÃO. Ou (II) consciência de que o futuro se aproxima tal como uma tela de acontecimentos e sensações desenhada e pintada por você. Portanto, o poder sobre você mesma, nas mãos da magia da SUA criação. Reflita sobre isso e, a casa instante, faça a sua escolha!"

"Jovem guerreiro, você diz ter a tempestade levado tudo que possuía e que ninguém pode imaginar sua dor. Quero lhe dizer que sei o quanto sofre, porque sei que sua dor é tão grande quanto o seu apego. Esforce-se para perceber que a tempestade nada levou! Seus verdadeiros tesouros ainda estão com você: sua consciência, sua saúde, seus amigos, sua intelectualidade, sua inteligência, seu sentimento de amor, seus amores, sua compreensão do que é amar, o acervo psíquico e moral de seu espírito, a evolução que conseguiu alcançar... Responda-me, então: o que a tempestade levou?”

"Jovem guerreira, não é raro você negar um problema real. Quando, por fim, você admite a sua existência, ele passa, imediatamente, para o nível das coisas sem solução. Que estranho feitiço sua mente e seu coração operam!  Transformam, em eventos únicos e sucessivos, a negação e a desesperança, reduzindo você à essência do problema e não elevando você à artífice da solução... Reconheça um problema real; mantenha a calma; vibre sua espiritualidade; ouse sua inteligência e provoque sua sensibilidade, extraindo da teórica complexidade do problema, o que dele é essencial. Imagine então soluções para o que é essencial e aja... Isso é o bastante... Independe do resultado..."
Disse a jovem: Sou índia... Sou mulher... Mas, deve existir algo maior para exprimir quem essencialmente sou... Respondeu o xamã: Existe sim, linda guerreira: sinta tudo à sua volta... você é o que você amar...

"Jovens índios e índias, escutando o 'grande silêncio' do universo, nossos ancestrais aprenderam que a compaixão do silêncio é uma escolha, é uma resposta aos gestos e palavras daqueles que ignoram o amor como o pai dos sentimentos... a ação de amar como a mãe da conduta... a fé como o bálsamo para as incertezas... a esperança, a vontade e a perseverança como artífices do futuro... "

"Jovem guerreira, seu corpo físico abriga sua mente e seu coração. Ele é, portanto, guardião da sua consciência e da sua conduta, do seu amor e da sua capacidade de amar. Seu corpo também é o templo em que você, espírito, vive sua necessária e desejada experiência humana. Que mais razões são necessárias para que você cuide de seu corpo com respeito, carinho, humildade e desapego?"

"Razão e emoção... de que lado estar? Antes de responder, sinta-se um rio. Deslize pelo seu leito, toque suas margens. De um lado, a razão. De outro, a emoção... Experimente as possibilidades que elas encerram. Só assim, prosseguir terá significado. Como um rio, acolha, em suas águas, a mente e o coração das margens. Em retribuição, a elas ofereça o espetáculo das cachoeiras, a capacidade de prosseguir. Serpenteie pelas planícies, por vezes lentamente, por outras, velozmente. Conheça novos recantos, diferentes horizontes. Compreenda e sinta o poder de ser rio, aproximando margens, harmonizando razão e emoção... De que lado estar? Não responda... seja simplesmente um rio..." 

"Todo dia é dia de celebração... porque o 'Grande Silêncio' presenteia você com a possibilidade da experiência humana e com a consciência de que a vida eterna não é o seu único tesouro, mas sim o fato de você poder viver e sonhar... Faça isso... plenamente... a cada único, irrecuperável e insubstituível instante de sua existência humana... da sua vida..."

"Mulher guerreira, você é especialmente completa. Na verdade, o que parece lhe faltar são satisfações potencialmente realizáveis. Como tudo que é potencial é atemporal e imaterial, portanto, fora da concretude tempo / espaço, o que aparentemente lhe falta passa a ser um exótico e presente componente de sua integralidade. Como nem tudo é concreto, então não há nada a ser buscado, mas sim conscientizado. O que? O irrefutável fato de que você é especialmente completa..."

"Linda guerreira, use sua força para enfrentar o que lhe parece inadiável, mas não deixe de canalizar sua inteligência, sensibilidade e espiritualidade para o que é essencial..."
“Mulher guerreira, se um dia você precisar lidar com uma enfermidade, tenha calma, resignação ativa e perseverança. A cura não se dá, necessariamente, com a imediata extinção da doença ou dos seus sintomas, mas, em primeiro lugar, com o desapego ao medo...”

“Caem as folhas mais experientes. Sacrificam-se pelo futuro das árvores. Outras folhas brotam. Impetuosas. Uma nova geração. Conscientes de seu papel, as árvores prosseguem seu caminho. Evoluem em direção ao coração da Mãe Terra, infiltrando, no solo, raízes profundas. Evoluem em direção ao coração do Pai Céu, despontando para o alto, frondosas. Em qualquer direção, elas crescem. Prosseguem. Fortalecem-se. Porque qualquer direção é o caminho do Grande Silêncio, do encontro com elas mesmas, da expressão de suas consciências...”

"É fascinante o espetáculo da grande malha da sincronicidade, caleidoscópio de eventos coincidentes e significativos. Desses eventos, especialmente um me seduz: o encontro corpo e alma, expresso pela harmoniosa simultaneidade, em você, dos corpos físico, mental, emocional e espiritual. Talvez aí esteja uma grande razão para você acreditar na sabedoria dos ventos que sopram as velas do barco em que navega. São sopros do universo. O universo conhece os mares e correntes que o sustentarão e o dirigirão, porque tem o privilégio de também sugerir a direção segura de outros singulares e incontáveis barcos. O universo participativo opera a grande malha da sincronicidade. Reflita e aja sobre isso..."

"O universo busca curar-se e prevenir-se das 'lesões' causadas por eventos humanos nocivos, por meio dos canais de consciência que oferece. Entretanto, os eventos são recorrentes, o que faz com que as 'lesões' no organismo universal sejam reincidentes. Por isso, ele aciona um de seus mais eficazes sistemas de prevenção e cura: o carma... a construção do acervo psíquico e moral de cada pessoa... a expansão da consciência individual e coletiva... reflita e aja sobre isso”

"Busque perceber em uma pessoa mais do que ela consegue mostrar. Lembre-se de que, por vezes, uma pessoa não expressa mais do que mostra, por medo. Se ela compreender e sentir que você já percebe que ela pode ir além, certamente se sentirá encorajada e fortalecida para revelar o que você já vê. A partir daí, nela brotará uma especial sensação, a que eu chamo de êxtase existencial...”

"Jovens guerreiros, admitam a possibilidade de a vida "não" ser uma escola. A escola visa ensinar o que vocês não sabem, enquanto a vida faz vocês experimentarem aquilo que, conceitual e filosoficamente, vocês já sabem... Portanto, nada você necessita aprender, senão lembrar. Acessar o seu acervo de conhecimento, a sua consciência sideral. Observando, sentindo e agindo. Reflita sobre isso.”

"Bravo guerreiro, aprenda a se conhecer e se aceitar tal como você é. Agindo assim, todas as batalhas de sua vida serão vitoriosas e você não precisará ter sido superior em nada. Ser você mesmo é algo em que ninguém conseguirá lhe superar..."

"Não é hora de 'permitir' o passado, ele já passou. É hora de 'permitir' o instante presente e da forma que ele se apresenta. Experimentar, sentir, prosseguir... Simplesmente deixar que as coisas sejam como são. Nada fará com que elas sejam de outra forma. O que precisava ser feito, já foi feito no passado... Em um tempo que já foi presente e que você escolheu 'permitir'...”

