terça-feira, 23 de junho de 2015

ONDE ENCONTRAR A LIBERDADE

 “Não se pode separar paz de liberdade porque ninguém consegue estar em paz a menos que tenha sua liberdade.”
Malcolm X


Por Davi Coimbra


Malcolm X, falei que escreveria mais sobre Malcolm X, e vou, e começo contando que Malcolm X, antes de se tornar ícone mundial do movimento negro, foi gigolô amador, assaltante profissional, traficante de drogas por conveniência e adicto convicto. Era líder de uma ativa quadrilha de assaltos a residências, aqui, em Boston. Um dia, porém, foi preso, julgado e condenado a uma pena pesada: 10 anos de reclusão.

Mas, para sua sorte, e para sorte da Humanidade, Malcolm acabou sendo enviado para uma colônia penal que não havia sido construída apenas para ser penal, e sim para ser correcional.
Bem. Fazia já algum tempo que ele constatara que homens lidos se expressavam e pensavam melhor, e os invejava por isso. Assim, decidiu que se transformaria, ele também, em leitor de livros. O que era factível: a penitenciária dispunha de uma grande biblioteca, doada por um milionário filantropo. O problema era que, quando entrava nos livros, Malcolm simplesmente não entendia o que estava escrito. Seu vocabulário se limitava à gíria dos negros manemolentes do Harlem e de Roxbury.

O que ele fez, então, a fim de melhorar a interpretação de texto, é algo extraordinário. Malcolm pediu um dicionário de inglês, um caderno e uma caneta à direção da penitenciária. E passou a copiar o dicionário, página por página, palavra por palavra, até os sinais. Em sua autobiografia, ele conta sobre o começo desse processo:
“Uma coisa engraçada: neste momento, a palavra que me surge à mente, daquela primeira página do dicionário, é aardvark, uma espécie de porco africano”.

Sabe que sempre tive vontade de fazer isso? Copiar e, por consequência, compreender todo o dicionário seria como saber o significado de tudo que há no mundo. Confesso, até, que cheguei a percorrer o A, mas, como não sou um Malcolm, não copiei todos os verbetes, só os que não conhecia. Como “aférese”, palavra bem linda, toda proparoxítona e requintada. Palavra de tese científica, de arrazoado de causídico, de relatório de pesquisa de sociólogo socialista, de artigo de psicanalista que gosta de escrever “empoderamento”. Aférese, por favor, é muito melhor do que empoderamento! Pena que aférese signifique o contrário da sua aparência. Aférese é a essência do coloquialismo. “Tá”, por exemplo, é uma aférese. Que decepção.

Mas o que importa é que, dentro do presídio, Malcolm teve acesso aos livros e à instrução de professores da Harvard e da Boston University, que davam palestras e cursos aos detentos. O presídio, para ele, foi um local de regeneração, não de degradação. No presídio, ele se converteu de bandido vulgar em herói de um povo.

Em um trecho de sua autobiografia, talvez sem perceber, Malcolm X dá um testemunho emocionante do poder do conhecimento sobre a alma do homem. Ele discorre a respeito de seus anos na prisão e conta que, entre as correspondências que escrevia e a leitura de livros, “os meses foram passando sem que sequer pensasse que estava preso”. E arrematou com uma frase que diz tudo o que há a dizer: “Para dizer a verdade, até aquele momento eu nunca fora tão verdadeiramente livre”.

Postado: Jornal ZeroHora
22 de junho de 2015



UM POUCO DA HISTÓRIA DE UM LIBERTADOR


A tragédia sempre foi uma constante na vida de Malcolm Little, que passou para a história como um dos grandes líderes dos negros norte-americanos com o nome de Malcolm X. Quando tinha apenas seis anos e brincava pelas ruas de Omaha, o seu pai, Earl Little, foi assassinado. Após sofrer um brutal espancamento, Earl Little teve o seu corpo atirado em uma linha de trem. Órfão (na época sua mãe fazia tratamento em um hospital psiquiátrico), Malcolm e seus sete irmãos foram morar em orfanatos. Pouco tempo depois, com uma irmã mais velha, foi morar em Boston. Depois, transferiu-se para o Harlem, bairro de maioria negra em Nova Iorque.


As únicas pessoas que realmente mudaram a história foram os que mudaram o pensamento dos homens a respeito de si mesmos.
Malcolm X


Na adolescência, trabalhou como engraxate e começou a beber, a fumar e a comercializar drogas, principalmente maconha, além de frequentar casas de prostituição. Escapou do serviço militar fingindo-se de "louco". Na mesma época, começou a praticar pequenos assaltos no Harlem. Com mais três amigos, todos muito pobres, passou a assaltar residências, até que acabou sendo preso, em 1946. Foi justamente na prisão que ocorreu uma grande transformação na vida de Malcolm X. De assaltante e vendedor de drogas, passou a estudar o islamismo, seguindo os ensinamentos de Elijah Muhammed, líder da "Nação do Islã". Ao sair da cadeia, em 1952, Malcolm X transformou-se em um dos mais carismáticos líderes negros dos Estados Unidos.


A imprensa é tão poderosa no seu papel de construção de imagem que pode fazer um criminoso parecer que ele é a vítima e fazer a vítima parecer que ela é o criminoso. Esta é a imprensa, uma imprensa irresponsável. Se você não for cuidadoso, os jornais terão você odiando as pessoas que estão sendo oprimidas e amando as pessoas que estão fazendo a opressão.
Malcolm X


Enquanto Martin Luther King apostava em uma resistência pacífica como arma para enfrentar o racismo, Malcolm X defendia a separação das raças, a independência econômica e a criação de um Estado autônomo para os negros. Ao lado de Elijah Muhammed, viaja pelos principais estados norte-americanos para pregar as suas idéias e defender a libertação dos negros.
O projeto não foi à frente, mas deu ainda mais fama ao ativista. Em 1964, já casado fundou a organização "Muslim Mosque Inc" e, mais tarde, a "Afro-American Unity". Um ano antes, após uma viagem para Meca, cidade sagrada dos muçulmanos, mudou o seu nome para Al Hajj Malik Al-Habazz. A partir daí, passou a defender uma posição conciliatória em relação aos brancos, fato que o deixou isolado, sobretudo em relação ao islamismo.


As pessoas não compreendem como toda a vida de um homem pode ser mudada por um único livro.
Malcolm X

No dia 21 de fevereiro de 1965, quando discursava no Harlem, Malcolm X foi assassinado com 13 tiros, ao lado de sua mulher Betty, que estava grávida, e de suas quatro filhas. A Polícia dos Estados Unidos não encontrou provas, mas sempre suspeitou da participação da "Nação Islã" no crime. As ideias de Malcolm X foram muito divulgadas principalmente nos anos 70, por movimentos como "Black Power" e "Panteras Negras". A vida do ativista norte-americano também ganhou documentários e filmes, sendo "Malcolm X", dirigido por Spike Lee, em 1992, o mais famoso.


Não há nada melhor do que as adversidades. Cada derrota, cada mágoa, cada perda, contém sua própria semente, sua própria lição de como melhorar seu desempenho na próxima vez.
Malcolm X


Al Hajj Malik Al-Shabazz
mais conhecido como Malcolm X

19/05/1925, Omaha, Estados Unidos
21/02/1965, Nova Iorque 

Fonte: UOL

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