"Linda guerreira, siga seu caminho sem nada levar, porque você nada possui. O que você acha que é seu permanecerá com você apenas o tempo necessário à sua percepção da transitoriedade. Você possui, tão somente, o que é permanente em você: as escolhas que faz; o amor que sente; o amor que expressa pela sua conduta, pela humildade e pela sabedoria do perdão; o amor que expressa pelo toque físico, por palavras sempre verdadeiras e oportunas; as lições; a consciência de que há sempre o que ensinar, o que aprender; e a certeza de que o universo, a qualquer momento, acariciará você com novas e mágicas oportunidades..."

"Jovem guerreira, aprender não é necessariamente difícil. Aprender é decorrência de uma escolha e do movimento que ela implica. Difícil talvez seja desaprender. Despojar-se de arraigados conceitos e hábitos. Permitir que uma essencial transformação se processe em você e no ambiente, a partir de você. Assim, talvez seja razoável admitir que o desaprendizado consciente seja uma fresta, através da qual penetra a luz da sabedoria, a brisa da evolução. Aprenda também a desaprender...”

"Muitos jovens índios e índias me perguntam qual é a sua missão na vida. A eles, sugiro refletir que a missão é aquela que eles mesmos conseguiram consagrar à luz de seus instintos, intuição e consciência, íntimos sinais das intenções delineadas no plano astral e por cada um...”

"Linda guerreira, quando você perceber que o poder de seus pensamentos e sentimentos é suficiente para criar desejáveis circunstâncias, então você terá iniciado o processo de rejeição e afastamento do que não deseja e terá, finalmente, começado a reger a prosperidade de sua vida..."

"Linda guerreira, não peça a ninguém para fazer ou ajudar você a ser feliz... simplesmente, use toda a sua força pessoal para ser..."

"Busque atribuir às pessoas, as reais possibilidades que elas têm de se expressarem nas múltiplas circunstâncias da vida. Frequentemente, elas são ‘maiores’ do que conseguem revelar e não o fazem por medo ou por desconhecerem sua força. Por isso, procure não atribuir às pessoas a responsabilidade da precisa e objetiva satisfação das expectativas que, em relação a elas, você organiza em sua mente e acalenta em seu coração. Nelas, compreenda a potencialidade. Fazendo isso, você previne o incômodo silêncio entre a sua idealização e a realidade possível... Esteja segura de que ninguém a frustra propositalmente. Ninguém pretende o silêncio da decepção. As pessoas são o que lhes é possível ser, o que sabem ser, o que conseguem ser. As suas expectativas é que podem estar exigentes, embora, busquem ser humanamente idealistas e, por isso, quem sabe, filosoficamente aceitáveis. Sob outra inspiração, pondere se você, inutilmente, deseja viver no seu mundo ideal, povoado por pessoas ideais. Essa seria uma desafiadora expectativa, tanto quanto seria a universalização do que seu coração e sua mente forjaram como perfeição. Trabalhemos para que as pessoas consigam ir além... Sejam o que, realmente, podem ser, para, em alguma grandeza, serem indivíduos ideais em um contexto ideal..."

"Sonhos implicam realizações, sejam eles quais forem. Sonhos são anseios íntimos, comandos silenciosos. Jamais os subestime. Eles representam a essência dos quereres. Essência protegida por um véu de ingênua fantasia, de iluminada  visão, de arrojada ficção, de flagrante utopia, mas sempre uma confessada aspiração. Sonhos são pura essência. Sonhos são sempre tempo presente, porque são sempre realidades antecipadas. Sonhos são sempre possíveis, porque são sempre realizações atraídas..."

"Jovens guerreiros, não permitam uma luta entre vocês. Um de vocês sabe que vai ganhá-la, portanto, o desafio não terá sido nobre. O outro sabe que vai perdê-la, então, o gesto terá sido tolo... Se decidirem lutar, não haverá um vitorioso... Ambos sofrerão o pior dos golpes, o que fere a consciência... A um terá faltado dignidade para recuar e a outro terá sobejado insensatez para avançar. Não permitam uma luta entre vocês e sintam-se, ambos, vitoriosos"

"Agora, alta noite, em um lugar onde jamais esteve, sem a luz do luar para iluminar a planície, diga-me o que sente ao imaginar as imensas montanhas que enfeitam o horizonte... Use os olhos da mente... Mais tarde, com a chegada dos primeiros raios de sol a elucidar a paisagem, você reconhecerá as montanhas que agora 'vê' no horizonte e vivenciará as mesmas sensações... Esteja certo de que sua mente é capaz de ver a realidade que seus olhos ainda não podem enxergar... de sentir o que seu coração ainda não pode pulsar... de vibrar o que seus demais sentidos não podem experimentar... Assim como as montanhas sempre estiveram na planície, também estão, em sua vida, as suas realizações: revele-as com sua mente..."

"Sinta o silêncio da noite. Deixe-se invadir apenas pela emaranhada sinfonia dos animais que fazem pulsar o coração da floresta e pelo distante ecoar dos tambores da aldeia. Deixe seu corpo pesar sobre a acolhedora relva. Liberte seu espírito para que ele possa saciar as saudades do etéreo, para que ele flutue em breve trégua da experiência humana. Deixe sua mente acompanhá-lo nesse singular passeio cósmico. Observe e sinta essa experiência. Repouse. Descanse e enriqueça seu cerne crítico. Ele despertará não tão próximo da ainda limitada intelectualidade humana, não mais tão distante da infinita inteligência e amorosidade cósmicas. Compreenda e sinta o universo. Aceite todas as possibilidades, a partir de você... Reflita: além de você, o que é real?”
A CURA é a natural consequência de dois planos de conhecimento: a evolução da CIÊNCIA HUMANA e os fundamentos da MEDICINA ESPIRITUAL... A CURA é a recompensa a três sincrônicas condutas: FÉ (confiança na transcendência e em si mesma), PERSEVERANÇA (amor pela vida) e DISCIPLINA (entrega às condutas terapêuticas)... Finalmente, a CURA é a conquista resultante de uma confiante, amorosa e sábia atitude: o DESAPEGO ao MEDO...

"Jovem guerreira, é louvável você conseguir se manter de pé em todas as batalhas, sejam elas grandes ou pequenas, jamais ir ao chão... Mas, quem sabe a verdadeira bravura esteja em você se erguer todas as vezes que tombar ferida?"

"Linda guerreira, prossiga sem nenhuma apreensão. Você reconhecerá a importância de sua nova jornada quando melhor compreender o conhecido futuro a que você, confiando no seu coração, decidiu renunciar, em favor de um desconhecido futuro que você, confiando no coração do universo, escolheu permitir..."

"Linda guerreira, aproxime-se da margem do riacho e observe a essência e as expressões das águas. Límpidas, ternas e vitalizadas pela força de sua nascente: a energia da criação. As águas fluem sem parar. Elas transcendem à sua existência, jovem guerreira. As águas representam a vida, em todos os tempos e lugares. Conscientes disso, elas nos ensinam o valor da unidade da essência e da diversidade das expressões: riachos, rios caudalosos, cachoeiras, lagos, mares, chuvas e tantas outras revelações... Assim vivem as águas: na unidade da essência e na diversidade das expressões... Talvez esse seja o superior significado do viver... Talvez isso exprima você..."

"Linda índia, vá até o alto da montanha. De lá, lance seu grito guerreiro. Faça com que, das pradarias, todos ouçam seu brado. Não para que a vejam acima de todos. Mas para que olhem, ao menos uma vez, na direção do alto. Muito além de você. Muito além do céu. Lá... Onde habita o Guerreiro dos muitos nomes, que nos oferece o amor e observa, silenciosamente, se somos capazes de amar..."

"A percepção predominante que se tem da alegria é a de que ela não é um estado mental padrão. É a de que ela precisa ser construída a cada dia. Por que precisa ser assim? Você constrói a apatia? A inércia? Claro que não! Desafie então esse padrão! Liberte-se desse estado de contração! Reconheça que ele se alimenta de uma atitude de inativa resignação! Por que não romper com tudo isso? Como? Escolha a alegria! Escolha a descontração! Alegria é descontração...  é  movimento... é expansão... Não é assim que o universo tem se expressado desde o começo dos tempos? Você não é uma síntese dele?”

"Índia guerreira, a prosperidade é um caminho reto. A eventual sinuosidade do percurso é a perda, o que não significa fracasso. Antes disso, ela merece ser percebida como o êxito inesperado, porque ensina ou resgata o que você já sabe. Ela é a semente do indispensável fruto existencial: a experiência. Reflita sobre o quanto você não teria deixado de prosseguir, próspera e evolutivamente, se não experimentasse esse êxito inesperado. A prosperidade é um caminho reto sim, mas construído pela sinuosidade da perda, artesã da experiência..."

"Sua expectativa em relação ao futuro está calcada em circunstâncias construídas pela sua imaginação ou está impregnada pelo desejo da reedição de experiências vividas. Experimente provocar o silêncio do seu poderoso sistema de atração; deixe que suas experiências e sensações sejam concebidas pelo universo; deixe que essas circunstâncias e emoções estejam muito além da confirmação de seu inquestionável poder de atraí-las; permita que elas sejam a mágica afirmação da sabedoria e da amorosidade do universo... que conhece suas mais inconfessas necessidades... seus mais íntimos desejos..."

"Meu coração não percebe o ódio como o maior opositor do amor e sim, o medo. O amor anuncia para quem o sente e para quem tem a conduta de amar, que a vida vale a pena. O medo antecipa para quem o permite, para quem nele acredita e dele é servidor, um futuro indesejável e uma equivocada sensação de que a vida não vale a pena. Quando menciono o medo, sou questionado se não seria a coragem, e não o amor, a força contrária a ele. Respondo que sim, mas sugiro que admitam as muitas feições do amor e que reflitam sobre a possibilidade de a coragem ser, das muitas feições, uma de suas mais aguerridas revelações, uma das mais dignas e vibrantes formas de amar..."

"Existe um lugar onde tudo faz sentido e se faz sentido. Onde habita a coerência, onde você reencontra a sua singularidade, reconhece a sua divindade, sente o pulsar do universo e o percebe como a perfeita projeção de outras infinitas individualidades. Existe um lugar onde você se aproxima de suas sensações, de seus sentimentos, onde você se visita em outros tempos, em outros lugares, aprende que tempo e espaço não são indevassáveis janelas que a impedem de avistar a transcendência da sua existência. Existe um lugar onde você evolui a consciência de que viver está além de existir. Existe um lugar onde você constata que para viver é preciso prosseguir, urgente construir e essencial sentir. Esse lugar é o intenso e precioso silêncio... em você..."

"Bela guerreira... torne excitante o seu dia a dia nessa aldeia em que vive. Não dedique esforço para atingir a felicidade. Não a tenha como objetivo. Empenhe-se sim, mas para colorir o seu cotidiano, mesmo com cores que talvez só a sua mente e o seu coração consigam perceber e apreciar... É exatamente desse momento que desejo participar... Ofereço a tela do cotidiano e as tintas... Você escolhe as paisagens e as cores...”

"Índia guerreira, da aldeia e da cidade, dizer ‘olá’ é simples. Dizer adeus é descrever um ‘fim’. É sofrido... Quanto mais encantador é o encontro, mais doída é a despedida... Não importa se ela acontece sob sorrisos ou lágrimas, como lenitivo ou como afirmação de uma querida dependência. Despedida poderá soar como a negação do encontro. Como evitar a despedida sem impedir o encontro? Nem sempre é possível. Ela deve ser prevenida quando, a tempo, compreendida e (pres)sentida... Ela deve ser enfrentada quando emerge calada ou barulhenta... Em qualquer circunstância, entre as lágrimas, as palavras e os silêncios de uma despedida, deve haver um sussurro de ‘até breve’... Para clamar pela eternidade de todos os encontros... E pela desnecessidade de qualquer despedida...”

"Índia guerreira, da aldeia e da cidade, por vezes, quando você realiza um sonho acalentado durante muitas e muitas luas, curiosamente você pode experimentar uma sensação de perda, de vazio... Você pode se sentir só, imersa em um vácuo existencial, quem sabe uma sensação de 'quase morte'... Isso me recorda uma dos muitos ensinamentos deixados pelos meus ancestrais: a lição dos sonhos. A de que a vida não é a plácida existência e viver não é o simples existir. A vida é um sonho e viver é sonhar..."

"A hora de dizer a verdade é aquela em que você compreende e sente o significado e a repercussão de silenciá-la, de não ser você..."

"Jovem guerreira, se você deseja encontrar uma fecunda e amorosa maneira de viver, tenha a sabedoria de renunciar a uma parte do que essencialmente você é para se expressar na vida como essencialmente você pode ser... Não é o que nos ensina o rio? Ele renuncia a um tanto das suas águas, uma parte do que ele é, para que elas possam acariciar as margens e então prossegue seu fluxo essencial, com as águas que ele pode ser..."

"Índia guerreira, para qualquer pergunta que fizer, a qualquer tempo, em qualquer lugar, nenhuma resposta será definitiva. Nem única. Nenhuma resposta excluirá outra possibilidade. Por que então não escutar aquela que virá de seu coração? Igualmente, ela não será a única. Talvez, nem mesmo a mais bela. Mas, certamente, será a mais amiga, sábia e terna inspiração..."

"Índia guerreira, talvez você necessite ou deseje exercer plenamente sua liberdade. Faça isso. Reflita, entretanto, se os limites de liberdade, que hoje você conhece, refletem a sua organização interna e, por isso, as suas potencialidades. Quem sabe você não poderia ampliar esses limites? É razoável admitir que suas possibilidades reais excedam às que você escolheu permitir. Por que não? Como saber isso? Observando e experimentando novas fronteiras existenciais. Serena e cautelosamente, ousando novos limites sem jamais os desafiar... Com os limites, não se confronta... Com eles, só se aprende..."

"Jovem guerreira, da aldeia e da cidade, cada pessoa é um espelho à sua frente. Em cada uma, você percebe o seu reflexo. Se você se encanta com alguém, sorria: há algo encantador em você... Se você acusa alguém, reflita: há uma confissão em seu gesto... Cada pessoa é o seu espelho essencial. Nele, provoque o reflexo do belo e permita o reflexo do reflexo... fonte da infinita, mágica e bela multiplicação de essências..."

"Sinta os animais. Seus magistrais, ingênuos e genuínos movimentos. Aproxime-se deles. Deixe-os sentirem a sua presença. Tenha, por eles, o respeito que eles ensinam. Eles farão deslizar, até você, o espírito selvagem, mas essencialmente dócil. Eles não revelarão o enigma de seus instintos, mas acenarão com os sinais da humildade, da discreta sabedoria. Farão você sentir, de perto, a vibração do poder e da capacidade de amar. Olhe-os bem nos olhos. Vislumbre, neles, sonhos inconfessos; incompreensíveis para você, mas essenciais para eles. Olhe-os bem nos olhos e se encante com mais um belo segredo da vida, que talvez você ainda não consiga desvendar, mas consegue sentir, se desejar. Olhe-os bem na alma e nela encontre traços de você..."

"Jovem guerreira, da aldeia e da cidade, algumas vezes você percebe a vida tal como ela é. Outras vezes você a percebe tal como você é. Dilema? Claro que não! Não existe diferença entre uma e outra percepção. Você e a vida são uma única entidade: a da mágica convivência de sonho e realidade..."

"Das aranhas floresceram muitos ensinamentos, especialmente o de que toda a tribo humana é uma imensa teia, que cada vibração, em qualquer ponto, a qualquer momento, de qualquer intensidade, reverberará em toda a teia, será sentida por cada um e por todos. A transmissão dessa vibração revela o quanto os homens são interligados, interdependentes e próximos. Mais do que conseguem imaginar ou mesmo desejem admitir..."

"Jovem guerreira, para você conhecer a verdadeira feição da sua beleza, basta desapegar-se da forma para desnudar o seu íntimo... criar a estética da essência..."
"Talvez possamos admitir que a existência humana não ensine muito a você. Ela faz você lembrar o que já sabe. Até sentir o amor. Entretanto, talvez possamos admitir que a vida, muitas vezes, precise ensinar o essencial a você: a conduta de amar..."
"Por vezes, você quer chegar à perfeição no que faz. Não é razoável desejar isso. Admita a excelência como a grande conquista. Adote a conduta de repetir, disciplinadamente, incansavelmente, o seu gesto, a sua arte, o seu ofício. Só assim você conhecerá a excelência... A visão divina da perfeição humana..."

"Debrucei-me sobre a espelhada superfície do lago e ali, refletido, estava meu sorriso. Nunca o havia notado tão verdadeiro. Eu sabia a razão: aceitei o despertar da criança que em mim adormecia e permiti que ela voltasse à vida, sem calar o canto de minha maturidade. Descobri que o lago não é só encantamento, é revelação. Nele reencontrei meu verdadeiro sorriso... Não só uma expressão do meu rosto, mas um aceno de meu coração. Enfim, a criança... Não a memória de um tempo, mas a possibilidade de evolução..."
Havia uma enorme árvore perto da aldeia. Nela subi com algum esforço. Alcancei galhos cada vez mais desafiadores até conseguir tocar a fruta que do chão de terra molhada que eu tanto admirava. Sorri de contentamento. Desci da árvore apressado e corri para a minha tenda. Não por causa da chuva que persistia, mas pelo desejo de voltar. Estava ofegante quando cheguei. Lá estava minha mãe. Colocava alguns galhos secos na pequena fogueira que aquecia a nossa refeição e o nosso pequeno lugar. Ela olhou para mim e sorriu. Adivinhando minha aventura, estendeu-me a mão. Depositei sobre ela a fruta e sobre seu corpo me lancei em um abraço encharcado de chuva e de amor. Naquele instante, o tempo parou... Senti o quanto a vida vale a pena. Desde então, o cheiro da terra molhada é meu mestre. Com ele aprendi a permitir momentos simples e perfeitos...

"Irmã guerreira, não se imponha a obrigação de fazer a escolha 'certa'... talvez não exista a escolha 'errada'... Se a escolha que fizer não lhe oferecer o resultado imaginado, ela lhe trará a resposta necessária: a lição. Não seria o aprendizado, um êxito inesperado?”
Hesitantemente, a jovem guerreira aproximou-se do Xamã. Sentou-se ao seu lado. Olhou-o nos olhos, detidamente. Curvou então a cabeça esquivando-se do penetrante olhar daquele velho índio e, quase sussurrando, falou: Tenho algo muito íntimo e importante para lhe dizer. Não sei como começar... O Xamã acolheu a guerreira em um amoroso abraço e disse baixinho: Não há mais nada a dizer, jovem guerreira. Compreendi o seu olhar e, nele, senti o que seu coração deseja expressar. Suas palavras me dariam, tão somente, a moldura de uma íntima verdade. A paisagem e as cores dessa tela estão no seu olhar. Ele me é o bastante. Se eu não puder compreender e sentir o seu olhar, jamais poderei compreender e sentir você...

"Na aldeia do Grande Espírito, você terá uma clara percepção da conduta que adotou em sua experiência humana. Quem sabe, reconhecerá que seu comportamento poderia ter sido diferente em algumas situações. É o que chamo de 'admissão do potencial reprimido'. Previna essa constatação utilizando, hoje, sua ampla potencialidade física, mental, emocional e espiritual. Como? Permita seus instintos, valorize sua intuição e acesse a sua consciência..."

"Linda guerreira, reflita sobre a impropriedade de revigorar antigas posturas para lidar com as descobertas que a cada instante você faz em sua vida. Isso não é negar uma sempre renovada realidade? Isso não é admitir o paradoxo de que tanto suas descobertas quanto as suas remotas reações são, monotonamente, imutáveis? Essa visão não a induz a uma conduta de vida anacrônica? Você não aceita que tal como em um caleidoscópio, o ambiente de expressões vitais se transforma e faz novas provocações? Você não admite que reagir a novas perguntas com antigas respostas é apenas existir? Você não cogita que apenas existir é perder a chance de viver?..."
“Índia guerreira, não desista de prosseguir diante de circunstâncias que machuquem seu coração. Lembre-se do que nossos ancestrais ensinaram sobre o poder da pedra: mesmo que a partam em pedaços, ela jamais deixará de ser pedra e crescerá, porque assumirá multiplicadas formas, para afirmar a mesma essência...”

"Para que definir quem é você? Para que criar limite para as suas potencialidades e abdicar da visão de que você é a síntese ou a projeção do todo? Explore a noção de que você ama o fogo que arde; a brisa que acaricia seu rosto; o pulsar da terra sob seus pés; você ama as pradarias onde cavalga, as montanhas que a desafiam e os rios e lagos onde mergulha para descobrir outras verdades; você ama as matas e os animais; você ama recantos no céu, aquém e além das estrelas, lá onde você imagina que o grande silêncio termina... A definição que tanto você procura, sempre foi essa: você é o que você ama.."
Atravessando a mata que emoldurava a aldeia em que sempre viveu, disse a jovem índia ao irmão guerreiro: Preciso ir... Tenho uma 'grande distância' a caminhar... Longa pradaria, desafiadoras montanhas e agitados rios me esperam. Eles me farão chegar onde sempre desejei estar. Ternamente, o bravo guerreiro respondeu: - Não se preocupe com o muito por caminhar porque a 'grande distância' você já percorreu, dentro de você... A sua verdadeira viagem começou quando decidiu escutar o seu coração e terminou quando decidiu iniciar o seu caminho... Fazer, você mesma, a sua direção...
A bela índia aproximou-se do xamã, que do topo da montanha contemplava o grande silêncio. Sentou-se ao seu lado, tocou levemente uma de suas mãos e, quase sussurrando, lhe disse: "Muitas vezes me dizem que eu não vejo as coisas como elas são... Isso me deixa temerosa quanto à minha capacidade de perceber a vida como ela realmente é...". O sereno índio sorriu e, interrompendo seu silêncio, dirigiu-se carinhosamente à guerreira: "Você vê a vida como ela essencialmente é... Acredite, ela não é nada além do que seu olhar é capaz de perceber..."

"Quando você se sentir deprimida, recolha-se. Aproxime-se de você. Aprenda mais sobre seu corpo, seus sentimentos, seu espírito... Escute o que eles querem dizer. Aprenda mais sobre a realidade. Aprenda mais sobre os outros: outra nuance daquilo que aprendeu em você. Quando você se sentir deprimida, respire fundo, faça um profundo mergulho nas íntimas e mágicas águas do recolhimento e descubra, no inverno do desânimo, o aproximar da primavera da alegria...”

“Índia guerreira, você procura o veio da realização, busca sentir encantamento, deseja novas emoções, um novo sentimento... Então, reflita sobre sua atitude, questione sua conduta. Se caminhar por onde sempre caminhou, chegará onde sempre chegou...”
No alto do pequeno monte, o jovem guerreiro aproximou-se do experiente índio que serenamente observava a aldeia. Sentou-se ao seu lado e disse, em tom determinado: 

"Quero ter o poder de ajudar a todos os meus irmãos e irmãs da aldeia..." Voltando-se para onde o silencioso índio olhava, completou: "Faria muito pelo sorriso deles..." Sem deixar de observar a aldeia, o velho índio repousou sua mão no braço do bravo guerreiro e disse, pausadamente: "Você não precisa de poder para fazer o que pretende. Você só precisa amar..."

“Combates entre tribos são cruéis. Entristeço-me ao ver as desmedidas e irrecuperáveis perdas que eles causam. Não me refiro tão somente ao fato de que irmãos, em lados supostamente antagônicos, por apego a efêmeras conquistas, impõem-se, mutuamente, a dor e a dominação... Eu me refiro, sobretudo, ao fato de que esses guerreiros, ao gritarem seus brados de guerra, gritam, em verdade, o lamento de não terem vencido o verdadeiro e inconfesso inimigo: o medo de amar...”
“O jovem índio observava o xamã. Com serenos e alegres acenos, aquele experiente homem incitava a tribo a acender as fogueiras. Era essencial aquecer a noite. O jovem índio aproximou-se e a ele perguntou a razão de convocar tantas pessoas para tão fácil função. Serenamente, o xamã revelou que desejava que todos se lembrassem de que, assim como naquela corriqueira tarefa, a superação dos desafios da aldeia jamais seria responsabilidade de uma só pessoa, mas de toda a tribo; de que a reversão do maltrato à natureza não viria do esforço de um homem ou de uma só nação, mas de toda a humanidade. Confessou ainda o xamã seu desejo de que todos acalentassem e disseminassem uma atitude responsável, cooperativa, de compartilhamento; de que todos cultivassem a vontade de servir... O jovem índio sorriu em sinal de compreensão do papel de um verdadeiro guerreiro...”

"Jovem guerreira, uma episódica conduta sua pode surpreendê-la. Talvez até a faça supor que ela não represente a sua essência. Na verdade, ela é uma declarada nuance de seu cerne, que se expõe à revelia de seu próprio consentimento. Essa episódica conduta é um gesto seu. Não importa o que esse gesto signifique, nem em que circunstância ele se manifeste. Ele jamais deixará de refletir você. Você real. Você acidental. Você possível ou você potencial, mas sempre você. É útil refletir sobre isso? Penso que sim! Essa ponderação pode fazer você se perceber mais desconhecida, expansível, surpreendente e instigante do que poderia imaginar... Tal como o universo..."

"Minha visão é a de que o tão propagado ‘poder de atração’ não seja uma mera e espantosa competência de que você dispõe, para 'produzir conquistas'. Penso que a vida não seja assim. O fenômeno da atração é admissível a partir da consciência de que determinadas conquistas já são possíveis, que elas foram naturalmente fecundadas no organismo universal e nele estão ganhando forma. Desse ponto é que você faz escolhas circunstanciadas e adota uma ‘conduta construtiva’ em direção ao que é irrefutavelmente possível, muitas vezes, provável. Não antes, quando o exercício do 'poder de atração' seria um mero e frustrado comando ao organismo universal. O que seria uma ‘conduta construtiva’? Talvez a assertividade de seu pensamento, a força de seu sentimento e o insistente concurso de suas ações, em um ambiente de inquestionáveis possibilidades..."

“Complexidades reais podem ser compreendidas e superadas. Complexidades imaginárias jamais, porque elas são elásticas, dissimuladas. Não permita que a sua sempre útil capacidade imaginativa camufle uma dificuldade real, mas sim que ela continue sendo uma infinita, sábia e amorosa conselheira...”

"Escolhas são feitas a cada instante. Procure não se preocupar se você fez a escolha certa. Não há escolha certa porque não há escolha errada. Há sim, êxito esperado e inesperado. Reflita sobre a possibilidade de vários observadores apreciarem, de mirantes diferentes, diversos cenários de uma mesma paisagem... Assim são suas escolhas... Prossiga!"
Disse a jovem guerreira, ao se aproximar do experiente índio: "Ao mesmo tempo em que desejo penetrar em meu chão, criar raízes em minha aldeia, tenho estímulos para me lançar em direção ao alto, expandir para os lados, avistar e experimentar novas paisagens... Pareço contraditória em minhas sensações..." Observou então o índio: "A árvore penetra no chão para evoluir em direção à Mãe Terra, ela se lança para o alto para elevar-se em direção ao Pai Céu, ela se expande em todas as direções para oferecer formas, cores, frutos e acolhedoras sombras. Talvez a árvore negue a sua contradição e afirme suas imensas possibilidades..."

"Não renuncie a um pedaço de você para se ajustar a uma circunstância de vida ou mesmo a alguém. Além de você se tornar essencialmente mutilada, em algum momento essa porção vital despertará do abandono que lhe foi imposto. Ignorando circunstâncias e pessoas, ela ferozmente ressurgirá... e desejará reviver em você..." 
O jovem guerreiro se aproxima do experiente índio e lhe diz: "Fico comovido ao observar a mágica expressão de paz e de interesse por tudo, em seus olhos..." Sorridente, segreda o velho índio: "Talvez seja porque eu admita e valorize a experiência da minha idade... e olhe a vida com a perspectiva de sua juventude..."
Diz o jovem guerreiro, ao se aproximar do afetuoso Xamã: “Desejo ser reconhecido pelos meus irmãos e pelos bravos guerreiros de outras aldeias, como alguém capaz de superar desafios, vencer as batalhas que empreender e respeitar os adversários derrotados...”
Carinhosamente, respondeu o velho índio: “Se é isso que você deseja, então faça o que é preciso fazer. Mas faça hoje! O reconhecimento e a reputação não são recompensas do que você tenciona fazer. O reconhecimento e a reputação se erguem sobre o que efetivamente você faz...”
Disse a jovem índia, contemplando o céu: Sentir-me como a águia... voar... fazer o que desejo... dizer o que penso... e estar certa naquilo que faço e digo... Ah... talvez essa seja a melhor expressão de minha liberdade! Sugeriu outra jovem guerreira que, ao seu lado, a escutava: Reflita sobre outras duas possibilidades: (I) A verdadeira expressão da sua liberdade pode ser a sua permissão interna para que os outros pensem, sintam, digam ou façam o que você não pensa, sente, diz ou faz... e mesmo assim eles possam estar certos.; (II) talvez a águia não aja como você imagina. Talvez ela use sua coragem, independência, mobilidade e liberdade para reconhecer, do alto de seu voo, as diversas possibilidades da mente e do coração humanos...
Apreensivo, disse o bravo guerreiro: "Como posso afastar as sombras que invadem meu sono, atormentam meu coração e se projetam para o meu horizonte?".  Acolhedoramente, responde seu companheiro: "Com um gesto simples e natural. Faça-o, neste instante. Olhe para o alto. Na direção do Sol. Reconheça o calor e a luz do Sol aquecendo e iluminando seu rosto, seu corpo, seu coração. As sombras que o inquietavam, você ainda não as vê, mas eu lhe asseguro, elas não estão mais à sua frente. A sua sombra e a de todos que se voltam para a luz do Sol, se projetam para trás..."
Observando o horizonte, acomodada sobre uma pedra, disse a jovem índia em voz alta: "Fiz grandes conquistas. Lancei-me à vida com entusiasmo e coragem, mobilizei todas as minhas forças, mas não consigo afastar a ameaça da perda. Isso me parece uma contradição...". Neste momento, uma águia que aquela cena observava,  aproximou-se e tal como uma mensageira do Grande Espírito, sussurrou: "A perda será tão doída quanto mais apaixonada for a entrega. Entretanto, a perda não é natural consequência da entrega, nem a sua negação. A verdadeira ameaça à entrega se ergue em você mesma: o medo...”

“À noite, ao deitar, percebi que me faltava contentamento. Pela manhã, ao levantar, percebi a mágica transformação. Animada, corri em direção a uma pequena pedra e nela subi. De lá, me foi possível admirar o horizonte. Nele, o sol desenhava um novo amanhecer. Recomeço. Entre mim e aquela revelação, o campo! A relva me parecia mais acolhedora e as flores mais avivadas, os córregos serpenteavam por entre os animais que corriam livres exibindo vitalidade, celebrando liberdade. Olhei para o alto, como há muito não fazia. Escutei o cântico dos pássaros, que jamais deixaram de visitar a aldeia. Em torno de mim, irmãs e irmãos guerreiros despertavam para mais um único dia. Notei, em cada rosto, um incondicional sorriso. Vivi, então, a instigante sensação de que havia muito por desvendar naquele e em cada dia de minha vida. Enfim, senti contentamento. Fruto da percepção da efemeridade, finalidade e grandiosidade da experiência humana. Sorri um íntimo sorriso e fiz a minha escolha: prosseguir... Por amor a mim... Por amor à vida...”

“Acordei cedo. A aldeia ainda dormia. Saí da tenda e me aproximei da fogueira que ainda ardia. Posso sentir as emoções da noite ao redor do fogo. Ali estive com meus irmãos e irmãs. Falamos de nossos sonhos, olhamo-nos, tocamo-nos, cantamos... Inspirados pela quieta claridade da lua, que a tudo assistia, olhamos em todas as direções. Sentimos a presença do Grande Espírito, que nos cercava, acarinhava e surpreendia. Planícies, montanhas e matas. Animais, fogo, vento... As águas dos rios, lagos e mares... Sons, cheiros, gostos, sensações táteis e visões... Imaginação... O tudo e o nada... O todo... Nós o sentimos porque nos preparamos para ver e sentir... Agora, no amanhecer, de pé ao lado da fogueira, sorrio ao realizar a indescritível simplicidade com que a indecifrável complexidade divina é revelada...”

“Índia guerreira, quando estiver diante de escolhas, não hesite, aja! No entanto, procure não ignorar que optar por um caminho implica abdicar de outro. Por isso, é aceitável admitir que a menor significação de uma escolha seja a dimensão da conhecida ou desconhecida renúncia que você faz. Não digo isso para dificultar seu gesto, mas para lembrar como a vida é. Se posso sugerir uma inspiração, procure não escolher apenas o urgente, mas sim o essencial. De qualquer forma, rejeite a inação. Admitir que a não escolha seja também uma posição, é escolher a contemplação. Aja! Sem hesitação! Sua plena experiência será consequência dos esperados e inesperados resultados das suas escolhas... Faça-as... Você mesma... e delas você será um genuíno fruto...”

"Bravo guerreiro, é inevitável que você se entristeça quando vê indiferença a todas as vibrações de vida do planeta e, em especial, ao futuro de seus pequenos irmãos e irmãs. É natural que aspirações de uma humanidade consciente e amorosa inspirem sua mente e coração. É compreensível que você sinta não ter forças para torná-las realidade. Assim mesmo, aja! Faça seu sonho transbordar sua mente e seu coração. Atribua a ele uma dimensão ativa, funcional. Compartilhe, com todos, o seu sonho para todos. Seus irmãos e irmãs das aldeias o acolherão. Vocês serão muitos sonhos reunidos. Farão nascer ‘o sonho de todos’... o “sonho coletivo”... sem o que não se inicia a essencial e grande transformação...“

“Por vezes, você lida com situações em sua vida de uma forma que parece não lhe fazer sentido e isso, em alguma extensão, inibe ou paralisa seu movimento... Reflita então sobre três questões: Sua maneira de lidar com tais situações precisa fazer sentido? O que é fazer sentido? Por que você não age e desvenda, na sua ação, o seu próprio sentido?”

"Penso que a felicidade não significa êxtase existencial e que também não seja  ausência de tristeza. Minha sensação é a de que ela é um estado de bem-estar do seu corpo, da sua razão, das suas emoções. Um estado de serenidade pela consciência da sua condição de espírito e de contentamento pelo reconhecimento de suas múltiplas possibilidades e potencialidades... Todos esses estados são fruto e semente de uma atitude de produtiva e prazerosa interação com todas as vibrações de vida, em qualquer conceito, tempo e lugar...”

"Linda guerreira, ser a melhor não deve ser o seu sonho, faça o seu melhor e você triunfará... Mas, se ainda assim em algo você deseja ser invencível, seja você mesma... Ser você mesma é algo em que ninguém a superará..."

"É simples admitir que o tempo resolva, pelo esquecimento, os problemas que não foram enfrentados. Não acredito que isso seja possível. Penso que novos 'enigmas existenciais' (para mim, problemas têm esse traço) se sobrepõem aos antigos. Por esta razão, tem-se a falsa sensação de que eles foram solucionados. Na prática, o que o tempo faz, involuntariamente, é amontoá-los sobre seus ombros e aí eles ganham o opressivo peso da urgência protelada e da essência ignorada. Não adianta evitar o enfrentamento, renunciar à resolução... Os problemas 'esquecidos no tempo' não sucumbem. Eles sobrevivem e crescem agravados pela inação. Reflita sobre o fato de que o tempo não resolve dificuldades 'esquecidas’... dificuldades antigas... Você é que se distrai com as novas...”

"Não procure respostas perfeitas... Procure perfeições nas respostas que puder encontrar..."

"Paixão é privação dos sentidos... Amor é apuração dos sentidos..."
Disse a bela índia: ‘Preciso saber em que deverei mudar para ser uma pessoa melhor do que tenho sido... Quem sabe, aprender mais sobre a simplicidade da suficiência e a complexidade do excesso? Descobrir a diferença entre dificuldades reais e imaginárias? Não ser parte das dificuldades, mas sim artesã das suas soluções? Desaprender arraigados hábitos não mais necessários, desejáveis ou prazerosos? Reconhecer que tenho priorizado o que me parece urgente em detrimento do que me é essencial? Falar menos... e mais silenciar? Ouvir menos... e mais escutar? Discernir entre a efemeridade do que é bonito e a eternidade do que é belo? Perdoar verdadeiramente? Amar... e não só sentir o amor? Oriente-me, amigo... São essas as perguntas que devo fazer?’
Sorrindo, responde o índio guerreiro: ‘Não... Essas não são as perguntas que você deve fazer... Essas já são as respostas que você precisa escutar... ’
Hesitantemente, admitiu a fragilizada índia: “Tenho medo de que meu companheiro, derrotado pelas armas inimigas, não volte dos campos de combate... Vários sóis e luas cortaram o céu... e a única sensação da vida que tenho é a da aflição causada pelos grilhões do medo, que aprisionam o meu espírito... Contradisse, amorosamente, o experiente guerreiro: “Você já percebeu que o concreto medo que hoje a maltrata, que a imobiliza, é uma intrincada imaginação de uma indesejável circunstância... e, ainda assim, no futuro? Não é o presente... não é realidade! É uma possibilidade sim... mas não uma certeza! Isso não sugere que o medo pode ser insidioso, desnecessário?... E que ele hoje controla a sua vida? Escolha um pensamento alternativo, portanto, um sentimento alternativo... e você voltará à vida... Quanto ao seu companheiro, o bravo guerreiro, neste momento ele está onde escolheu estar... Você também... A vida é assim... Uma sucessão de escolhas... Por que escolher precisamente o medo?

“Mais um novo amanhecer surgia no horizonte. Aproximei-me do velho índio que observava aquela paisagem. Contemplei sua serenidade. Como aquele homem podia transbordar tanta paz para a vida? Ele se voltou para mim e me sorriu com os olhos. Não... não com os olhos, com o corpo, com a alma. Jamais esqueceria aquele momento. Nada disse ou fiz e dele recebi o mais expressivo olhar que jamais conheci. Imaginei que o sorriso em seu olhar não era a revelação de sua quietude, mas, dela, a sua nascente. Permaneci em silêncio. Hesitantemente, sorri e com um tímido aceno, me despedi. Retomei o caminho da aldeia. Foi então que escutei sons familiares. Olhei para trás. Próximos do índio, lobos me observavam. Pareciam sorrir. Tudo ao meu redor parecia sorrir. Pura e poderosa ressonância... Nesses instantes, consegui sentir, pela fresta aberta pelo sorriso daquele índio, a magia da vida, a grandiosidade e a simplicidade de viver. Aprendi que para o recomeço, para um novo amanhecer, só preciso de meu sorriso...”
Entristecido, disse o jovem guerreiro: "Escolhi não seguir com meus irmãos para os campos de batalha. Devo confessar que tenho medo da opressão e humilhação da derrota...". Carinhosamente, respondeu o velho índio: "Não permita que o medo o subjugue! Vá! Tente alcançar seus irmãos! Ainda é tempo! Durante a cavalgada até eles, expulse de seu coração o medo que o protegeria de uma possível derrota para seus oponentes, mas não de uma irrecorrível derrota para você mesmo... Não escolha o medo de uma imaginável derrota, porque você estará renunciando a experiência de uma real e insubstituível vitória... bem longe dos campos de batalha...”

"Por que insisto em questionar as lágrimas que caem do céu que eu inventei em mim, se elas são chuvas essenciais que me fazem compreender a vida? Elas me fazem saber que nem sempre acerto, nem sempre erro, porque nem sempre sei o que é certo ou errado, senão o acerto e o erro que eu sinto em mim... Sim! Como substantivos e não adjetivos! O acerto e o erro individuais, estimulantes da noção da pluralidade de valores e de percepções de conduta! Para mim, o acerto está na consciência de que o erro nos faz crescer e isso é, inquestionavelmente, viver. O erro está na busca obstinada do acerto e isso é, tão somente, existir. Prefiro então o colorido erro da vivência ao pálido acerto da existência. Por acolher o erro e escolher viver, admito, então, prosseguir chorando as lágrimas que caem do céu que eu inventei em mim..."

"Não censure ou lamente escolhas feitas. Não há escolha certa, não há escolha errada... Muitos dos aguardados resultados de suas escolhas podem não significar a mais funcional circunstância para você. Da mesma forma, muitos dos imprevistos resultados podem, estes sim, representar as mais belas e gratas surpresas que você jamais considerou conhecer. Escolhas são escolhas. Busque percebê-las como legítimas, inadiáveis, indelegáveis e oportunas. São as linhas de sua história, escritas a cada tempo, a cada nova atmosfera existencial. Percebendo-as assim, não haverá nenhuma razão para você reescrever a sua vida. Talvez sim, hoje, amorosamente, reler a sua história..."
Comentou a jovem guerreira: "Quando formo uma avaliação sobre circunstâncias ou pessoas, dificilmente eu a mudo. Procuro ser coerente em minhas posições... Interrompeu o velho índio: "Sinto que tal atitude pode impossibilitar que sua avaliação enriqueça com a evolução do tempo. Ou mesmo pode perpetuar o que talvez não fosse, originalmente, a sua mais perfeita percepção das circunstâncias e das pessoas. Admitindo que o que digo seja acolhido por seu coração, reflita sobre a possibilidade da convivência do que seria, para você, minha coerente incoerência, com o que seria, para mim, sua incoerente coerência. Talvez isso seja mais do que um jogo de palavras... talvez seja uma forma de exercitarmos, eu e você, o que há de surpreendente no universo do previsível e imprevisível... Coerente com a incerteza do futuro e incoerente com a constatação do passado, serei ainda mais aventureiro: o que lhe dá a certeza de que o sol nascerá amanhã?"

"No horizonte que contemplo, as planícies parecem tentar tocar o céu. Certamente, é isso que elas aspiram. Mas não o alcançam. E pedem ajuda às montanhas. Suas mais perfeitas extensões. Assim como as planícies que admiro, gostaria de conhecer as minhas montanhas. Elas me possibilitariam tocar o infinito espaço azul que me envolve, vindo de todas as direções. Estou certo de que lá está o meu significado. Não a grande resposta, mas a melhor pergunta: Por que buscar nele, no distante espaço azul, o que posso encontrar em meu tão próximo coração?"

“Mulher guerreira, sua vibrante dimensão de ‘criança guerreira’ está sempre pronta para a travessura de provocar o ‘novo’, para desconcertar padrões, descobrir e revitalizar sensações. Use a sua emoção de criança para dar boas vindas ao 'novo', transgredindo a sua razão de mulher. Vibre a astúcia da criança e molde a prudência da mulher para o desconhecido, para a surpresa, para a renovação... para o início, para o reinício, para o original, para o antigo reinventado, para o inusitado, para a perplexidade. Sim, nada e ninguém ficam imunes à inquietante experiência do ‘novo’. Ele é para a mulher guerreira um ostensivo sinal da perfeita imperfeição e para a criança guerreira, simplesmente, uma imperfeita perfeição...”

"Por vezes, no primeiro instante ao acordar, você questiona seu entusiasmo, seu ânimo para mais um dia em que terá que lidar com você mesma, com a instigante complexidade das pessoas, com as expectativas afetivas, com os ambientes sociais, familiares e profissionais, e com as nem sempre estimulantes questões cotidianas... Esse córrego de dúvidas tem como nascente uma íntima pergunta que insiste em ser respondida: meus sonhos se realizarão? Eu lhe sugeriria perguntar: meus sonhos e eu nos encontraremos? Essa visão admite que tanto o seu milagre quanto seu esforço estão em movimento... e um na direção do outro. Os lobos nos ensinam isso. Ao chamá-los, eles se dirigem a você tão mais velozes quanto mais rápido você também caminha em direção a eles. Esse é um dos muitos milagres da criação que insistentemente estão à sua volta! Força! Aja! Sinta os lobos... caminhando em sua direção!”                                                                                         

"Não importa quem mais insistiu, quem mais distâncias percorreu, quem mais dificuldades superou ou mais renúncias precisou fazer. O que importa é que o Rio dos 
Encontros sempre existiu. O que importa é que nele vocês se descobriram. O que importa é que, agora, vocês estão nas mesmas águas, experimentando o mesmo leito. O que importa é que esse leito desenhe o seu constante e sinuoso caminho e que ele conduza vocês pelas mesmas margens, para o mesmo lugar. Isso é o que importa para quem alcança o Rio dos Encontros. Se um dia alguém perguntar por quais paisagens ele corre, simplesmente digam o que com ele aprenderam: o Rio dos Encontros cruza o seu caminho... sonhe suas águas, deseje conhecê-las... e prossiga..."

Diz o velho índio em voz alta: "Em alguns poucos momentos, eu admito ser um homem feliz... Tenho uma bela família, que é uma das muitas células de uma próspera aldeia, habitada por guerreiros e guerreiras com inquestionável noção da sua funcionalidade... Ao nosso redor, uma floresta rica em cores, aromas, sabores, sons e texturas... Sim, em alguns poucos momentos, eu admito viver a mais bela de todas as vidas..." Admirado e curioso, interrompe o jovem guerreiro: “Desculpe-me, mas você disse 'em alguns poucos momentos, eu admito...'. O que acontece em todos os outros momentos em que você não admite ser um homem feliz?” Revela, sorridente, o experiente índio: “Em todos os outros momentos, eu estou empenhado em ser feliz...”

"Ao lidar com qualquer circunstância, evite ter que escolher entre uma conduta organizada pela razão e outra inspirada pela emoção. Não me parece razoável isolar dimensões tão íntimas e de recíproca dependência. Permita que em sua emoção se abra uma fresta, para que o nexo possa por ela penetrar. Aceite que em sua razão também surja uma fenda, através da qual a sensibilidade possa se entranhar. 

Quando a objetividade sufoca a subjetividade, aquela subtrai da sua conduta a superior mulher que pulsa sua emoção. Quando a subjetividade domina a objetividade, aquela constrange a incansável guerreira que vibra sua razão. Assim, ao mesmo tempo e no mesmo espaço, seja mulher guerreira ou guerreira mulher, mas, seja sempre, a razão de ser guerreira e a emoção de ser mulher..."

"O que você tanto deseja pode não ser o melhor para você... Talvez seja útil refletir se os seus desejos têm sido expressões circunstanciais, têm sido ávidos por recompensas imediatas... Talvez seja também proveitoso você perceber que suas necessidades, essas sim, são estruturais, assemelhadas ao que eu chamaria de ‘sonho oculto’. Penso que ao satisfazer um desejo, você tem a doce experiência do êxtase existencial, seguida de uma sensação de vácuo, de “quase morte”. Ao contentar uma necessidade, conscientizada ou não, você experimenta o prazer da saciedade, seguida de uma sensação de suficiência, resultado do deleite adquirido, que se perpetua em si mesmo. 

Neste momento, duas questões me instigam: Desejo e necessidade seriam paralelos da paixão e do amor? A satisfação das suas necessidades poderia ser o seu melhor desejo?"
"Noite alta e fria. De mãos dadas, dois jovens guerreiros cruzam o riacho a caminho da aldeia. São felizes... e por simples razões. Eles percebem a existência de dois momentos mágicos: aquele em que renasceram para a experiência humana e aquele em que renascerão para o retorno à aldeia espiritual. Entretanto, a melhor razão para eles se sentirem felizes é a consciência do mágico e insubstituível intervalo entre aqueles dois momentos... a que eles chamam... vida!"

Disse ela: Reverencio os poderes da água e do fogo, mas me pergunto: o frescor das águas da chuva não anula o calor do fogo que aquece a aldeia? Responde o xamã: Bela guerreira, venha comigo. Aproxime-se da fogueira. Deixe-se aquecer. Agora, lance seu olhar para os horizontes da aldeia. Neles, perceba formas e essências. Dê-me sua mão. Delas, vamos nos aproximar. Mas caminhe dentro do córrego, junto das minúsculas belezas que o povoam. Sinta, sob seus pés, a textura das pedras que, aveludadas pelas transparentes águas, descansam no pequeno leito. Pronto... Deixe o córrego prosseguir seu percurso e venha até uma das generosas árvores, cujas sombras abrigam os animais e refrescam o caminho dos guerreiros e guerreiras que por aqui passam. Prove as frutas, tenha a experiência dos sabores. Olhe agora para o alto, para além dos pássaros que sobrevoam este instante. Inspire, calmamente, o inconfundível perfume da chuva que se aproxima. Sinta os pingos que já começam a tocá-la. Deixe-se molhar... Disse ela novamente: São instantes mágicos. Inesquecíveis. Lembrei-me da fogueira que aquece a aldeia. Em alguns instantes, ela se apagará com a chuva... Até que seja novamente acesa... Finalizou o xamã: Sim... 

Essa é a resposta... A fogueira sabe que tudo passa, tudo se transforma... Mesmo ela... Por isso, como você, silenciosamente, deixa-se molhar...
“Desejo muito a felicidade de uma pessoa e me empenho para isso. A felicidade dela me faz um bem enorme. A ponto de questionar se meu desejo não seria então egoísmo e se, por isso, ele deixaria de ser legítimo... Não sei se encontrarei, em mim, a resposta. Só sei que, egoisticamente ou não, legitimamente ou não, desejo muito a felicidade de uma pessoa e a felicidade dela me faz um bem enorme...”

“Atualmente, já é motivo de ponderação pelas mentes humanas, a questão de que não há um conjunto de valores morais que seja universal. O pensamento de Sócrates ensina que basta ‘saber o que é o Bem para praticá-lo’ e o de Platão proclama o conhecimento da ‘ideia geral do Bem’. Essas duas visões sugerem um sistema de valores coletivo e referencial... Entretanto, qual seria a fonte desse conjunto de valores, senão os valores individuais das mentes que o estruturaram? Sendo as pessoas singulares, não teria a ética, então, por decorrência, um caráter de pluralidade? Não seria por isso desaconselhável celebrar, adjetivamente, um indivíduo ético ou mesmo uma conduta universalmente ética, e sim celebrar, substantivamente, a ética de um indivíduo?”

“É uma de nossas intenções contribuir para que você seja plenamente capaz de uma experiência humana útil e prazerosa. Essa capacidade só pode ser alcançada depois de apagadas e lançadas ao universo, as experiências traumáticas, próximas ou remotas, impressas na sua atmosfera energética. É prudente dizer que isso não implica transferir, para o universo, inúteis resíduos energéticos. Os resquícios extraídos de seu ambiente energético são manifestações, ainda que caóticas, de lições aprendidas. 
Elas serão recicladas no laboratório cósmico e retornarão à atmosfera humana nas vestes do instinto, da intuição e da consciência... Essa é uma das divinas formas de preservar o ‘tesouro das imperfeições humanas’ e de descobrir, no limiar da imperfeição, a nascente da perfeição...”



Texto de Carlos Henrique Guimarães 

As mensagens acima foram por mim psicografadas a partir da orientação das entidades espirituais Xamãs Sherotáia Kê Takoshemí e Ererê.
*Postagem: Xamãs
*Imagens: Reprodução


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